Falavigna nega falha no Pan, se diz 100% e sonha com ouro em Londres

Natália Falavigna caiu logo na estreia do Pan-Americano para a americana Lauren Hamon. Foto: Ivan Pacheco/Terra

Natália Falavigna caiu logo na estreia do Pan-Americano para a americana Lauren Hamon

O ano de 2011 foi marcado por dois resultados distintos para a taekwondista Natália Falavigna, medalhista de bronze na Olimpíada de Pequim, em 2008. Por um lado, a atleta sofreu uma precoce eliminação no Pan-Americano de Guadalajara e caiu logo na estreia, no combate contra a americana Lauren Hamon. Por outro, conseguiu a classificação para Londres 2012 na última chance que teve, durante a seletiva de Querétaro, no México.

A volta após uma lesão que afastou a atleta das lutas por quase dois anos faz Falavigna considerar o saldo final do ano uma "vitória". A derrota no Pan é vista como "extremamente normal", parte de uma escolha no calendário: "tive duas competições muito próximas e tive que priorizar uma delas. Estava sem competir há bastante tempo", explica ela, em entrevista ao Terra.

Natália diz ainda que nunca temeu ficar fora da Olimpíada do próximo ano e alegou já estar completamente recuperada da contusão. Com tantas boas notícias, a taekowndista, que atualmente treina no Rio de Janeiro com o Fluminense, se anima e sonha em conseguir em Londres um resultado até melhor do que o obtido na China.

Confira a entrevista completa:

Terra - Você foi bronze em Pequim. Sonha em repetir o feito em Londres ou até melhorar a posição?
Natália Falavigna - Na verdade, todo atleta, quando vai para uma competição, sonha em vencer. Não é diferente comigo, mas antes disso tem muito trabalho. Neste momento, procuro focar no meu calendário, no tempo que eu tenho para treinar. Sei que se eu trabalhar bastante vou me preparar para qualquer desafio. É bom sonhar, mas antes é trabalhar.

Terra - Quais serão as suas principais rivais?
Natália Falavigna - Na Olimpíada, eu sempre coloco todo mundo, não pode descartar ninguém. São 15 adversárias, já começa em rodadas preliminares com adversários bons, todo mundo tem resultado expressivo. Na Olimpíada são só 16, que tiveram resultados expressivos por todo o mundo. São os melhores.

Terra - Como será a preparação? Já há planos de viagens, torneios que disputará?
Natália Falavigna - Tenho algumas coisas sim. Neste momento, estou dando uma baixa no treino. Vou começar a treinar mais forte em janeiro, mas vou ter bastante viagem, algumas competições testes para ver como eu me sinto. Vou ter um calendário bem cheio de viagens e de pessoas para treinarem comigo, estou bem feliz com o meu calendário.

Terra - Você conseguiu a classificação na última chance, durante a seletiva de Querétaro, no México. Como havia se preparado psicologicamente, sabendo que não poderia mais falhar?
Natália Falavigna - Eu na verdade fiz tudo ao contrário da maioria dos atletas, para mim sempre a coisa foi mais drástica. Eu não podia falhar porque não participei da seletiva continental. Eu sabia que meu tempo era precioso. Tive um tempo bem grande para me preparar psicologicamente, mas estava bem preparada. Não senti pressão, o tempo para me preparar me deixou confiante.

Terra - Você temeu ficar sem a vaga para a competição?
Natália Falavigna - Não, o atleta não pode ter medo. Pode estar ansioso, ter qualquer outro tipo de reação, mas para o atleta de luta o medo é um pouco forte. A não ser que você não treine. Quando você trabalha, as coisas vêm naturalmente. Eu sabia que era questão de trabalho e de mim, daquilo que eu fizesse.

Terra - Você e o Diogo Silva, os dois mais famosos atletas brasileiros desta modalidade, falharam no Pan de Guadalajara. Por que isso aconteceu?
Natália Falavigna - Bom, eu não sei quanto ao Diogo e não posso falar por ele, já que não treinamos juntos. No meu caso, para mim foi extremamente normal. Não uso a palavra falhar, tive duas competições bastante próximas e priorizei uma delas. Estava sem competir há bastante tempo e tinha muitas novidades, como o colete eletrônico. Pelo calendário, priorizei a seletiva e usei os Jogos Pan-Americanos com seriedade, querendo vencer, mas não estava no auge da minha performance. Frustrou um pouco, mas dentro do planejamento para mim foi uma vitória.

Terra - O que acha dos coletes eletrônicos? Como está a adaptação a eles?
Natália Falavigna - O colete eletrônico é um sistema que veio para ajudar e modernizar o taekwondo, vai ser melhorado ano a ano. Eu acho bom porque ele tem só um critério, pra mim é o certo. A pontuação vai depender de onde é o chute e da potência dele. Os pontos têm que vir de uma determinada maneira, senão não vale. Cabe aos atletas aprenderem a trabalhar com ele.

Terra - O taekwondo é um esporte que às vezes fica marcado por erros de arbitragem, como com o Márcio Wenceslau, que ficou fora da Olimpíada recentemente. Como você avalia isso?
Natália Falavigna - Acho que no meu caso eu nunca culpei a arbitragem por nenhum resultado, porque aquilo me fazia notar no que eu deveria ter feito. Os erros acontecem, com o Marcio Wenceslau foi bastante grosseiro. No taekwondo existe o replay, o cartão para reclamar, são armas que o treinador tem para reverter. Cabe aos técnicos usar com sabedoria o cartão. Não podemos ser passivos aos erros, mas não podemos reclamar demais. Senão vai virar igual no futebol. É muito fácil um técnico dar a derrota para o árbitro.
(Wenceslau foi eliminado na semifinal dos 58 kg da seletiva de Querétaro pelo mexicano Damian Villa Valadez. O Brasil entrou com um recurso contra o resultado da luta, mas não conseguiu mudá-lo. A comissão técnica alega que o mexicano chutou o ar no último ponto contabilizado na luta, a dois segundo do fim.)

Terra - Como foi a recuperação das graves lesões no joelho que te afastaram dos combates por quase dois anos?
Natália Falavigna - Eu estou contente, estou 100%. Estou treinando bastante, isso ficou no passado, é só treinar e continuar minha rotina normalmente. Aconteceu, foi algo que me engrandeceu bastante. Eu cresci com a lesão.

Terra - Como você avalia o treinamento pós-lesão com o técnico americano Jean López?
Natália Falavigna - Eu gosto muito do treinamento do Jean. Considero o melhor técnico do mundo, fui pelo 'Time Rio', que é um projeto da Prefeitura do Rio de Janeiro. Para mim foi ótimo, estou muito contente e ansiosa pelo ano que vem. Frutos virão, ele trabalha muito bem, é um ótimo profissional.

Terra - Como você vê atualmente a preparação da Seleção com relação a de outros países?
Natália Falavigna - A nova administração da confederação tem feito várias mudanças boas. Hoje temos patrocinador, temos apoio, têm projetos inovadores. Acredito que o presidente tem feito as mudanças necessárias, acredito que eles têm uma visão de onde querem chegar e o que querem fazer. Acredito muito na capacidade que eles têm de mudar o taekwondo brasileiro.

Terra - Como e quando começou no taekwondo?
Natália Falavigna - Comecei com 14 anos. Não comecei muito nova, mas sempre quis ser atleta. Uma amiga do inglês me chamou para ver um treino em uma academia do lado da minha casa. Meu primeiro professor me disse que, se eu continuasse treinando, seria campeã mundial juvenil em dois anos. Achei o máximo, continuei e realmente consegui esse título dois anos depois. Foi o primeiro titulo brasileiro na categoria. O taekwondo me escolheu, mas eu sempre quis ser atleta.

Terra - Acredita que a modalidade evoluiu depois das conquistas suas e do Diogo?
Natália Falavigna - Eu acho que isso é um trabalho constante, posso ter alguma participação. Não trabalho sozinha. Trabalho com uma equipe muito grande. Acho que o taekwondo é maior que Natália e Diogo, mas fico feliz se meus resultados ajudaram a tornar o esporte mais conhecido.

Terra - Há algum novo talento para o Rio 2016?
Natália Falavigna - O Brasil tem muitos talentos, mas precisamos trabalhá-los para que virem realidade. É muito provável que tenhamos bons atletas para o futuro.

Terra - Como está a preparação com o Fluminense? Tem recebido bastante apoio?
Natália Falavigna - É bacana, o Brasil é o pais do futebol. Inevitavelmente, é importante que seja associado e leve os esportes menos conhecidos para o dia a dia das pessoas. Espero que outros clubes possam investir e fazer com que a estrutura funcione como uma empresa.

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