Sem estrangeiros no Brasil, vela volta à realidade após Olimpíada

(Foto: Reprodução)


A disputa da vela na Olimpíada do Rio pode não ter servido para despoluir a Baía de Guanabara. Mas proporcionou uma situação inédita para os velejadores do país: a vinda de atletas estrangeiros que passaram o ciclo olímpico treinando e competindo na cidade. Um movimento normal para que os velejadores aprendam sobre as condições da sede dos Jogos. Mas que se tornou mais intenso que os ciclos anteriores por se tratar de uma raia bem complicada e cheia de nuances.


Um reflexo desta situação era a presença de estrangeiros na Copa Brasil de Vela, cuja quarta edição terminou no último sábado, em Porto Alegre. As três primeiras, no Rio e em Niterói, eram praticamente torneios internacionais, com a participação das maiores potências da vela mundial, como Grã-Bretanha, Austrália, França, Holanda e Nova Zelândia. Desta vez, apenas 10 dos 69 barcos eram de fora do Brasil, sendo nove de países da América do Sul.

Sem adversárias no país, as campeãs olímpicas da 49erFX, Martine Grael e Kahena Kunze precisaram disputar a 49er entre os homens, em um barco com a vela maior do que a usada pelas mulheres. As duas terminaram em terceiro entre cinco barcos, atrás de Marco Grael e Carlos Robles, e de Robert Scheidt e Gabriel Borges. Curiosamente, Martine velejou contra dois parentes: o irmão Marco e o primo Nicholas, parceiro de Enzo Accioly.

Homens e mulheres também competiram juntos na 470. Dentre os 15 barcos, Fernanda Oliveira e Ana Barbachan ficaram em terceiro lugar, oito posições à frente do outro barco feminino seguinte na tabela, de Juliana Duque e Marina Arndt, que ficaram em 11º. Na RS:X feminina, Patrícia Freitas confirmou o favoritismo e na prancha masculina, Albert Carvalho venceu na ausência de Ricardo Winicki, o Bimba, contundido. Quarto lugar na Olimpíada, Jorge Zarif dominou amplamente na Finn e venceu as oito regatas.

- É bem diferente. A gente está vivendo outra realidade. Não dá para comparar um ciclo em casa e um no Japão. Vamos ter que fazer mais treinos e campeonatos fora. Pelo fato de muitos gringos virem a gente fazia um intercâmbio muito bom - disse Zarif.

A Confederação Brasileira de Vela (CBVela) foi uma das poucas entidades esportivas a manter os patrocínios depois dos Jogos Olímpicos, com pouca perda. Na Lei Agnelo/Piva houve redução de 20% no repasse do governo através do COB. Para compensar a falta de sparrings no Brasil, há projetos específicos, de acordo com o diretor executivo da CBVela, Daniel Santiago. Martine e Kahena vão treinar com neozelandesas este ano. O técnico da dupla, o espanhol Javier Torres, foi mantido, mas agora apenas em torneios internacionais e cuidando também da 49er. Peça-chave no desempenho de Zarif, o técnico espanhol Rafael Trujillo tem sua renovação encaminhada.

- Vamos programar vários treinamentos no exterior, além das competições. No ciclo passado não precisava porque muita gente de fora estava aqui. Não tem um brasileiro que possa fazer frente ao Jorginho, à Martine e Kahena, ou à Fernanda e Ana. É difícil ter no mesmo país, mesmo onde há investimento 10 vezes maior do que o nosso, dois velejadores campeões mundiais numa mesma classe - disse Santiago.

A busca por talentos também é uma maneira de formar "sparrings" para treinarem com os principais atletas, aumentar a concorrência interna nas classes mais fortes e formar valores para os Jogos de 2020 e 2024. Um programa que acompanha esses atletas ajuda a identificar as necessidades de cada um. A realização da Copa Brasil de Vela Jovem junto à dos adultos é uma maneira de motivar a garotada. Para Tóquio, o Brasil não tem mais as vagas garantidas nas dez classes, por ter sido país-sede. Santiago mira na classificação para, ao menos oito delas. Conta com a baixa média de idade da atual equipe. Mas admite que não é possível distribuir igualmente o investimento em todas elas.

- É aquela história do leão que tem que escolher a zebra. Você não pode pegar todas, tem que escolher uma.

Globo Esporte

Comentários