Jogador supera depressão para atuar na NFL

Enquanto repórteres se reuniam no início deste mês, disseram a Shawn Andrews, o duas vezes jogador de linha ofensiva do Pro Bowl que combateu a depressão, que ele novamente parecia estar com sua familiar jovialidade. E, de fato, ele parecia descontraído. Ele usava um penteado com uma crista de cor ferrugem. E estava na frente de um armário com uma imagem do Bob Esponja Calça Quadrada no formato de uma bola de futebol ao lado de uma fotografia de seu mais novo filho, JaShawn.

Mas ele não estava de total acordo com a avaliação alto-astral.

"Existem as coisas boas e as ruins", disse Andrews, 26 anos, sobre si mesmo. "Se vocês conhecerem a canção 'Tears of a Clown', ela meio que descreve um pouco de meu passado até agora."

Ele quase começou a cantar antes de se conter.

Mais tarde, em uma entrevista em 3 de maio no minicampo dos Eagles, Andrews, com seus 1,95 metro e 149,7 quilos, fez algo que atletas quase nunca fazem - principalmente jogadores de linha ofensiva da NFL, protegidos por capacetes, almofadas e uma cultura machista que desencoraja qualquer reconhecimento de vulnerabilidade. Ele falou longamente sobre sua luta contra a depressão, que revelou no último verão americano após uma temporada no campo de treinamento.

Andrews pesava 104,3 kg aos 12 anos e disse que lutou com sua auto-imagem por muito tempo, tendo sido importunado por seu tamanho e por ter crescido pobre em Camden, Arkansas. Ele disse que antes de sua temporada de estréia em 2004 recebeu notícias de que um amigo de infância estava planejando matá-lo por dinheiro. Afirmou que passou a se arrepender dos gastos excessivos em carros caros e outras baboseiras que hoje considera supérfluas.

Ele disse que se sentiu radiante com o nascimento de seu filho há 13 meses e meio, mas que se perguntava se ele estava pronto para ser pai, prometendo a si mesmo que estaria presente para JaShawn de uma forma que seu próprio pai não esteve.

Talvez o mais revelador foi o fato de Andrews acreditar que, de certa forma, tenha sido forçado ao futebol americano quando estava no sexto ano por ser grande, não porque ele tinha uma paixão particular pelo esporte. Ele disse que nunca havia assistido a um jogo de futebol americano profissional inteiro, a menos que ele mesmo estivesse jogando.

Após quebrar a fíbula direita em sua primeira temporada e passar a maior parte da última temporada com uma lesão nas costas, Andrews disse temer que as lesões físicas do futebol possam impedi-lo de jogar com seu filho no futuro. Ele vai desencorajar JaShawn de participar do esporte, afirmou.

Andrews disse que havia consultado um psiquiatra no último verão em Little Rock, e depois na Filadélfia, mas que não está freqüentando a terapia atualmente. No entanto, revelou que estava sob antidepressivos, além do medicamento Adderall, para tratar um distúrbio de déficit de atenção.

Ele disse compreender que algumas pessoas tenham pouca compaixão por um atleta profissional tão bem pago e que alguns de seus colegas talvez sintam que ele esteja exagerando, ou usando a depressão como desculpa para uma indiferença no futebol. "Tudo bem", ele disse. "Eu não trabalho para eles. Eles não pagam minhas contas. Eles não cuidam da minha família."

Ele contou que recebeu parabéns de alguns jogadores na liga que lhe disseram sentir a mesma coisa e de outros que afirmaram se encorajar por sua confissão.

"Muita gente diz que o futebol deve ajudar a canalizar sua raiva e agressividade", disse Andrews. "Mas não é tão fácil quanto as pessoas pensam."

Seu sistema de apoio cresceu. Os Eagles contrataram seu irmão mais velho, Stacy, e seu colega de quarto do tempo da faculdade em Arkansas, Jason Peters, para jogar ao lado dele na linha ofensiva. Para acomodar as contratações, Andrews passou de right guard para right tackle, pelo menos por enquanto. As mudanças ocorreram por razões técnicas, não devido à saúde mental de Andrews, disse o treinador Andy Reid. Andrews disse que estava relutante em revelar essas questões para as pessoas mais próximas dele porque "queria uma opinião neutra". Mesmo assim, disse, ter seu irmão e Peters por perto "definitivamente é um conforto".

Em comparação ao ano passado, disse Andrews, "estou numa situação melhor, mentalmente e fisicamente". Stacy Andrews disse que Juan Castillo, treinador da linha ofensiva dos Eagles, falou durante um treino recente que havia visto Shawn rir e se divertir pela primeira vez em um longo período.

No minicampo, Shawn brincava com freqüência com os repórteres. Quando lhe perguntaram seu peso exato, ele disse, "estou esperando para comer".

O humor, disse mais tarde, é uma estratégia antiga que usa para compensar sua falta de confiança e infância pobre. É uma das razões por ele se identificar com Bob Esponja Calça Quadrada, um personagem que mantém um sorriso mesmo quando azucrinado.

"É difícil para um estudante aprender quando está preocupado com quem está zombando de suas roupas e quem o atormenta todos os dias", disse Andrews.

Sua mãe, Linda, criou três filhos com US$ 300 por semana trabalhando na fábrica da International Paper em Camden, disse Andrews, e depois perdeu o emprego após o fechamento da usina, logo após ele entrar na Universidade de Arkansas. Um dia no treinamento, lembrou Andrews, ele começou a chorar durante os exercícios de alongamento e não conseguia se mover. Ele largou cedo a faculdade, dizendo que não podia suportar ver sua mãe batalhando para manter as luzes acesas.

Após assinar com os Eagles em 2004, ele comprou um Mercedes-Benz para sua mãe e disse que passou a gastar em futilidades para si, comprando um Hummer, jóias caras e, mais tarde, um Rolls-Royce.

"Comprei um monte de coisas que pensei serem boas para incrementar quem eu realmente era, fazer as pessoas gostarem mais de mim, tentar impressionar ao invés de ser esperto", disse Andrews. "Desperdicei US$ 300 mil em um carro. Tive sorte em conseguir ter uma compreensão sobre mim antes que fosse tarde demais."

Os outros começaram a tratá-lo de forma diferente, disse. Antes de sua temporada inicial, ele disse que um antigo amigo de Arkansas lhe perguntara: "Quanto você vale?". Depois, o amigo pediu ajuda para pagar pensão alimentícia, aluguel e financiamento do carro. Após se recusar, contou Andrews, o amigo o convidou para ir ao campo caçar. Outro amigo lhe alertaria mais tarde que estavam armando para que ele levasse um tiro no que pareceria um acidente de caça, disse Andrews.

A história não pôde ser apurada de forma independente. Rich Moran, agente de Andrews, disse por e-mail que desconhecia o incidente.

Com a aproximação da temporada 2008, Andrews disse que foi pego por um turbilhão pessoal. O nascimento de seu filho trouxe animação e certa preocupação.

"Tinha uma nova obrigação, e vou cumpri-la por causa da minha experiência passada", disse Andrews se referindo à sua criação em um lar sustentado apenas pela mãe.

Ao mesmo tempo, Andrews disse que seu interesse pelo futebol começou a enfraquecer.

"Estava festejando, bebendo para tentar esconder o que realmente estava acontecendo", disse. "Temporariamente, isso me ajudou. Num panorama mais amplo, na verdade não ajudou."

Ele se negou a ir para um campo de treinamento. O time disse que ele seria multado com US$ 15 mil diários. Quando Moran lhe contou quanto dinheiro ele poderia perder, Andrews disse que sua reação foi: "E daí?".

No início de agosto, quando boatos sobre sua ausência aumentavam, Andrews contou a repórteres que estava sofrendo de depressão, havia procurando ajuda profissional e estava sob medicação. Ele acabou voltando para o time, mas participou de apenas dois jogos antes de descobrir uma hérnia de disco em suas costas, que exigiu cirurgia.

Por um breve período na temporada passada, ele disse que parou de tomar os remédios.

"Estava me sentindo ótimo, para mim, tudo havia terminado", disse Andrews. "Cara, tudo desabou. Nunca fui um grande fã de medicação, mas neste momento é crucial para mim." "Até agora, fora da temporada, Raid disse que Andrews está "fazendo um ótimo trabalho". Andrews disse que a mudança para a posição de tackle poderia rejuvenescer sua carreira.

Mesmo assim, seu entusiasmo renovado é relativizado pelo fato de ter perdido quase duas temporadas inteiras devido a lesões.

"Toda angústia física que passei, o pensamento de não ser capaz de levantar e brincar com meu filho, tudo isso faz minha mente continuar todos os dias", disse Andrews.

Ele vê alguns de seus colegas deixando coisas de lado e depois lutando para consertá-las e recuperá-las.

"Não quero viver dessa forma", disse Andrews.

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