"Time dos sonhos" debuta em Minas contra fama de clube de fachada

Famoso por ser utilizado pelo empresário Eduardo Uram para o registro de jogadores, o Tombense Futebol Clube abre um novo capítulo em sua peculiar história no futebol a partir desta quarta-feira. Em seus domínios, recebe o Atlético-MG e inicia a disputa do Campeonato Mineiro pela primeira vez em 99 anos de vida. A missão do clube de Tombos seria muito menos difícil se ele pudesse contar, dentro de campo, com todos os jogadores que tem sob contrato, o que dá origem à expressão "clube de fachada". 

Entre os nomes que são registrados no Tombense e outros em que atua como procurador, o empresário carioca Eduardo Uram tem mais de 100 jogadores em sua empresa, a Brazil Soccer. Dos 20 clubes da primeira divisão, pelo menos 16 tem negócios com Uram entre os profissionais. A lista inclui nomes como Wellington Nem e Jean, do Fluminense, Ibson e Léo Moura, do Flamengo, Diego Souza, do Cruzeiro, Cortez e Aloísio, do São Paulo, Lucas Marques, do Botafogo, e Cícero, do Santos. Tamanha capilaridade faz de Uram um dos principais, senão o principal agente desse momento. Um contexto em que o Tombense está diretamente envolvido. 

"Nós fazemos nossa parte comercial, os clubes grandes também fazem a dele", minimiza Lane Gaviolle, presidente do Tombense, em entrevista ao Terra. "Não é verdade que (os jogadores) não passam aqui, que nem conhecem o Tombense. Muitos saíram da nossa base", alega. Dos nomes citados acima, entretanto, só Cícero e Léo Moura, ainda nas categorias de base, tiveram rápida passagem pelo clube. As apostas para 2013 são mais modestas: o meia Joílson, ex-Botafogo e São Paulo, e o atacante Adeílson, ex-Fluminense e Ipatinga. Ainda assim, a folha salarial supera R$ 400 mil e é uma das mais altas do interior mineiro.

Nós fazemos nossa parte comercial, os clubes grandes também fazem a dele. Não é verdade que (os jogadores) não passam aqui, que nem conhecem o Tombense. Muitos saíram da nossa base

Wellington Nem, do Fluminense, está entre os principais jogadores ligados ao empresário Eduardo Uram, responsável pelo Tombense, que estreia na primeira divisão mineira. Foto: Getty Images

Wellington Nem, do Fluminense, está entre os principais jogadores ligados ao empresário Eduardo Uram, responsável pelo Tombense, que estreia na primeira divisão mineira.

Uma parte significativa dos recursos, também adquiridos graças à parceria com Uram, auxiliaram para o investimento de R$ 2,5 milhões para a estreia no Campeonato Mineiro. A maior parte foi canalizada no Estádio Antônio Guimarães de Almeida, cuja capacidade saltou de mil para 10 mil lugares. Para encher o estádio, seria necessária a presença de todos os moradores da cidade modesta de Tombos. Não por acaso, o município está a cinco quilômetros da divisa de Minas Gerais e o Rio de Janeiro. 

Foi por lá que, em 1999, o então iniciante empresário Eduardo Uram encontrou um porto seguro para registrar seus jogadores. O Tombense, que não tinha atividades de futebol profissional, passou a constar como proprietário de nomes até com histórico na Seleção Brasileira. Tudo isso enquanto seu estádio recebia, no máximo, mil torcedores por jogo. As críticas, ainda assim, incomodam Lane Gaviolle. Ex-jogador, ele diz ter passagens por Vasco, Volta Redonda e Tupi de Juiz de Fora no passado e ressalta a ligação com Tombos.  

"O Eduardo Uram é um parceiro que temos desde 1999. Ele está sempre comigo. Fizemos uma parceria, continuamos, reestruturamos o clube, fizemos centro de treinamento com recursos de compra e venda (de jogadores). Uma vez me perguntaram se eu caí de para-quedas", reclama Lane. "Sou da cidade, fui atleta profissional, comecei no Tombense com 13 anos. Não é um clube ambulante. Temos parceria com empresários. Não vejo problema algum. Temos os impostos em dia, tudo passa pela CBF, é registrado e federado. Os salários estão em dia", 

Quem é Eduardo Uram

Procurado pelo Terra via assessoria de imprensa, Eduardo Uram não se pronunciou sobre a estreia do Tombense na primeira divisão mineira e sobre sua relação com o clube desde 1999. Dois anos antes, com observações na base do Botafogo, em que pinçou Léo Moura, e com duas vendas do São Paulo ao Arsenal, da Inglaterra, Uram pavimentou o início de uma carreira sólida.

Já foi o agente mais dominante no Flamengo, já teve parceria e direitos de mais de 20 jogadores do Figueirense e hoje também levou sua força até o Estado mais forte. No clássico entre Santos e São Paulo, domingo na Vila Belmiro, 11 nomes dos elencos que se enfrentaram tinham ligação com Uram. Como dito acima, ele tem relações diretas com pelo menos 16 dos 20 clubes da Série A.

Terra

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