Saiba como o Irã virou uma potência no vôlei e bateu o Brasil três vezes

Jogadores do Irã em treinamento durante a Liga Mundial

Quem ligou a TV no último dia 7  de junho para assistir ao jogo de vôlei entre Brasil e Irã, pela Liga Mundial, provavelmente se assustou em ver a surra que os tricampeões mundiais levaram de um país com história pífia nesse esporte. Para provar que aquilo não foi obra do acaso, houve ainda outros embates na Liga Mundial, e o time árabe levou a melhor em três dos cinco.

Os iranianos terminaram o torneio na quarta colocação e estarão no Mundial da Polônia, que ocorre a partir do próximo sábado. Podem ser novamente uma pedra no sapato do time verde e amarelo. Mas, afinal, como o Irã se transformou de uma hora para a outra em uma das potências de um esporte tradicionalmente dominado por poucas nações? Até o "boom" de 2014, o melhor resultado da equipe era um 19º posto em apenas quatro participações em Mundiais. Olimpíadas? Jamais pisaram em uma quadra com o famoso logo dos cinco anéis.

Mas o bom resultado nesta temporada não foi construído tão repentinamente assim e é consequência de um trabalho iniciado há muitos anos com a procura de profissionais tarimbados e iniciado desde as categorias de base. Com investimento e intercâmbio com países com tradição, o Irã tentou aprender tudo o que poderia. Procuraram, por exemplo, o Brasil para jogos amistosos e viagens entre as seleções de base para aprender.

Os frutos passaram a ser colhidos rapidamente, e a equipe asiática passou figurar entre os protagonistas de torneios de garotos. Na década de 2000, foram três vezes ao pódio em diferentes competições até culminar no título mundial sub-19, em 2007.

"Nós praticamos intercâmbio com eles. Recebemos eles algumas vezes. Na sequência, fomos para o Irã para fazer amistosos. Eles também investiram em fazer um campeonato mundial de jovens lá e fizeram intercâmbio com muitos treinadores do mundo todo. Foi um investimento para que pudessem ter grandes jogadores. E tudo isso mediante muita aceitação popular. Sempre que íamos jogar lá os ginásios estavam cheios. Eles gostam muito de vôlei", disse Percy Oncken, técnico que já comandou várias seleções de base do Brasil e acompanhou a ascensão iraniana.

Depois disso, no entanto, os resultados em âmbito profissional ainda demoravam a vir. A geração que despontou e colheu bons resultados na juventude já estava formada, mas parecia faltar a mão de alguém experiente não para revelar e ensinar, mas para fazê-los competir contra as potências. "Em um primeiro momento eles relutaram e optaram apenas por técnicos locais. Depois, para o aprofundamento, partiram para um nome estrangeiro", lembrou Oncken.

Em 2011, a Federação Iraniana conseguiu trazer um nome de peso do vôlei para alavancar a sua seleção a bons resultados. Trata-se do argentino Julio Velasco, que agora voltou a comandar o time de seu país.

Velasco foi o responsável por comandar a Itália na década de 1990 em uma era vencedora e hegemônica de cerca de sete anos. Fez do time azul duas vezes campeão mundial, cinco vezes campeão da Liga e uma vez campeão da Copa do Mundo, entre outros. Um velho conhecido de duelos contra o Brasil.

"A chegada do Velasco com certeza mudou a mentalidade de jogo, porque ele é um cara que consegue transformar talentos em vitória. Fez isso na Itália, e no Irã conseguiu fazer o que dava dentro do material humano que tinha. Sempre ouvi dizer que ele é um cara que não tem uma  relação tão intensa com jogadores, é algo mais frio, mas que é uma pessoa que entende muito de tática", falou Maurício, bicampeão olímpico e campeão mundial com a seleção brasileira.

Com Velasco, o Irã foi bicampeão asiático (2011 e 2013) e conseguiu ganhar seus primeiros jogos contra equipes competitivas na Liga Mundial de 2013, ao bater Itália, Cuba, Sérvia e Alemanha. Mas não avançou em uma chave que tinha a forte Rússia.

Chegou então esse ano lá o sérvio Slobodan Kovac, campeão olímpico em 2000 como jogador pela extinta Iugoslávia. Ele vinha de bons trabalhos no clube italiano do Umbria e no Radnick, da Sérvia.

Sua escolha não foi somente pelo bom trabalho como treinador, já que ele teve passagem pelo Irã como jogador na liga local entre 2004 e 2006. Entre suas marcas registradas, está a de um discurso sem medo dos principais rivais. Em suas falas, nunca procura colocar seu país em uma posição abaixo, seja contra o rival que for.

Em uma das duas vezes que perdeu para a seleção brasileira, não se importou com o fato de o revés ter sido diante do tricampeão mundial e que jogava em casa. Esbravejou. "Se o Brasil joga como Brasil, ninguém vê a bola. Mas o Brasil jogou mais ou menos e por isso estou bravo. O Brasil não venceu, e sim nós que perdemos", falou para o jornal Lance.

O Irã será testado no Mundial a partir de domingo, quando enfrenta a Itália. A missão na competição não será das mais fáceis, já que está em um grupo que tem também Estados Unidos, França, Bélgica e Porto Rico, e apenas quatro avançam.

UOL Esporte

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