Japão adota o judô como filosofia de vida e vira ícone no esporte

O país que criou o judô e que desenvolve o esporte como filosofia de vida.

Foi como se a Idade das Trevas tivesse se abatido sobre o esporte nacional.

“Em 11 torneios olímpicos o Japão nunca tinha deixado de ganhar um ouro no masculino”, lembrou Kosei Inoue.

Nenhum campeão olímpico entre os homens em Londres. Apenas uma entre as mulheres: Kaori Matsumoto, na categoria leve. O que aconteceu com o país que mais conquistou medalhas olímpicas no judô? São 72, e 36 de ouro.

Kosei Inoue, um ídolo nacional, três títulos mundiais, campeão olímpico em 2000, foi chamado para apagar esse incêndio e assumiu o comando técnico do time masculino com uma visão ousada.
"Faltou adaptação técnica. Quisemos usar as técnicas originais, não nos preparamos para enfrentar adversários de escolas diferentes. Isso é reflexo de um esporte que se tornou internacional e que, às vezes, tem que aprender com os estrangeiros", explicou Kosei Inoue.

E 133 anos depois de ter sido criado por japoneses para japoneses, um orgulho nacional se viu diante da necessidade de dialogar com o resto do mundo. E o curioso é que isso representa uma volta às origens, ao século XIX, período em que o país abriu os portos e as mentes, a Era Meiji.

Aproveitando esse momento de mudanças, Jigoro Kano decidiu incorporar às artes marciais antigas novos conceitos de educação e esporte. Esse momento é considerado o nascimento do judô moderno. Quando os rituais deixam os templos e vão para as escolas e academias. A mais importante delas, fundada pelo próprio Kano, existe até hoje. E se chama Kodokan.

Mas a luta desenvolvida por Jigoro Kano era diferente. O Judô, tradução de "caminho suave", era algo além de simplesmente sobrepor-se ao adversário.

Esse espírito aproximou o professor do Comitê Olímpico Internacional. Kano tornou-se o primeiro japonês membro do COI, mas ele morreu em 1938, sem ver o esporte que criou ser incluído pela entidade nas Olimpíadas, em Tóquio, 1964.

"A essência do judô criado pelo professor Kano está na força física e mental do homem. Acho que a tradição se perde se o atleta se afasta dessa filosofia apenas porque ganhou uma medalha, como se o objetivo já tivesse sido cumprido", disse um japonês.

A Kodokan, hoje instalada em um moderno prédio da capital japonesa, recebe visitantes internacionais e judocas de todas as idades. Mas a filosofia também está presente nas menores academias, entre os menores praticantes.

Ao normatizar a modalidade, Kano também exportou cultura. Os nomes dos golpes, por exemplo, nunca foram traduzidos, mantiveram-se no idioma original. E assim, separar judô e Japão é impossível. Sejam quais forem os resultados das competições.

"Graças ao professor Kano, o judô surgiu e eu estou aqui. Por isso, o reverencio todos os dias e levo a minha vida com os ensinamentos dele na minha cabeça", contou Ami Kondo.

Com três títulos mundiais, no ano que vem Ami Kondo será uma das principais adversárias da brasileira Sarah Menezes, atual campeã olímpica.

O judô está tão incorporado no cotidiano da sociedade que para ser policial no Japão, mesmo aquele guarda de trânsito, é preciso, por pelo menos um ano, se submeter às aulas. Os melhores representam a corporação em campeonatos nacionais e internacionais.

"O judô ajuda muito no dia a dia dos policiais porque exige disciplina. E, além disso, ensina a ter também a gentileza, bondade e comunicação", afirmou um judoca.

Em outras palavras:

"O maior aprendizado que tive no judô é ser sempre duro comigo mesmo e bondoso com os outros", declarou outro lutador.

E assim o judô segue os passos se seu criador. Um caminho de aprendizado nas vitórias e derrotas, um caminho suave.

Jornal Nacional

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