8 questões que o evento-teste da vela da Rio 2016 precisa responder

(Foto: Marcelo Fonseca/Estadão Conteúdo)















O Rio de Janeiro recebe, a partir de sábado, o segundo evento-teste da vela para os Jogos Olímpicos de 2016. Com o aumento das críticas à Baía de Guanabara, e as admissões oficiais de que as metas de despoluição não serão atingidas, os oito dias de regatas ganharam uma importância enorme. Existem oito perguntas que precisam ser respondidas até o próximo sábado:

1. E a reforma da Marina da Glória?

A sede da vela nos Jogos ainda está em reforma. Os ajustes incluem uma capacidade maior para barcos (o número de vagas sobe de 240 para 655), a construção de um estacionamento subterrâneo e uma diminuição no número de lojas da área comercial. Como o local passou por uma série de problemas, entre eles a mudança do concessionário responsável pela reforma em si, isso já era esperado. Ainda assim, é estranho perceber que a Rio 2016 fará dois eventos-teste para a vela, mas a sede propriamente dita da modalidade só será testada durante os Jogos Olímpicos.

2. A água da Baía de Guanabara é melhor no inverno?

A Marina pode não estar pronta, mas as raias em que as medalhas serão disputadas já estão definidas. E esse é o grande ponto de interrogação do Aquece Rio (como o Comitê Organizador chama os eventos-teste). A grande aposta da Confederação Brasileira de Vela para defender a realização da modalidade dentro da Baía de Guanabara é a época do ano. No inverno, chove menos. Com menos água, o volume de lixo empurrado para o curso dos rios que deságuam na baía é menor. Com isso, menos detrito flutuante vai aparecer nos locais em que os barcos vão, de fato, velejar. Essa aposta deu certo em 2014, quando o primeiro Aquece Rio foi um sucesso.

3. Nove ecobarreiras darão conta?

Além da aposta climática, o Governo do Rio de Janeiro também depende do funcionamento do sistema de ecobarreiras (redes que seguram tudo o que passa flutuando) nos rios para evitar que o lixo chegue ao meio da Baía de Guanabara. O problema é que esse sistema foi o pivô de uma das maiores polêmicas do programa de despoluição da Baía nos últimos meses. O governo resolveu reformar esse projeto, que já não seria eficiente. Tentou contratar o Projeto Grael para tocar a limpeza, sem sucesso. Fez, então, uma licitação. A empresa ganhadora, porém, foi contratada muito tarde e não poderá implantar as 17 ecobarreiras previstas para o evento que começa neste sábado. O governo fala em cinco novas estruturas prontas, mais quatro que já estavam sendo usadas. Em entrevista coletiva na terça-feira (11), porém, o secretário estadual da Casa Civil, Leonardo Espíndola, disse que nenhuma delas estaria 100% em funcionamento.

4. Os ecobarcos emprestados serão usados apenas durante o teste?

Por causa do atraso no projeto de barreiras, o governo estadual também criou um plano de emergência para o evento teste. A Secretaria do Ambiente já tem dez ecobarcos atuando na baía recolhendo o lixo flutuante que passa pelas redes de proteção. Mas, de acordo com Leonardo Espínola, mais dez embarcações particulares foram "emprestadas" para aumentar a proteção das seis áreas de regata que serão usadas no evento. Será o primeiro teste do sistema de monitoramento do lixo flutuante da Pro Oceano, a empresa gerenciadora dos ecobarcos. Esse sistema tem como objetivo identificar as regiões com maior acúmulo de resíduos e orientar a posição de cada barco para que a coleta seja mais eficiente.

5. Como serão os testes das raias fora da baía?

Mesmo com tanta ênfase na defesa da Baía de Guanabara, a Rio 2016 vai testar uma terceira raia montada em alto-mar para as Olimpíadas. Além das áreas de competição de Copacabana e Niterói, foi montada mais uma próxima à Ilha do Pai. Com isso, o evento-teste contará com seis raias, três dentro da Baía (Ponte Rio-Niterói, Escola Naval e Pão de Açúcar) e três fora (Copacabana, Niterói e Ilha do Pai). Coordenador técnico da CBVela, o bicampeão olímpico Torben Grael defende a iniciativa. Segundo ele, é necessário ampliar as opções para os Jogos, para evitar dias em que o vento impede a realização de regatas.

6. E o esgoto na Marina da Glória?

Na área das regatas pode não existir grande preocupação com a qualidade da água. Mas o mesmo não pode ser dito sobre a Marina. Na área para o estacionamento de barcos, existe uma saída de esgoto não tratado. Dejetos do centro e da zona sul do Rio caem diretamente nas águas que os velejadores são obrigados a cruzar para chegar às raias olímpicas. Para resolver esse problema, o governo do Rio de Janeiro iniciou a construção de um sistema de coleta de esgoto no entorno, mas essa obra só fica pronta entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016. Para atenuar o problema, porém, está sendo feita uma biorremediação do esgoto: são usadas algas, fungos e bactérias para amenizar efeitos da poluição em um local específico. Esses organismos reagem quimicamente com poluentes e reduzem a contaminação da água.

7. Os velejadores vão passar mal?

No fim de julho, a agência internacional AP publicou uma extensa reportagem falando sobre os riscos de saúde para quem compete na Baía de Guanabara. Segundo o texto, os níveis de vírus e bactérias presentes nas águas do local representam riscos graves à saúde para os atletas que vão competir por lá. O velejador austríaco David Hussl, da classe 49er, disse que é comum ter febre e diarreia durante os períodos de treino no Rio, mesmo tomando precauções (uma delas é limpar o rosto com água mineral sempre que levar jatos de água da baía no rosto). Membros da equipe inglesa de vela já disseram a jornais locais que existem recomendações de levar enxaguante bucal nos barcos durante os treinos, para limpeza em casos semelhantes.

8. Búzios é uma ameaça?

Com tudo isso, a campanha para que a vela deixe o Rio de Janeiro e seja disputada em Búzios começou. E de maneira oficial: há uma semana, o Búzios Convention & Visitors Bureau divulgou uma nota pedindo que a modalidade seja disputada na cidade do norte do estado – antes, as manifestações pró-mudança eram atos isolados de atletas. "Quando o governo disse que não conseguiria atingir a meta, nós fizemos essa correspondência oferecendo Búzios como opção. Receber 8 a 10 mil turistas é bastante tranquilo para a nossa cidade. A partir do momento que confirmaram que não iam fazer a limpeza começamos a intensificar isso", disse Thomas Weber, vice-presidente do Bureau. A campanha, porém, não deve avançar muito: o Comitê Organizador diz que não existe chance de mudança. O Comitê Olímpico Internacional também descarta a sugestão.

UOL Esporte

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