Partidários de Chávez querem fechar campos de golfe

O movimento político do presidente venezuelano Hugo Chávez encontrou um novo alvo: o golfe.

Depois de uma breve diatribe do presidente contra o esporte em discurso na TV um mês atrás, funcionários do governo de Chávez nas últimas semanas tomaram medidas preliminares para fechar dois dos mais conhecidos campos de golfe venezuelanas, em Maracay, uma cidade de guarnições militares, e em Caraballeda, uma cidade costeira.

"Vamos deixar bem claro", disse Chávez durante um pronunciamento ao vivo em seu programa de TV. "O golfe é um esporte burguês", disse, repetindo a palavra "burguês" como se estivesse engolindo óleo de rícino. Depois prosseguiu, zombando do uso de carrinhos de golfe como prática que ilustra a preguiça de seus praticantes.

As amplas nacionalizações e confiscos de ativos pelo governo se estenderam bem além do setor petroleiro e envolvem torrefações de café, fazendas de pecuária e fábricas de processamento de tomate.

Caso o fechamento dos campos de golfe prossiga, o número de campos fechados nos últimos três anos será de nove, diz Julio Torres, diretor da Federação Venezuelana de Golfe. Um projeto na ilha Margarita, concebido pelo arquiteto norte-americano Robert Trent Jones Jr. e planejado como principal clube de golfe da América do Sul, foi cancelado devido a problemas financeiros.

A maioria dos campos fechados fica nas regiões petroleiras, perto de Maracaibo, no oeste da Venezuela, e no Estado de Monagas, a leste, e foram construídas inicialmente para servir aos norte-americanos que trabalhavam no setor. O expurgo de dissidentes que Chávez promoveu na estatal venezuelana de petróleo despertou suspeitas sobre os campos de golfe, vistas como baluartes das velhas elites.

A escassez de moradias também está influenciando o governo, disse Chávez no mês passado, ao questionar por que havia tantos cortiços em Maracay e ao mesmo tempo a pista de golfe e o terreno do Hotel Maracay, uma joia decadente da arquitetura modernista construída nos anos 50, se estendiam por 30 hectares em uma área muito procurada. "E só para que alguns poucos burgueses e pequenos burgueses possam jogar golfe", declarou em seu programa de TV.

Em apoio a Chávez, conhecido fã de beisebol, a mídia estatal venezuelana iniciou uma campanha contra o golfe.

Mario Silva, o acerbo apresentador de um programa de TV chamado "Navalha" (ele se parece com Bill O¿Reilly, se você conseguir imaginar O¿Reilly falando diante de imagens de Jesus, Chávez e Fidel Castro), disse aos seus telespectadores que o golfe não passava de um esporte de elite.

Os partidários de Chávez já atacaram o esporte no passado. Juan Barreto, ex-prefeito de Caracas, tentou tomar o controle da pista do Caracas Country Club para construir milhares de casas populares no terreno, em 2006. A proposta causou disputa entre os chavistas, o nome pelo qual os seguidores do presidente são conhecidos. Depois de uma batalha judicial, Barreto terminou por recuar.

Os críticos da campanha contra o golfe apontam que o principal aliado da Venezuela, Cuba, está avançando na direção oposta. Investidores canadenses e europeus querem construir até 10 novos campos de golfe em Cuba, como parte da campanha do governo cubano para elevar as receitas do turismo.

"A China tem mais de 300 campos de golfe, e veja o que está acontecendo aqui", diz Torres, da federação de golfe, citando outro país comunista com o qual a Venezuela mantém relacionamento cordial. "Estamos caindo de 28 para 18 campos".

Em Maracay, os funcionários estão estudando construir casas populares no terreno do clube, ou criar lá o campus da Universidade Bolivariana de Chávez. Em Caraballeda, há planos avançados para transformar a pista de golfe em parque infantil.

Chávez, de sua parte, diz não ter planos de proibir o golfe. "Respeito todos os esportes", disse. "Mas há esportes e esportes. Vocês não querem que eu acredite esse é um esporte popular, querem?". E ele mesmo respondeu: "porque não é".

nova marcação: Golfe

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