Futebol brasileiro está de cabeça para baixo em um ano atípico

Marcelo Oliveira, técnico do Cruzeiro - Washington Alves/Divulgação 

Marcelo Oliveira, técnico do Cruzeiro

O Campeonato Brasileiro de 2013 é a exceção para várias regras do futebol brasileiro. Foram colocados em xeque argumentos fortes como a necessidade de um craque para um time ser campeão e a relação entre os altos investimentos e os resultados em campo. É um torneio fora da ordem tradicional. A questão agora é saber se essa temporada é um ponto fora da curva ou vai iniciar novas tendências.

O virtual campeão Cruzeiro questiona a figura do craque que lidera um exército de jogadores medianos e disciplinados. O time de Marcelo Oliveira tem um punhado de bons jogadores, mas nenhum fora de série. "Minha preocupação principal não era ter um talento inquestionável. Eu precisava de jogadores talentosos que aprendessem a marcar. Essa foi a nossa orientação para termos um time diferente dos outros", diz o treinador, perto de conquistar o primeiro título nacional.

Trata-se de um contraponto ao Cruzeiro vencedor da Tríplice Coroa, dez anos atrás, que era liderado por Alex, ao Fluminense de 2010, conduzido por Conca, e ao São Paulo de Rogério Ceni, tricampeão em 2006, 2007 e 2008. Por outro lado, a história protagonizada pelo Cruzeiro neste ano lembra a do Corinthians de 2011. Em 2013, o Fluminense encabeça a lista das exceções negativas e pode ser o primeiro rebaixado no ano seguinte ao da conquista do título. Quem mais chegou perto disso até hoje foi o Corinthians, que caiu para a Série B em 2007, dois anos depois de levantar a taça.

O torneio também inverte a ordem tradicional no que se refere ao desempenho de jogadores e técnicos. A lista dos principais artilheiros inclui surpresas como Éderson, Hernane, William, Gilberto e Fernandão. Estrelas como Fred, Luis Fabiano e Pato ficaram para trás. "Se o time estiver bem organizado, fica fácil fazer gols. A artilharia independe do time, que pode ser grande, médio ou pequeno", explica William, da Ponte Preta, vice-artilheiro do campeonato, com 14 gols, três a menos do que Éderson.

No caso dos treinadores, a inversão de valores é ainda mais impressionante. Vanderlei Luxemburgo foi demitido ontem depois de escorregar com o Fluminense até a zona da degola. Abel Braga, Paulo Autuori, Dunga e Mano Menezes estão desempregados. Vale lembrar que os dois últimos foram os técnicos da seleção antes de Felipão.

Estão no alto da gangorra Vágner Mancini, vice-líder com o Atlético-PR, o próprio Marcelo Oliveira e Enderson Moreira, que levou o Goiás a brigar pelo G-4. Ney Franco, por sua vez, deu a volta por cima após ter sido demitido pelo São Paulo e briga por vaga na Libertadores com o Vitória. "É difícil explicar o momento de cada treinador. Tudo é dinâmico. Depende da postura dos jogadores, da estrutura de trabalho e do apoio da torcida. No meu caso, está dando tudo certo", diz Ney.

O centro do poder do futebol também está mudando de lugar. Depois de 15 anos, o futebol paulista pode ficar fora da Libertadores. Apenas São Paulo e Ponte Preta (pela Copa Sul-Americana) têm chance de salvar a pátria paulista. Além disso, Ponte e Portuguesa podem ser rebaixadas. Por outro lado, três clubes que estavam na Série B no ano passado fazem ótimas campanhas: Atlético-PR, Goiás e Vitória. Para o goleiro Weverton, do Atlético-PR, essa situação serve de lição para todos os clubes. "Quando um time sobe, geralmente fica a interrogação sobre como vai ser o ano seguinte. Muitos nos colocaram como candidatos ao rebaixamento, mas demos a volta por cima e agora colhemos os frutos."

SOBE E DESCE DO BRASILEIRÃO

FESTA DOS MODESTOS
Atlético-PR, Goiás e Vitória estão fazendo ótimas campanhas sem muitos recursos. Curiosamente, os três times estavam na Série B no ano passado e mostraram grande poder de reação.

'RICOS' SEM PROTAGONISMO
Equipes com grandes orçamentos sofrem no torneio. O atual campeão, Fluminense, está na zona de rebaixamento, enquanto Corinthians e Internacional, que investiram bastante, também decepcionam suas torcidas.

GOLS DE BAIXO CUSTO
O Brasileirão mostrou para a torcida o poder de fogo de jogadores pouco badalados como Éderson (Atlético-PR), Gilberto (Portuguesa), Hernane (Flamengo) e William (Ponte Preta). Os quatro estão no topo da artilharia do campeonato.

ARTILHEIROS EM QUEDA
Quatro atacantes com passagem pela seleção brasileira e muito badalados ficaram devendo: Luis Fabiano (São Paulo), Fred (Fluminense), Pato  (Corinthians) e Leandro Damião (Internacional).

SUCESSO SEM BADALAÇÃO
Marcelo Oliveira levou o Cruzeiro ao título, Vagner Mancini fez o Atlético-PR decolar no Brasileirão, Ney Franco colocou o Vitória no topo e Jayme de Oliveira está brilhando no Flamengo.

'PROFESSORES' PATINAM
Vários técnicos de currículo invejável falharam. Foi o caso de Vanderlei Luxemburgo (Grêmio e Fluminense), Abel Braga (Fluminense), Paulo Autuori (São Paulo), Dunga (Internacional) e Mano Menezes (Flamengo).

Estadão

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