Bom Senso se defende de "elitismo" e aceita reduzir salários

Todos terão que fazer um sacrifício, disse o palmeirense Fernando Prass Foto: Alan Morici / Terra

Todos terão que fazer um sacrifício, disse o palmeirense Fernando Prass

Desde suas origens em setembro de 2013, o Bom Senso FC, movimento criado por jogadores para propor melhorias no futebol brasileiro, tem sido alvo de críticas - desde torcedores, incomodados com atletas que não estariam "focados" no futebol, até ex-jogadores e dirigentes, como Vampeta e Eurico Miranda, que classificaram o grupo como "elitista" e preocupado em reduzir o número de partidas para uma classe que ganha muito bem.

No seminário da última segunda-feira, porém, o movimento detalhou suas propostas para o fair play financeiro, que evitaria o atraso de salários que assola a maior parte dos clubes brasileiro, e a ampliação do calendário para as equipes menores, que muitas vezes ficam em atividade durante somente três ou quatro meses no ano. O meia Alex, do Coritiba, comemorou o passo dado para que a visão de alguns críticos sobre o Bom Senso mude.

"A palavra 'elitista' nós ouvimos muito desde setembro do ano passado, quando nos reunimos, e fico feliz que esteja saindo essa imagem", disse ele. "A expectativa (de engajamento dos clubes) é a melhor possível. Claro que não sabemos o tamanho desse passo, se vão ser passos grandes ou menores. Mas com os dirigentes que tivemos condição de conversar e trocar ideias, eles se colocaram no mínimo à disposição de nos entender".

E se a implantação efetiva do fair play financeiro, com punições a times que atrasam pagamentos e limites impostos sobre os gastos de um clube com o futebol, resultar em uma readequação da remuneração para os jogadores de futebol de elite? Segundo os membros do movimento, todos estão dispostos a encarar uma redução nos salários, se a nova realidade de mercado assim exigir.

"Já foi muito conversado, isso de jogar menos e ganhar menos", disse o goleiro Fernando Prass, do Palmeiras. "Não é o Dida ou eu quem vamos dizer quanto vamos ganhar, é o mercado. Tendo clubes com gestões mais equilibradas, sem prejuízo anual, (o jogador) vai trabalhar em uma equipe melhor financeiramente, e pode ter futuramente ganhos maiores que hoje. Clubes sanados pagam e se organizam melhor. Até os clubes se equilibrarem financeiramente, o mercado vai ditar uma diminuição de salários, mas para melhorar todos têm que fazer um sacrifício".

Muitos dos membros do Bom Senso provavelmente não sofreriam efeitos da possível implantação do fair play financeiro - que, segundo o cronograma ideal do movimento, entraria plenamente em funcionamento a partir de 2016. Prass, por exemplo, tem 35 anos; Alex tem 36, Dida tem 40, Rogério Ceni tem 41. Mas o goleiro Roberto, da Ponte Preta, 34 anos, reiterou que o objetivo é em longo prazo: combater o endividamento e o atraso de pagamento dos clubes.

"A gente quer que o clube trabalhe em cima do que ele ganha. O meu clube, a Ponte Preta, paga em dia e faz um esforço para isso. Não é justo que eu ganhe R$ 10 mil no clube A, venha o clube B e me ofereça R$ 70 mil, eu vá para o clube B e não receba meu salário. O clube A foi prejudicado, porque perdeu um atleta de forma injusta, e o atleta também", disse o goleiro.

Sem propostas para o futebol feminino

Questionado sobre propostas e melhorias para outros "ramos" do futebol, como o futebol feminino, o futsal e o beach soccer, o zagueiro Juan, do Internacional, afirmou que o Bom Senso está focado somente no futebol masculino por ora. "Neste primeiro momento, queríamos levantar essas duas bandeiras (calendário e fair play financeiro). Depois que a gente conseguir essas reivindicações, queremos apoiar todo mundo que joga futebol, mas ainda não tem como ajudar todas as classes. Se Deus quiser, lá na frente a gente vai conseguir".

Terra

Comentários