Domínio de Hamilton pode esbarrar em pontos dobrados e duelo interno na F1

Lewis Hamilton leva banho de champagne após vencer GP da Espanha

 

Depois do GP da Espanha, domingo, muita gente dentro e fora da F1 já compara a atual temporada com a de 1988, quando Ayrton Senna e Alain Prost eram companheiros de equipe na McLaren-Honda. A exemplo de 1988 com a McLaren, vencedora de 15 das 16 etapas do Mundial, a Mercedes agora domina o campeonato: ganhou as cinco primeiras provas.

Mas há uma diferença fundamental entre o que ocorre hoje e há 26 anos: enquanto Senna e Prost alternavam as vitórias, este ano Lewis Hamilton venceu as quatro últimas etapas, Malásia, Bahrein, China e Espanha. Seu companheiro, Nico Rosberg, ganhou apenas a corrida de abertura, em Melbourne, na Austrália. Foi segundo nas demais.

Em 1988, após as cinco primeiras provas, Brasil, San Marino, Mônaco, México e Canadá, Senna havia estabelecido as cinco pole positions. Mas não marcou pontos no Brasil, por trocar o carro titular pelo reserva depois da hora máxima permitida antes da largada, em razão da quebra do trambulador, e em Mônaco, por cometer o erro mais famoso da carreira: com um minuto de vantagem para Prost, segundo colocado, bateu na curva que antecede o túnel. Nas outras etapas Senna foi primeiro no GP de San Marino e do Canadá e segundo no do México.

Prost ganhou três vezes, Brasil, Mônaco e México, e acabou em segundo em San Marino e no Canadá. O terceiro colocado, Gerhard Berger, da Ferrari, havia sido segundo em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, quinto em Ímola, segundo em Mônaco, terceiro no circuito Hermanos Rodriguez e não marcado pontos em Montreal.

O terceiro colocado no campeonato, hoje, Fernando Alonso, da Ferrari, recebeu a bandeirada em quarto nas duas primeiras provas, Austrália e Malásia, foi nono em Bahrein, terceiro em Xangai e sexto domingo, em Barcelona.

Senna bem atrás de Prost

A classificação do Mundial em 1988 era esta: Prost em primeiro, com 39 pontos, seguido por Senna, 24, e Berger, 18. Senna estava atrás de Prost, portanto, 15 pontos, o equivalente a uma vitória e um segundo lugar, pelo critério de distribuição de pontos em 1988: 9 para o vencedor; 6, segundo colocado; 4, terceiro; 3, quarto; 2, quinto, e 1, sexto. E Berger tinha 21 pontos a menos de Prost, ou duas vitórias e um quarto lugar.

A situação hoje é distinta. Hamilton venceu 80% das etapas (4 em 5) e Rosberg, 20% (1 em 5). Há menos competitividade entre os dois pilotos que dispõem do carro potencialmente capaz de vencer as 19 etapas do campeonato. Mas a diferença entre ambos é bem menor que a existente entre Senna e Prost em 1988.

Hamilton lidera a classificação com 100 pontos, seguido por Rosberg, 97, enquanto Fernando Alonso, da Ferrari, vem em terceiro, com 49. Há apenas 3 pontos entre Hamilton e Rosberg, diante dos 16 de Senna para Prost num critério bem mais rigoroso para se marcar pontos. O desafio de Senna, estatisticamente, era bem maior que o de Rosberg agora.

Se Hamilton não marcar pontos em Mônaco, por exemplo, próxima corrida, dia 25, basta um oitavo lugar para o alemão da Mercedes reassumir a liderança do campeonato. É bem diferente da vitória e segunda colocação necessárias para Senna, em 1988, com Prost fora dos pontos também. Já Alonso está a 51 de Hamilton, ou duas vitórias e uma décima colocação, um pouco menos do exigido para Berger em 1988.

Notícia boa para a F1

Esse quadro demonstra matematicamente que apesar do domínio de um piloto este ano, Hamilton, a disputa pelo título pode demorar, para o bem da F1. E há um fator lembrado por Niki Lauda, diretor da Mercedes, para o UOL Esporte, na Espanha, que redimensiona de forma radical a luta para ser campeão do mundo: "Na última prova, em Abu Dhabi, os pontos vão ser dobrados".

É por essa razão que Rosberg comenta com aparente tranquilidade as quatro derrotas seguidas para Hamilton. "Não me desestruturam", afirmou, no Circuito da Catalunha. "Definitivamente não gosto de perder a disputa para Lewis. Mas ainda estou perto dele na classificação e temos muitas outras corridas pela frente", disse, confiante, em Barcelona.

Uma curiosidade: se fosse aplicado o critério de pontos de 1988 na atual edição do Mundial, Hamilton e Rosberg permaneceriam separados por três pontos, como hoje: 36 para o inglês (0+9+9+9+9) e 33 (9+6+6+6+6) para o alemão.

Em 1991 houve uma mudança de critério de distribuição de pontos, em 2003 outra e a partir de 2010 a mais radical de todas acabou sendo adotada, com pontos bem mais elevados e para os dez primeiros colocados: 25 (1.º), 18 (2.º), 15 (3.º), 12 (4.º), 10 (5.º), 8 (6.º), 6 (7.º), 4 (8.º), 2 (9.º) e 1 (10.º).

A Mercedes claramente pode vencer todas as 19 etapas este ano. É consenso na F1. O título de construtores já é tido no meio como definido. Soma 197 pontos dos 215 possíveis (91%) e a Red Bull, segunda, 84. São nada menos de 113 pontos de diferença. A cada etapa uma equipe pode somar no máximo 43 pontos, 25 do primeiro lugar e 18 do segundo. E a diferença de performance da Mercedes para os demais cresceu assustadoramente no GP da Espanha.

Mas na disputa pelo título de pilotos a regularidade de Rosberg, a confiabilidade do seu carro, o critério de pontuação e a distribuição de pontos em dobro na prova de encerramento, no Circuito Yas Marina, em Abu Dhabi, dia 23 de novembro, podem estender a definição do campeão do mundo de 2014 para até bem mais tarde do que se imaginava em princípio.

E aqui a temporada deste ano pode voltar a ser semelhante a de 1988. Senna conquistou seu primeiro título na F1 na 15.ª e penúltima etapa, ao vencer de forma espetacular o GP do Japão, em Suzuka. E nem havia pontos em dobro na corrida de encerramento, em Adelaide, na Austrália, duas semanas mais tarde.

UOL Esporte

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