Conmebol deixa futuro do Boca na Libertadores nas mãos do árbitro do jogo

"Esperamos a súmula". Foi assim, de forma sucinta, que Rober Bello, representante da Conmebol na Bombonera, se manifestou a respeito do vexame do Superclássico, suspenso depois que um torcedor do Boca atirou uma espécie de gás de pimenta nos jogadores do River Plate. A postura do oficial, que só repete o que ele mesmo fez em campo, deixa o futuro dos argentinos na Libertadores em aberto.

Durante o jogo, o árbitro passou um bom tempo com a carga da decisão nos ombros. Depois que o gás foi disparado, no retorno do intervalo, o debate sobre a continuidade do jogo iniciou-se, envolveu jogadores e dirigentes e só seria definido uma hora depois. O árbitro Dario Herrera, segundo a Conmebol, era o único que tinha o poder de suspender o confronto.

Ele não o fez, porém, antes de se consultar com a Conmebol. Minutos antes do anúncio da suspensão, o próprio Roger Bello foi visto conversando com o trio de arbitragem para supostamente "aconselhá-los". Agora, é Herrera e seus pares que iniciarão o caso do Boca de acordo com o que relatarem na súmula do confronto.

Na mídia do país vizinho, brotam diferentes teorias. Nos dois extremos, o Boca Juniors pode ser eliminado e ver a Bombonera interditada ou ter a chance de jogar o segundo tempo contra o River Plate sem nenhuma sanção ao seu estádio. Pelo regulamento da Conmebol, tudo é possível.

Exceção feita às questões envolvendo jogadores, a entidade não atrela um ato a um tipo específico de punição em seus documentos, ao contrário do que faz, por exemplo, o CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva).

No regulamento geral da Conmebol, que rege a Libertadores, diferentes ações são previstas simplesmente como "outras infrações", do uso de sinalizadores ao arremesso de objetos em campo, passando por brigas generalizadas de torcedores.  Elas podem, por sua vez, ser penalizadas com diferentes tipos de gancho, de advertência ou eliminação de um torneio a proibição de efetuar transferências.

A questão é que não há correlação direta entre ato e punição. "O órgão disciplinar determinará o tipo, a quantia, o alcance e a duração das sanções a impor de acordo com os elementos objetivos e subjetivos concorrentes em cada caso, tendo em conta as circunstâncias agravantes e atenuantes que podem ser consideradas", diz o primeiro parágrafo do artigo 42.

Existem, no máximo, alguns parâmetros a serem seguidos. O artigo 6 do regulamento geral, por exemplo, diz que os clubes "são responsáveis pelo comportamento de seus [...] torcedores". Além disso, complementa que "são responsáveis pela segurança e pela ordem tanto no interior como nas imediações do estádio, antes, durante e depois da partida da qual sejam anfitriões e organizadores".

Se for considerado responsável pelo incidente da Bombonera, o Boca pode ser enquadrado no artigo 23, que diz que "qualquer equipe por cuja responsabilidade se determine o resultado de uma partida, se considerará perdedora desse encontro por 3 a 0". É por isso que a reação imediata da direção do Boca é a condenação ao ato e o distanciamento dos culpados.

"[Sinto] tristeza, amargura e impotência, porque isso escapa de nós. Como dirigentes fizemos tudo o que há para fazer. Esses imprevistos ninguém pode prever", disse José Requejo, diretor do Boca, à TyC Sports na saída do estádio. Há quem diga o contrário.

"A responsabilidade é unicamente do Boca, é indiscutível isso. Houve negligência por parte do clube na hora de gerar a segurança interna", disse Sergio Berni, secretário de Segurança do país, que se pronunciou após o cancelamento do jogo e teve de explicar porque a polícia não barrou o gás e o drone na revista. "Uma revista é exatamente isso, uma revista. Não é garantia de nada", simplificou o político, de acordo com o Olé.

Por isso, a Conmebol aguarda o desenrolar dos fatos. O próximo ato será a análise da súmula, que deve ser entregue ainda nesta sexta. A tendência é que a Unidade Disciplinar inicie a avaliação rapidamente, repasse o caso a um membro do tribunal e tome uma decisão. Pelo histórico, tudo é possível.

Em 2013, por exemplo, o Corinthians chegou a jogar com portões fechados em cumprimento à punição imposta pelo tribunal da Conmebol no caso Kevin Espada, menino boliviano que morreu em um estádio atingido por um sinalizador de navio atirado pela torcida alvinegra. Os resultados esportivos ou a continuidade do clube na competição, porém, não chegaram a ser ameaçadas.

Por outro lado, o próprio Boca chegou a ser eliminado da Libertadores de 2005 após uma confusão em um duelo contra o Chivas, quando um torcedor invadiu o campo e agrediu um jogador mexicano. Naquela oportunidade, porém, o time argentino jogava a segunda partida da eliminatória em casa depois de levar 4 a 0 na ida. O 0 a 0 na Bombonera, então, transformou o gancho em algo simbólico. 

UOL Esporte

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