Reformar ou tirar? Rio gasta R$ 80 mi a mais para remover favela olímpica

(Foto: Júlio César Guimarães/UOL)














A Vila Autódromo é um bairro pobre vizinho à área onde Parque Olímpico dos Jogos de 2016 está sendo construído. Ela existe desde a década de 1960 e chegou a abrigar cerca de 500 famílias. Isso até o início de 2014.

Há pouco mais de um ano, a Prefeitura do Rio de Janeiro deu início ao processo de remoção do bairro. Alegando necessitar do terreno das casas da Vila Autódromo para obras viárias essenciais para a Rio-2016, o município começou a desapropriar moradias existentes no espaço e demoli-las horas depois da saída de seus proprietários. E, para indenizar todo mundo que perdeu seu imóvel, já gastou sete vezes mais do que seria necessário para urbanizar todo o bairro.

Segundo um levantamento realizado pela vereadora Teresa Bergher (PSDB), ao menos R$ 95 milhões já foram pagos pelo município a donos de casas da Vila Autódromo. Só neste ano, 70 imóveis foram desapropriados. Cerca de R$ 51 milhões foram gastos com isso –uma média de R$ 730 mil por desapropriação.

Acontece que com cerca de 15% de tudo o que já foi gasto (R$ 13,5 milhões) seria possível remodelar toda a Vila Autódromo para manter mais casas de pé e ainda realizar as obras olímpicas. O valor consta de estudo elaborado por moradores do local junto com professores universitários cariocas ainda em 2013.

Esse estudo chegou a receber um prêmio internacional de urbanismo em dezembro do mesmo ano, o Deutsche Bank Urban Age Award, promovido por um banco alemão. O projeto foi entregue pessoalmente por representantes da Associação de Moradores da Vila Autódromo à Prefeitura do Rio. Ele, porém, não serviu para mudar o processo de remoção.

O processo, pelo contrário, intensificou-se. De acordo com a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, órgão que há anos defende moradores da Vila Autódromo contra as remoções, só 200 das cerca de 500 famílias que viviam no local permanecem por lá. Ficaram, principalmente, as mais pobres.

O presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo, Altair Guimarães, já reconheceu que viver no bairro está cada vez mais difícil. Com o avanço das obras do Parque Olímpico e as demolições na vila, quem ainda está por lá viu-se obrigado a conviver com escombros, sujeira e indefinição.

"Está cada vez mais complicado", disse ele, em março, dias depois de a prefeitura desapropriar por decreto 58 imóveis da Vila Autódromo, inclusive a sede da associação. "É difícil um bairro pobre lutar contra uma obra olímpica que, depois, virará um condomínio de luxo [após a Olimpíada, o Parque Olímpico será transformado num empreendimento residencial]."

Para a vereadora Teresa Bergher, as remoções no bairro são injustificáveis. Pior ainda são os gastos municipais com elas. "Por que não urbanizar, em vez de remover?", questionou ela. "Urbanizar a Vila Autódromo seria um legado importante para a cidade. O prefeito está não atendendo ao interesse do cidadão. Para atender ao interesse da especulação imobiliária, o município gasta quase R$ 100 milhões com desapropriações desnecessárias."

Procurada pelo UOL Esporte, a prefeitura do Rio de Janeiro informou que 708 imóveis da área da Vila Autódromo já foram desapropriados. Desses, 344 estavam na área onde da duplicação de duas avenidas próximas ao Parque Olímpico. Outras 118 residências estavam às margens de uma lagoa e onde, de acordo com a legislação ambiental, é proibida a construção. Já 246 casas foram demolidas após moradores solicitarem sua remoção à prefeitura.

O município confirmou o gasto com a desapropriação apurados pelo gabinete da vereadora Teresa Bergher. Avisou também que o valor ainda pode mudar já que outras remoções estão sendo negociadas.

Por fim, a prefeitura informou que ainda estuda urbanizar a Vila Autódromo, mesmo após todas as desapropriações. "A urbanização da região está sendo estudada pelo prefeito Eduardo Paes, já que famílias que não necessitem deixar a comunidade  poderão continuar vivendo na Vila Autódromo, se assim desejarem."

UOL Esporte

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