Chile: futebol mais empolgante da Copa precisa de resultados

Time-base do Chile: muitos jogadores atacando, Díaz recuando para armar e ninguém ocupando constantemente a área rival

Proposta ofensiva, jogadores rápidos e habilidosos, posse de bola com objetividade, marcação agressiva e movimentação fluida. O Chile de Jorge Sampaoli tem todos os requisitos para ser o time com futebol mais empolgante para os torcedores neutros na Copa do Mundo, mas ainda falta o fator que realmente transformaria a equipe em um sério candidato a “zebra”: eficiência na frente do gol. Se os resultados não vêm com consistência, porém, isso não impede ninguém de admirar a coragem e o jogo diferente da seleção chilena.

Com raízes firmes no estilo enérgico e às vezes tresloucado de Marcelo Bielsa, mas menos radical, o time de Sampaoli transformou em costume dominar os jogos, acuar os adversários e não conseguir converter a supremacia em gol. Mesmo contra adversários de primeiro nível, o time já mostrou que pode ser melhor: casos de amistosos recentes contra Alemanha e Brasil, quando o Chile jogou no campo rival, criou chances e saiu derrotado. Contra o Brasil, aliás, os chilenos costumam sempre “jogar como nunca e perder como sempre”, já que a Seleção dos últimos tempos é perfeitamente equipada para explorar as fraquezas do sistema de Sampaoli, como veremos a seguir.

Volante Marcelo Díaz é efetivamente um armador, muitas vezes recuando entre os zagueiros para auxiliar na saída de bola com passes curtos.

Pressão sufocante e defesa pouco convencional

Em Copas do Mundo e outras competições internacionais, é comum ver os times fazendo um jogo mais conservador, buscando defender no próprio campo e explorar o contra-ataque. O Chile, com certeza, não entrará neste grupo. A equipe será provavelmente a que mais vai apostar na marcação pressão, sufocando a saída do adversário com os atacantes e meio-campistas, e tirando o espaço do ataque rival com uma linha defensiva extremamente adiantada, pronta para pegar os oponentes em impedimento. Deixar a defesa tão avançada é sempre uma tática arriscada, mas a energia dos chilenos na pressão faz com que os adversários, muitas vezes, não tenham tempo para pensar e explorar esse espaço às costas da zaga com lançamentos.

A defesa chilena, aliás, é peculiar: é bem possível que Sampaoli não escale nenhum zagueiro de origem, com o volante Medel e o lateral Jara como prováveis titulares. Como o jogo defensivo do time se baseia no controle do espaço com a linha de impedimento, e precisa de jogadores velozes caso essa linha seja vencida, não há preferência por zagueiros “clássicos”, altos e bons no jogo aéreo – algo semelhante ao que acontecia com o Barcelona de Guardiola. Outro ponto é que Sampaoli sempre quer um homem na sobra – caso enfrente um time com dois atacantes centrais, é bem provável que o Chile mude o esquema para um 3-5-2.

Fluidez e velocidade da retaguarda até o ataque

Outro motivo claro para escalar meio-campistas e laterais no miolo de zaga é a qualidade na saída de bola. O Chile raramente sai jogando com lançamentos longos, baseando-se em toques curtos e rápidos para levar a bola à frente com velocidade e escapar da pressão adversária. Crucial para essa movimentação é o volante Marcelo Díaz, efetivamente um armador que atua próximo à zaga, muitas vezes recuando entre os zagueiros para auxiliar na saída de jogo. Díaz distribui passes com segurança para fazer a bola chegar aos jogadores mais avançados, e uma marcação apertada sobre ele é a melhor forma de quebrar o ritmo chileno.

Do meio para frente, a fluidez continua. O time costuma atuar com dois meio-campistas que marcam e avançam – normalmente os enérgicos Vidal, da Juventus, e Aránguiz, do Inter, dois atletas perfeitos para a proposta de Sampaoli. Mais à frente, um armador central, que pode ser o palmeirense Valdivia ou Vidal mais adiantado, tem liberdade para circular pelo campo e entrar na área. Não há centroavante fixo – os atacantes Eduardo Vargas e Alexis Sánchez partem das beiradas, e podem fazer jogadas pelas pontas ou se infiltrar na diagonal. A movimentação constante e coordenada é difícil de ser marcada, mas o Chile pode às vezes sofrer com a ausência de atletas em posição para finalizar.

Formação alternativa do Chile, com três zagueiros para ter sobra contra dois atacantes, e Vidal na função mais avançada para ter presença na área rival

As fraquezas óbvias: contra-ataques e bola parada

O jogo chileno é esteticamente bonito e pode ser devastador quando funciona, mas o time também apresenta fraquezas claras – que o Brasil costuma aproveitar para vencer confortavelmente desde a época em que os técnicos eram Dunga e Bielsa. A primeira delas é a vulnerabilidade ao contra-ataque: com tantos jogadores subindo ao ataque ao mesmo tempo e tanta fluidez no meio-campo, o Chile sempre fica em situação muito delicada ao perder a bola. Jogadores não estão em suas posições para recompor a equipe, a defesa está adiantada, e um rival com velocidade no contragolpe tem campo aberto para avançar.

Outro ponto claro de deficiência é a bola parada defensiva, principalmente se Sampaoli optar por não escalar zagueiros de origem. A linha defensiva chilena pode não ter nenhum atleta alto; o jogador de maior estatura no time titular provavelmente será Vidal, com 1,80 m. A deficiência pelo alto não é tão explorada com a bola rolando, já que a linha defensiva adiantada significa que os atacantes rivais precisam atuar longe da área, mas em escanteios e faltas o Chile pode pagar o preço por priorizar tanto a técnica com a bola no chão.

Jogador-chave: Vidal. Um verdadeiro dínamo no meio-campo, ele é capaz de marcar, pressionar, passar e finalizar com a mesma eficiência, além da energia para correr durante 90 minutos, tão importante na proposta de Sampaoli. Sua posição preferida é chegando de trás, mas Vidal também pode ser escalado na função de meia ofensivo para aproveitar sua chegada à área rival, já o esquema chileno pode deixar essa zona “despovoada” em alguns momentos. Com futebol direto e potente, o aumento na eficiência de que o time necessita passa por seus pés.

Palpite: oitavas de final (perde do Brasil)

UOL Esporte

Comentários