Jogadores do "ex-Banespa" lamentam fim do clube formador

Os selecionáveis Marlon (direita) e Serginho (centro) terão de procurar um novo clube para jogar após o fim do Brasil Vôlei Clube Foto: Alexandre Arruda / CBV/Divulgação

Os selecionáveis Marlon (direita) e Serginho (centro) terão de procurar um novo clube para jogar após o fim do Brasil Vôlei Clube

A notícia de que o Brasil Vôlei Clube, ex-Banespa, iria ficar inativo por conta da falta de patrocínio não pegou os jogadores de surpresa. Desde agosto de 2009 o Santander, banco espanhol que comprou o Banespa em 2000, já havia sinalizado que esta seria a última temporada bancando as contas do time que fez história por revelar jogadores que anos depois formaram as Seleções medalhistas olímpicas. E é justamente este "caráter formador" que os jogadores que defenderam o time lamentam não poder ver mais.

"A pausa nas atividades irá causar um impacto muito grande. É um clube que fazia uma peneira disputada há 25 anos, garimpando talentos. Acho que uns 90% dos jogadores da Seleção passou pelo time. A maioria dos atletas das Seleções de base são do Brasil Vôlei Clube. Na minha época eram mais de 3 mil jogadores fazendo a peneira. Era um lugar que te dava toda estrutura: escola, casa, comida, assistência médica. É hoje não existe mais", disse o líbero Serginho, que tentou passar pela peneira do Banespa por duas vezes mas não passou. Ele só foi jogar pelo tradicional clube nos anos 2000 e há dois anos, quando o clube já era do Banespa.

Opinião idêntica tem o experiente levantador Marlon. No time de São Bernardo desde a temporada 2008/2009 - quando ainda levava o nome do Santander, ele viu o Brasil Vôlei nascer e interromper as suas atividades.

"Não para dizer que é o fim. O clube está inativo e ainda há um período para esperar. Estão correndo atrás de patrocinadores para, quem sabe, em um milagre, sair da inatividade. Por este motivo (falta de patrocínio) ele já perdeu a continuidade da história, das categorias de base, da peneira que recebia mais de mil jogadores. O vôlei perde esse pólo de formação de jogadores. A inatividade vai causar este impacto na descoberta de novos talentos", disse o camisa 4 do time e que não participou dos últimos jogos do Brasil Vôlei, nas quartas de final da Superliga, por ter quebrado a mão.

O fato de ter de procurar uma outra equipe não causou estranheza em Marlon. O levantador se disse acostumado a sempre terminar a temporada do vôlei brasileiro sem saber qual será a equipe que ele defenderá na sequência. De acordo com um dos selecionáveis - ele está na pré-lista para a Liga Mundial - é normal que os contratos dos jogadores brasileiros tenha curta duração.

"A interrupção para os jogadores formados aqui, que jogaram no Banespa, Santander e agora no Brasil Vôlei, mexeu com a nostalgia. Mas de um modo geral, todos anos ficamos desempregados. Acaba a Superliga, acaba o contrato e você está desempregado. Sabíamos que precisávamos continuar jogando bem para uma nova contratação, para ficar com portas abertas em outros clubes", disse Marlon, que ainda não definiu seu futuro e aguarda que o interesse demonstrados por alguns times vire proposta. Uma volta à Europa - ele jogou no vôlei italiano entre 2006 e 2008 - não está descartada.

Serginho já consegue ver o futuro para sua carreira mais palpável. Apesar de ainda não estar no papel, o líbero da Seleção deve seguir para o Sesi, mesma equipe em que o presidente do Brasil Vôlei, Montanaro, passará a gerir as categorias de base. Mas a mudança de vida em nada muda o sentimento de tristeza ao ver o fim do clube.

"Eu digo que essa família que era o Banespa, depois Santander e Brasil Vôlei foi uma família só. Eles tiveram uma participação muito grande na minha formação. Cheguei à Seleção jogando lá. Eu devo muito a essa instituição que, infelizmente hoje, está inativa. Espero que por pouco tempo, que apareça um investidor e toque o projeto. Devo minha formação como atleta", disse Serginho, que ainda comentou o clima da última confraternização entre atletas, comissão técnica e dirigentes.

"Fizemos um churrasco ao fim da nossa participação na Superliga, algo que sempre realizamos. Mas este ficou meio que um gosto de choro, porque convivemos com a comissão técnica ao longo dos anos. Querendo ou não é um time de tradição. Esse time teve Marcelo Negrão, Giovani, Maurício, o próprio Montanaro, enfim, inúmero nomes que passaram por aqui e fizeram a história do time. Assim como o Pirelli (time que rivalizava com o Banespa nas décadas de 80 e 90), é mais um time de vôlei que fecha. É uma perda muito grande", afirmou Serginho

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