Fossati mantém ataque à imprensa gaúcha e diz que pode voltar ao Brasil

Fossati Foto: Eduardo Martins/A Tarde/Divulgação

Fossati em sua última entrevista no Brasil: imprensa do Sul revoltou o treinador

Falar sobre o Internacional ainda arranca longas respostas de Jorge Fossati. Mesmo depois de 40 minutos conversando sobre a Copa do Mundo, o treinador uruguaio encontra fôlego para explicar detalhes sobre sua passagem pelo Beira-Rio, criticar a imprensa de Porto Alegre, sua inimiga declarada, e questionar o porquê da demissão no fim de maio.

Fossati, 57 anos, deixou o Internacional entre os quatro melhores da América do Sul, ficou a um gol de conquistar o Campeonato Gaúcho e venceu dois de três clássicos Gre-Nal, mas nunca deixou de conviver com a pressão e as críticas para fazer render mais um dos elencos de ponta do Brasil. Desde março, convivia com a perspectiva de demissão.

Nesta segunda parte da entrevista exclusiva ao Terra, Fossati rebate críticas ao seu sistema de jogo e diz ter trabalhado no centro mais difícil do futebol brasileiro. O que, segundo ele, que teve sondagens para trabalhar no Oriente Médio e na seleção do Equador, não lhe impede de retornar no futuro. "Guardo coisas positivas", afirma.

Confira a segunda parte da entrevista com Fossati na íntegra:

Terra - Qual o balanço que você faz hoje sobre a passagem pelo Inter? Foi positivo pela vaga entre os quatro da Libertadores ou negativo por perder o Estadual e não começar bem no Brasileiro?
Jorge Fossati - Críticas e detratores nós tivemos antes de chegar em Porto Alegre. Uma parte da imprensa em Porto Alegre é famosa e me falaram antes de ir para lá. Me diziam que era o lugar mais difícil para trabalhar no Brasil.

Terra - Mas qual avaliação você faz dessa imprensa?
Fossati - É super negativa, é o mínimo que posso dizer. Não sei se tem algum tipo de interesse que mexe com eles, porque fui muito criticado. Se eu mexia no time é porque mexia, se não mexia é porque não mexia.

Mas não preciso dizer para que os diretores falaram que eu havia sido contratado. Tomara que atinjam isso (título da Libertadores), mas estávamos vivos. Dos times que jogaram a Libertadores, o Inter foi o melhor no seu Estadual. Se querem criticar, sempre vai ter um motivo.

Terra - Reclamaram muito sobre o rodízio no time titular e os brasileiros não se acostumaram completamente a isso. O que você achou?
Fossati - Nunca me arrependi, mas vocês têm outra cultura. Se são 400 jogos, tem que jogar sempre com o mesmo time. Isso é um caminho errado. O que conseguiram os que jogaram sempre com o mesmo time? Contra o São Paulo, vínhamos menos de 72 horas depois de jogar na Argentina contra o Estudiantes. Só poderíamos ter sidos exigidos contra o Vasco, mas houve uma expulsão e um pênalti errados. Só não se falou isso em Porto Alegre, então não sei quais os interesses nisso. Não vou engolir.

Terra - Como você recebeu a demissão?
Fossati - A razão para cancelar o contrato não foi resultado. O que aconteceu, não sei, porque as coisas mudaram de uma hora para a outra. A gente falava diariamente com a direção e, de quinta para sexta (após derrota para o Vasco), aconteceu alguma coisa.

Terra - Lidar com o jogador brasileiro é uma experiência difícil?
Fossati - Já havia trabalhado com brasileiros, mas no exterior. A característica é de mais individualidade do que trabalho coletivo. Não há uma grande escola de conjunto. Mas comprovei no próprio Inter que o jogador brasileiro é aberto e não tenho reclamações. Eles procuraram fazer o que a gente propunha. Mas tivemos pouco tempo de repetir, trabalhar. A quantidade de jogos é estúpida no Brasil, mas na direção do Inter, e não aqueles 400 diretores que ninguém conhece, mas os principais, estão felizes da vida com o que conseguimos.

Terra - Os times brasileiros não sabem jogar se defendendo?
Fossati - Depois que saí, a primeira coisa que o comentarista achou é que o Inter estava sendo mais agressivo. Pergunte a qualquer jogador qual foi minha crítica desde o início. Queria um time protagonista, pressionando lá em cima, e não esperando. Há determinados jogos em que você precisa de outra estratégia. Se não tivessemos, até hoje estávamos amargando a eliminação contra o Estudiantes.

Terra - Você ficou com fama de defensivista. O que acha disso?
Fossati - Me catalogar como defensivo é não conhecer nada do que eu faço no dia a dia. Nunca gosto do meu time recuado, quero um time agressivo. Tenho essa fama em outros lugares do mundo. São coisas que doem e prejudica a minha imagem, porque estão mandando isso para outros lugares de todo o mundo.

Terra - Você trabalharia novamente no Brasil?
Fossati - Sem objeção. Teve muita coisa positiva nessa passagem e não sou como alguns jornalistas de Porto Alegre que só veem o negativo. Criticaram meu trabalho até na parte física e não sabem que a Seleção Brasileira aplica muito do que a gente tinha no Inter. A maioria dos torcedores está comigo e hoje já posso dizer mais do cenário brasileiro. Ter trabalhado em um ambiente negativo nos faz crescer e me orgulho de termos cumprido nossa tarefa.

Terra - Qual o jogador que mais impressionou positivamente no Inter?
Fossati - Vários deles, desde o Guiñazu que foi nosso capitão e é super positivo. Entre os brasileiros, colocaria o Andrezinho. É um que está na frente de todos os outros.

Rogério: Bela reportagem do Terra, e eu sinceramente acho que não deveríam ficar tão em cima assim do Fossati. Ele é técnico como todos os outros, e tem seus momentos negativos no futebol como qualquer um.

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