Berço do tênis, Wimbledon surgiu para consertar rolo de grama

(Foto: Gerry Penny/EFE)















Roger Federer e Novak Djokovic farão um jogo digno de desmarcar compromisso para ficar na frente na televisão neste domingo. A partida vale pelo quilate dos jogadores e também pelo palco onde ocorre, a quadra central de Wimbledon. A história do local se mistura com a do tênis.

É como se o futebol fosse inventado no Maracanã e somente em duas semanas por ano o gramado fosse usado. Wimbledon é o campeonato mais antigo do tênis, com a primeira edição realizada em 1877. Por este motivo Rafael Nadal se refere a quadra central como "catedral".

E tudo começou porque um rolo de grama precisava ser consertado. Wimbledon é um clube privado no sudoeste de Londres fundado em 1868 para a prática do críquete. Somente em 1875, ano seguinte a um oficial britânico patentear o esporte na Inglaterra, o tênis começou a ser praticado lá.

O primeiro campeonato foi organizado em 1877 para arrecadar dinheiro para consertar um rolo de grama e se sobrasse algo iria para um fundo de ampliação do clube. Ocorre que as regras do tênis não eram unificadas e um conselho técnico definiu como seriam no torneio. Desde então poucas mudanças aconteceram.

Na primeira edição houve 22 inscritos e as quadras foram distribuídas de forma que uma ficasse no meio. Nascia a mítica quadra central, aquela que recebia os principais jogadores. O sucesso do tênis na Inglaterra foi tão grande que o críquete foi mantido no clube apenas por razões sentimentais.

Na virada para o século XX pessoas de outros países já viajavam para jogar em Wimbledon. Com a popularização foi preciso mais espaço e houve a mudança para Church Road em 1922. A quadra principal comportava 14 mil pessoas e a inauguração contou o Rei George 5º.

Até hoje o clube está no mesmo local, mas nas guerras não houve campeonatos. Na Segunda Guerra o local serviu de base para o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil e foi alvo dos alemães. Um avião lançou uma bomba em plena quadra central. Mas terminado o conflito o esporte voltou a ser praticado.

Bom porque a quadra central de Wimbledon é tão importante para o tênis que os outros Grand Slams prestam homenagem a tenistas que brilharam no local. Suzane Lenglen, francesa de sucesso na década de 1920, dá nome a uma das principais quadras de Roland Garros.

Rod Laver tem seis títulos em simples em Londres e batiza o principal palco do Australian Open. Billie Jean King foi a primeira vencedora da chamada era aberta e emprestou o nome ao complexo esportivo que abriga o US Open.

Outra razão para o respeito que os atletas têm à Wimbledon é a manutenção da tradição. A mais relevante é continuar a disputa na grama, piso onde o tênis nasceu numa época em que o Império Britânico, fruto da revolução Industrial, ainda existia.

Sempre apaixonados por jardim, os ingleses investiam o tempo e dinheiro para cultivar os gramados que abrigavam os chamados garden parties. Diferente do pic-nic da França, mais reservado, eles viraram eventos sociais e esportes foram criados para recreação.

Os gramados eram chamados pelos ingleses de lawns e neles nasceram o críquete, o rugby, o futebol e o tênis. Com o passar do tempo os torneios de tênis deixaram de usar esta superfície pela dificuldade de cuidar. Mas Wimbledon nunca cedeu as pressões e mantém o esporte nos mesmos moldes de meados do século XIX.

Com toda esta história na retaguarda a quadra central é o palco principal do esporte. O comentarista Dácio Campos, do Sportv, sempre vibra nas transmissões com grandes voleios e quando um tenista rala o joelho ao se jogar em um voleio ele solta um "que delícia". O ex-tenista também conta que na época menos profissional os grandes roqueiros ingleses tinham acesso aos vestiários nos dias de chuva e rolavam jam sessions.

Não é a toa que desde Roger Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic e Andy Murray sonhavam acima de tudo em erquer o troféu na quadra central, na grama sagrada de Wimbledon.

UOL Esporte

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