Famosos e maratona lobista agitam véspera da decisão olímpica de 2016

Marriott Hotel, no centro da capital da Dinamarca, o QG do Comitê Olímpico Internacional (COI), onde dormem os 106 membros que tem direito a voto. O QG onde dormem (ou tentam) as comitivas das quatro cidades candidatas à Olimpíada de 2016: Rio, Chicago, Tóquio e Madri. Múltiplas línguas e sotaques percorrem corredores e salas. Sorrisos entrelaçados, promessas, cochichos, mandingas implícitas e explícitas, comentários ao pé do ouvido, tapas nas costas, palavras de incentivo, olhares e passos nervosos. O lobby está no ar e dele depende o futuro da cidade que irá abrigar os Jogos Olímpicos daqui a sete anos.

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Na manhã desta quinta-feira de sol ralo, clima frio e vento forte em Copenhague, o hotel, em seu interior, já é um formigueiro em plena atividade logo nas primeiras horas, blindado por uma legião de seguranças - alguns deles em barcos nervosos no canal anexo ao local.

Limousines estacionam na rua sem bloqueio, mas quase deserta. Quatro chefes ou representantes de Estado e suas comitivas tomam de assalto o hotel para as chamadas reuniões bilaterais. O presidente Lula chega primeiro. Seguem-no Michelle Obama, o primeiro-ministro espanhol José Luis Rodríguez Zapatero e o premiê japonês, Yukio Hatoyama.

Em salas de reuniões iniciam uma maratona de conversas para vender cada qual a sua candidatura e o sonho de fazer a melhor Olimpíada, cada qual com argumentos e sentimentos muito sólidos, acreditam.

Na grande sala de café da manhã, as mesas do buffet servem de ponto de tangência entre candidatos e delegados com direito a voto. Entre pegar um pedaço de jamón serrano, um queijo Camembert, um copo de suco artificial ou um pedaço de pão integral com sementes de linhaça, uma boca de urna rápida:

- Como vai?, pergunta um membro do COI de um país latino.

- Tudo ótimo, responde um dos integrantes da candidatura brasileira.

- Otimista?

- Sim, claro. Vamos ganhar, pronuncia acompanhado de um sorriso.

- Creio que sim, finaliza o delegado, já com o prato abastecido e pronto para desaparecer entre as mesas lotadas.

Minutos depois, o mesmo delegado esbarra no prefeito de Madri, que desde o evento da noite anterior em um hotel da cidade - e que reuniu cerca de 1 mil pessoas - esbanja sorriso e otimismo.

- Como vai?, pergunta o prefeito, já abraçando o delegado.

- Muito bem. Como estão as coisas?

- Excelentes. Acreditamos cada vez mais na nossa vitória.

- Creio que sim, finaliza o delegado, devolvendo o abraço.

Entra no salão o histórico Juan Antonio Samaranch, ex-presidente do COI (1980-2001) e um dos artífices da candidatura de Madri, devidamente cortejado pelos presentes. Recepção idêntica à recebida pelo brasileiro João Havelange, no dia anterior no mesmo salão. Enquanto fotógrafos oficias registram as cenas, um frase passa ao redor.

- Todo mundo vai votar nas quatro cidades e as quatro vão vencer, ironiza um dos presentes em conversa com uma delegação africana.

No meio da manhã chega o presidente do COI, Jacques Rogge. Tem encontros com os principais representantes dos países, incluindo o presidente Lula, que faz uma pausa nas reuniões bilaterais para a rápida reunião e sessão de fotos. Depois, segue com novas reuniões e deixa o hotel por volta das 13h (horário local) para um almoço com a rainha Margrethe, da Dinamarca.

Antes de atravessar, calado, a barreira de curiosos e jornalistas, Lula, ciceroneado por Carlos Nuzman, ministros e seguranças, dá um rápido abraço em Carlos Alberto Parreira, Bernard e Torben Grael, no lobby do hotel.

Lobby do hotel, aliás, que durante todo o dia abriga um desfile de famosos, outros nem tanto, atletas, ex-atletas, marqueteiros de plantão e uma turma de curiosos. Todos, no entanto, devidamente credenciados.

O burburinho cresce minutos antes do início da cerimônia de abertura do 121º Congresso do Comitê Olímpico Internacional. Convidados VIPs se aglomeram no local para subir ao barco atracado no pier do hotel que os levará até a Opera de Copenhague, cruzando os canais da cidade.

Oprah Winfrey, a famosa apresentadora de TV americana, chega e rouba a cena, com o bottom Chicago 2016 no peito. Histeria especialmente no segmento feminino do seleto clube olímpico mundial. É arrastada para uma área do restaurante, cercada, fotografada e assediada. Espremida. Ao lado de Oprah, o gigante aposentado da NBA, David Robinson (2,16 m), ex-estrela do San Antonio Spurs, desaparece. Diante do brilho da estrela prefere sentar discretamente, bem ao lado do tumulto. Resignado.

Fora do hotel, o contraste. Alguns poucos jornalistas enfrentam o forte vento e o frio. Bicicletas, o politicamente correto meio de transporte da cidade, cruzam a calçada, alheias ao movimento olímpico, de chefes de estado e de VIPs. Do outro lado da rua, quatro solitários japoneses, engravatados, erguem uma discreta faixa de protesto: Objection! Tokyo bid (Objeção à candidatura de Tóquio).

Há algo de blasé no reino da Dinamarca.

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