Brasileiro ignora "burrada" e brilha no tênis americano

O Brasil tem um tenista fazendo sucesso no circuito universitário americano (NCAA). Menos de 12 meses após deixar provisoriamente o esporte profissional para jogar e estudar no exterior, Henrique Cunha, 19 anos, não se arrepende nem um pouco da polêmica decisão, que chegou a ser classificada como uma "burrada" pelo antigo capitão brasileiro da Copa Davis, Francisco Costa. Bem academicamente e treinando em ritmo forte nas quadras, o jovem é um dos dez melhores do ranking dos Estados Unidos e está de olho em um retorno à ATP (Associação dos Tenistas Profissionais).

Apesar da inexperiência, Cunha causou um impacto imediato no NCAA. Depois de superar dois top 10 do ranking universitário - o número dois, John-Patrick Smith, e o sete, Dimitar Kutrovsky -, ele concluiu sua ascensão vencendo nada menos que o líder da lista, Steve Johnson. Em 17 de março, o americano caiu por 2 sets a 0, com 6/4 e 7/6 (7-4), frente ao novato, grande destaque do tênis da Universidade Duke, de cuja revista chegou a virar até manchete de capa.

Com muita tradição no basquete, porém fora do grupo das melhores universidades dos EUA quando o assunto é tênis, a Duke mudou de patamar após "recrutar" Cunha. O atleta contou, em entrevista exclusiva por telefone ao Terra, que seu treinador, Ramsey Smith, dá seu ponto como "certo" quando chega a hora dos confrontos com as instituições rivais, o que coloca uma pressão sobre o atleta até superior à que seria encarada na ATP e o ajuda muito a crescer.

No momento em que mudou de país, em agosto passado, o tenista já tinha em seu currículo a 668ª posição do ranking profissional - categoria na qual havia conquistado um future (torneio de transição), em 2009 - e a sexta da lista juvenil - foi campeão na grama de Queen's e quadrifinalista de Wimbledon, sempre em 2008.

Com esses números, ele era considerado um dos mais promissores jogadores brasileiros e, por isso, frustrou vários treinadores do País, incluindo Francisco Costa, capitão da Copa Davis até o último ano, que classificou a decisão como uma "grande burrada" em seu blog na internet.

Na época, o técnico e ex-tenista argumentou que, na Duke, Cunha deixaria o tênis em segundo plano devido aos exigentes estudos - segundo o conceituado ranking da revista US News and World Report, a universidade sediada em Durham, na Carolina do Norte, é a décima melhor dos EUA.

Para ir bem no curso de administração, é verdade que o brasileiro encara uma verdadeira "maratona", já que em três dias da semana chega a estudar por quase sete horas (três na sala de aula e o restante em casa), mas nega que isso prejudique seu desenvolvimento em quadra. Ao contrário: a bagagem acadêmica só ajuda.

"Troquei meu tempo livre pelos estudos", resume ele, que nos dias úteis treina tênis por cerca de três horas, com mais 1 hora e meia de preparo físico.

"É mais ou menos o que eu fazia no Brasil", completa o atleta, que joga desde os quatro anos e deixou sua cidade natal, Jaú, aos 13 para trabalhar na academia do ex-jogador Jaime Oncins, número 34 do mundo em 1993, localizada em São Paulo.

Segundo Henrique, sua evolução nesse período nos EUA é mais do que clara não só na parte técnica como também na mental, visto que agora ele se julga bem mais "maduro". Tudo isso tem dado resultado no NCAA, que durante a atual temporada já o elegeu por três vezes o melhor da semana em sua conferência.

Atualmente número nove do ranking individual do órgão, o brasileiro ostenta nesta temporada uma campanha de 22 vitórias e cinco derrotas; em duplas, o desempenho ao lado do americano Reid Carleton também é expressivo: juntos, eles aparecem em terceiro na lista da modalidade, com 28 partidas ganhas em 32 disputadas.

Em ascensão, portanto, mesmo longe da ATP, Cunha sabe que um retorno a essa categoria é mais do que natural. "Vou me dar mais uma chance", diz, só precisando saber quando. Por enquanto, o que ele pode adiantar é o foco total no NCAA Tennis Championships, evento que reunirá em maio, na Geórgia, os 25 melhores universitários.

O tradicional torneio, espécie de final do circuito que serve para decidir o melhor dos EUA, já teve como campeões tenistas que posteriormente virariam profissionais de sucesso, como os americanos Jimmy Connors (campeão de oito Grand Slams na carreira), John McEnroe (sete) e Bob Bryan (oito em duplas) - James Blake (quarto melhor do planeta em 2006) já foi vice.

No ano passado, o título ficou para o também local Devin Britton, que como prêmio recebeu um convite para o Aberto dos EUA - perdeu na estreia por 3 sets a 0 para Roger Federer, mas resolveu deixar os estudos provisoriamente de lado para se dedicar ao profissionalismo.

Caso triunfe no desafio mais difícil que terá pela frente em 2010, Henrique Cunha admite seguir o mesmo caminho. De qualquer forma, já é certo que o jovem de Jaú, conhecido também por ter treinado com Federer na véspera da final de Roland Garros de 2007, testará seu nível de jogo no período de férias da faculdade, entre maio e agosto, quando disputará torneios profissionais (futures e challengers) no Brasil.

Dependendo das respostas dada nas quadras, Henrique pode selar seu destino, trancando o curso de administração, e só voltar à Universidade Duke daqui a 15 anos. Quem sabe já como um milionário do tênis.

Redação Terra

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