Ele construiu um elefante branco da Copa e hoje admite: “Serve para nada”

(Foto: Getty Images)


Foram necessários 19 meses para o hoje senador Omar Aziz (PSD-AM)  desdizer tudo o que disse para o que ele chama de “a imprensa do sul”. Foi na CPI do Futebol, quando o tema era o tão propalado “legado da Copa do Mundo”.

“Como governador do meu Estado [Amazonas], tive que construir uma estrutura toda para a Copa do Mundo. Tive que construir uma arena, que é um estádio muito bonito, tive de construir dois centros de treinamento, mas não há futebol no meu Estado. Nós estamos na Série D, capengando. O Estado tem uma estrutura fantástica para absolutamente nada.”

Ele governou o Amazonas de 2010 a 2014. Renunciou ao cargo antes do início da Copa para concorrer ao Senado. Pelo discurso, feito na sessão da última quarta-feira, 21, no Senado, Aziz dá a entender que o Amazonas foi escolhido para receber a Copa do Mundo à revelia, sem ter manifestado interesse em abrigar os jogos do Mundial. O que não corresponde com a realidade, porque a Copa do Mundo não caiu de paraquedas em Manaus.

Meses antes de deixar o governo, em março de 2014, Aziz tentou constranger o repórter Mendel Bydlowski, da ESPN Brasil, que fora ao Amazonas contar os planos do então governador para a arena. Ele foi questionado pelo repórter da ESPN sobre o que seria feito do estádio construído em Manaus pelo poder público a um custo de R$ 669 milhões, quase R$ 100 milhões a mais do que a previsão inicial. Abaixo, o que disse Aziz há 19 meses para Bydlowski:

“Isso é problema nosso, não é de vocês. Isso é problema do povo amazonense, não é teu. Não é problema da imprensa do sul [sic]. É nosso o problema, deixa com a gente. Se nós tivemos competência para construir uma arena desse porte, nós teremos competência para dar um legado. E você acha um legado o Maracanã botar 300 pessoas para assistir a um jogo?''.

Para que serve a Arena da Amazônia?
Arena da Amazônia, com seus 44 mil assentos, sediou quatro jogos na Copa, entre os quais o clássico Itália 2 x 1 Inglaterra. Desde então, deu prejuízo ao governo do Estado. São aproximadamente R$ 400 mil por mês para manutenção. Os clubes locais não têm apelo para manter o estádio em atividade e com frequência regular de público.

Havia a expectativa da realização de uma rodada tripla, neste final de semana, da Copa Amazonas, com jogos nas categorias infantil e juvenil, além da final do adulto, entre Fast Clube e Manaus FC. Mas a própria secretaria estadual que gere o estádio vetou, porque o prognóstico mais otimista era de cerca de 1.200 espectadores. Restariam, portanto, mais de 42 mil lugares vazios.

O jornal Lance! publicou em setembro que uma das fontes de renda do estádio é a locação para fotos de noivos, por R$ 200 a hora. E a visita de turistas, por até R$ 20 pelo passeio.

Planejamento, não. Bairrismo, sim.
Na CPI do Futebol, Aziz admitiu que foi tomado pelo bairrismo. “Naquele momento de euforia, o bairrismo era muito grande. Todo mundo queria ser sede da Copa. Quem não queria ser uma das subsedes, para ter quatro jogos? Quatro jogos era o mínimo. E ainda tive a felicidade de ter tido grandes jogos no Estado na primeira fase.”

Após o fim da sessão da CPI, em entrevista para a Rede Amazônica, afiliada da Globo no Estado, voltou a lamentar a ausência do legado, numa clara demonstração de que não houve planejamento para receber a Copa do Mundo. “Não teve legado, em lugar nenhum do Brasil. Houve uma euforia porque todos os Estados queriam ser sede da Copa, mas esse legado não existe para o Amazonas”.

E completou: “Eu construí, saí no final de março para ser candidato ao Senado e, em junho, na Copa, nem convidado fui. Eu não recebi um convite para ir. Mas isso faz parte do que eu vivo''.

UOL Esporte

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