Seleções treinarão em antigo palco de lutas sangrentas em Soweto

Quem observa o Orlando Stadium e sua estrutura metálica dentro de Soweto, em Johannesburgo, pode imaginar que se trata uma montagem. O estádio, todo modernizado para a Copa do Mundo de 2010, contrasta com a simplicidade e pobreza da região. Será apenas um local de treino. Mas a história que envolve a região faz do campo de futebol um atrativo da África do Sul.

Orlando já foi chamado de "Oeste Selvagem" de Soweto. Apelido mais do que merecido durante a época de lutas sangrentas do regime do apartheid - palavra que significa "vida separada" e usada para designar o regime de segregação racial entre brancos e negros, institucionalizado em 1948 no país.

Poucos metros distante do estádio, por exemplo, fica o Museu do Apartheid. "Turistas são bem-vindos", anuncia a placa. "Bem-vindos a Soweto", repetem em coro os vendedores de artesanatos na porta do prédio. Dentro, pelos corredores, um clima depressivo.

Um vídeo mostra o ativista estudantil contando como foi encontrar no chão uma criança morta com um tiro nas costas. "Como alguém pode fazer uma coisa dessas?", repete a gravação em uma espécie de trilha sonora sombria.

O personagem real da história sul-africana fala de um dos muitos mortos no histórico massacre de 1976, que no próximo dia 16 de junho completará 33 anos. Será feriado no país, um dia depois da estréia da Seleção Brasileira na Copa das Confederações, evento de teste da estrutura para o Mundial do próximo ano.

As imagens da violenta repressão ao protesto estudantil correram e chocaram o mundo. A data é considerada um marco na história do país, já que aumentou a pressão internacional para os problemas do regime racista sul-africano. O apartheid teve fim em 1994, quando Nelson Mandela foi eleito democraticamente o novo presidente.

Hoje, Orlando tem um novo apelido: Beverly Hills - distrito de Los Angeles famoso como local de residência de celebridades. Guardadas as devidas proporções, na localidade de Soweto ficam as casas do bispo Desmond Tutu, prêmio Nobel da paz de 1984, e Winnie Mandela, ex-mulher de Nelson Mandela.

Nas ruas de Orlando, e em todas as outras de Soweto, o único esporte que se vê é o futebol. Crianças usam os portões de suas casas como gols para treinar chutes. E, como a região também tem suas diferenças sociais, em bairros mais privilegiados meninos jogam na quadra de futebol de salão. Na Universidade de Soweto, jovens todos uniformizados treinam em gramados de ótima qualidade.

Na parte mais pobre, muita semelhança com as favelas brasileiras. São áreas ocupadas ilegalmente, mas o governo não pode remover as pessoas até que promova possibilidade de moradia melhor, segundo a constituição do país. Lá moram os desempregados ou os que trabalham na informalidade, como lavadores de carros.

Na parte mais rica de Soweto, casas parecidas com as que podem ser vistas nos bairros de classe média do Brasil. Lá vivem advogados e médicos, por exemplo. São pessoas que viveram por perto na infância e querem continuar na vizinhança mesmo em ascensão social.

A massacrante maioria dos torcedores de futebol do país é composta por negros, enquanto os brancos estão mais interessados em esportes como o críquete e o rúgbi. Por isso, em qualquer que seja o bairro de Soweto, lá estão amantes da bola. Serão eles os responsáveis por grande parte do clima que envolverá a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Dentro ou fora dos estádios.

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