Tour por Londres recria trilha sangrenta de Jack, o Estripador

Tour pela região central de Londres passa por locais onde Jack, o Estripador, deixou corpos de vítimas. Foto: Edson Lopes Jr./Terra

Tour pela região central de Londres passa por locais onde Jack, o Estripador, deixou corpos de vítimas

A história de Jack, o Estripador, apavorou Londres no final do Século XIX e segue sendo um dos maiores mistérios mundiais na bibliografia dos crimes. Até hoje, passados mais de cem anos, o assassino mais famoso da crônica policial britânica jamais foi identificado, envolvendo sua personalidade em uma nuvem de mistérios que atrai ainda mais curiosos. Talvez por isso, não surpreende que a cidade-sede dos Jogos Olímpicos 2012 tenha até mesmo tour pela região dos assassinatos em série, com direito a guia especializado.

Ao todo, entre agosto e novembro de 1888, apenas cinco crimes foram oficialmente creditados ao misterioso Jack, os chamados Assassinatos Canônicos. Mesmo assim, os tempos na capital inglesa eram um tanto quanto sombrios: além de registrar uma série de crimes violentos no distrito de Whitechapel entre 1881 e 1891 (mesmo local e período em que o serial killer atacou), os londrinos conviviam com um cenário de bebedeira e prostituição, coberto pela densa névoa resultante da queima de carvão na cidade.

"Whitechapel era um distrito preparado para receber os marinheiros que ficavam antes de partirem ou voltarem do mar, com bebidas e prostitutas", brinca Dominic Walker, 38 anos, o simpático guia especializado no caminho do Estripador entre Tower Hill e Whitechapel. As cercanias também não ajudavam muito, já que regiões próximas, como Tower Hill e Marble Arch recebiam respectivamente execuções e enforcamentos. Ainda em 2012, o cenário do passeio mantém características da Inglaterra vitoriana, como as ruas estreitas de pedra, túneis escuros e os postes para amarração de cavalos - "muito mais medieval", descreveu Walker.

O guia responsável pelo passeio cita o perfil parecido entre as cinco vítimas do assassino: "todas prostitutas, com as gargantas cortadas e os abdomes abertos, estripados. Eram suas marcas registradas." Segundo ele, suspeita-se que os crimes poderiam ser até mesmo cometidos por mais de uma pessoa. "Uma das razões pelas quais ele teria matado é porque ele teria contraído uma doença venérea de prostitutas, e por isso as teria assassinado", completou.

Mesmo com uma boa lista de indícios na época, a polícia local jamais conseguiu desvendar o mistério, que levantou suspeita até mesmo sobre a família real. As únicas testemunhas viram um suspeito de chapéu, com uma echarpe vermelha, capa escura, rosto escurecido, pelos no rosto e bigode. As investigações apontavam para um serial killer com amplo conhecimento médico, dado a precisão de suas incisões.

Para piorar, a polícia recebia cartas com mensagens assinadas pelo suposto assassino, remetidas "do inferno". Uma delas trazia um pequeno pedaço de rim, que teria sido extraído de Catherine Eddowes, a quarta vítima identificada - exames, porém, apontaram que o indício da carta não era humano. Mais tarde, as duas cartas recebidas foram descartadas como provas, uma vez que indicavam serem truques dos jornais britânicos para aumentar suas vendas. "Não houve atividade oficial de Jack durante o mês de outubro (após os quatro primeiros crimes). Tudo indicava que eram artifícios dos jornais", explica Dominic.

Ainda assim, o também chamado "Assassino de Whitechapel" fez com que vários suspeitos fossem investigados. O principal deles, Aaron Kosminski, era um imigrante polonês e trabalhava como açougueiro. Apresentando sinais de esquizofrenia, tornou-se agressivo e acabou internado em 1889. "Para mim, parece o candidato mais plausível, o que eu mais entendo como autor dos crimes", opina Dominic. "Mas é claro que ninguém saberá quem era Jack, o Estripador", completou, encerrando o passeio.

Hoje em dia, a região dos crimes reúne construções históricas, museus, estações de metrô, avenidas movimentadas e muitos estabelecimentos tocados por sorridentes imigrantes de Índia, Bangladesh, Paquistão e até Brasil - o clima colorido de Whitechapel às vésperas da Olimpíada de Londres 2012 nem de longe lembra o que deveria se passar na época por ali. Melhor para quem visita a capital inglesa, que pode passear e aproveitar as diversas atrações (bem menos macabras) do centro histórico londrino.

Conheça os casos apresentados pelo tour - se tiver estômago, é claro:

31 de agosto de 1888: Mary Ann Nichols, 43 anos
Conhecida como Polly, a prostituta foi encontrada morta na Durward Street, em Tower Hill, na madrugada de 31 de agosto. O endereço, sob um viaduto escuro, hoje concentra um café e nem insinua que pode ter sido palco de um crime bárbaro. "Esta era uma área pobre de Londres, cheia de prostíbulos, álcool e doentes. Charles Dickens descrevia Londres como a cidade da noite mais apavorante", conta Dominic. Até então, Jack ainda não havia sido batizado informalmente pelos jornais londrinos.

8 de setembro de 1888: Annie Chapman, 48 anos
O crime aconteceu no número 29 de Hanbury Street, hoje um estacionamento, a poucos minutos de caminhada do local do primeiro assassinato. Annie estava em sua casa, com a porta aberta, e foi vista por um transeunte. "Um homem chamado John Davies levantou-se de sua casa para trabalhar nas docas naquele dia", conta o guia do passeio. "Ele viu Annie Chapman morta no chão e disse que não podia descrever a cena. Havia pedaços de corpo por todo o local", completa. No local do crime, junto aos pertences da vítima, foi encontrada uma capa que costumava ser feita por alfaiates de origem judia, o que fez com que os londrinos se voltassem contra os imigrantes.

30 de setembro de 1888: Elizabeth Stride, 43 anos, e Catherine Eddowes, 46 anos
A cidade já vivia um clima de tensão quando, no fim de setembro, Jack atacou de forma mais brutal: duas prostitutas foram assassinadas na Mitre Square. A primeira, Elizabeth, era sueca e conhecida como "Long Liz". Seu corpo foi encontrado em meio a arbustos por um homem que passava a cavalo. "O cavalo parou, devem ter um sentido para isso. O homem desceu, procurou por ali e encontrou Elizabeth", disse. Horas depois, pela manhã, Catherine também foi encontrada em circunstâncias macabras. Foi nesta época, porém, que três homens - Joseph Lawende, Hyam Levy e Harry Harris - deram a única descrição do Estripador após verem uma movimentação suspeita na região da Mitre Squarte.

9 de novembro de 1888: Mary Jane Kelly, 25 anos
Depois de um mês de outubro sem crimes, quando Londres passou a crer que os problemas haviam cessado, Mary Jane Kelly foi encontrada morta no número 26 da Dorset Street. Neste momento, a polícia de Londres já era duramente criticada pela dificuldade de resolver a série de mortes. Mary tinha uma origem desconhecida e era babá, cuidando do filho ilegítimo de um nobre - quando descobriu o fato, passou a ser supostamente chantageada e caiu na prostituição. Na época, um legista descreveu sua morte: "não acreditávamos no que vimos, pois não parecia um corpo humano. Jack deve ter passado toda a noite trabalhando em seu corpo."

Terra

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