Situação da vela é caótica, diz medalhista a 1 ano de Londres 2012

 . Foto: Neco Varella/Agência Freelancer/Especial para Terra

Fernanda Oliveira reclama da situação da vela brasileira

A pouco mais de um ano da Olimpíada de Londres, a vela brasileira vive um momento "caótico", afirma a velejadora da Classe 470 Fernanda Oliveira, responsável por uma medalha de bronze conquistada em Pequim, em 2008. Para a atleta, a falta de recursos, equipamentos defasados e a intervenção judicial sofrida pela Confederação Brasileira de Vela e Motor (CBVM) são os grandes obstáculos na preparação para o ano que vem.

"O maior desafio é financeiro porque um ano antes de uma Olimpíada, com cinco medalhistas em uma Olimpíada anterior, parece que não aconteceu nada, não mudou nada", reclamou. Fernanda e sua nova parceira, Ana Luiza Barbachan, recebem uma ajuda de custo "simbólica" da CBVM e bancam o treinamento do próprio bolso em um clube na zona sul de Porto Alegre.

"A gente recebe uma ajuda de custo de uma Confederação, que é simbólica. Não existe a cultura, como existe em outros esportes, como existe no um vôlei, judô, no atletismo, nos quais os atletas são contratados pelos clubes. Isso na vela não existe", afirma a medalhista.

Atualmente, a dupla, que trabalha junta há dois anos, é a mais bem colocada no ranking brasileiro. Na vela, as atletas mais bem colocadas são as responsáveis por conseguir uma vaga para o Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres e depois disputam entre si a possibilidade de representar o País na competição.

As maiores rivais de Fernanda e Luiza são as velejadoras Isabel Swan (que ganhou a medalha de bronze ao lado de Fernanda na China) e Martine Grael (filha de Torben Grael, um dos principais iatistas brasileiros).

Fernanda diz que a vela funciona como um carro de Fórmula 1, esporte no qual os ajustes e diferentes equipamentos devem ser configurados de acordo com o local da competição, algo que já está sendo feito por atletas de outros países, como elas tem visto em competições internacionais.

"Temos uma carência muito grande de recursos para a compra e testes de materiais, para remuneração de atletas, para a participação em eventos... então isso faz com que a gente fique um pouco atrás", diz. Segundo ela, a disparidade de investimentos do Brasil com outros países pode ser percebida nos pódios. "Na última competição (na França) três tripulações inglesas estavam entre as 10 primeiras".

A dupla relata que enfrenta problemas sérios com o barco que usa para as competições. "Não tem como competir com o barco de três anos como o nosso, e não tem dinheiro, os recursos não saem... nós não temos velocímetro, não sabemos o quanto isso está prejudicando, mas vemos o que acontece pela experiência que nós temos".

Intervenção

Uma das maiores dificuldades para a dupla é a intervenção pela qual passa a CBVM, por conta de problemas jurídicos, o que impede que a entidade feche novos convênios e atrasa a preparação olímpica, já que a gestão da confederação é feita pelo Comitê Olímpico.

"A confederação não consegue suprir toda a necessidade de materiais. O que pode, ela nos oferece, mas com o pouco que a gente ganha, temos que nos sustentar, porque temos que nos dedicar exclusivamente ao esporte, e ainda cobrir a falta do recurso que não conseguem nos alcançar", explica Fernanda.

Para tentar reverter o quadro, a dupla apresentou um projeto de captação de recursos em parceria com o Clube dos Jangadeiros no Ministério dos Esportes, que foi aprovado, mas não deu os resultados esperados.

"A captação não é fácil, é impossível fazer isso no Brasil. As empresas têm receio, não dá para entender. Contratamos empresas especializadas, o projeto foi aprovado, mas não conseguimos captar... Vamos ter que reajustar o projeto porque conseguimos captar muito pouco e a conta que temos para pagar no final do mês é um horror", afirma Fernanda.

Beleza

Perguntadas sobre a beleza das atletas da vela e dos benefícios que isso atrai, Fernanda e Ana Luiza riem da perguntam, "não muda nada", reponde Fernanda em tom jocoso. Ela brinca com o assunto e lembra de uma matéria na qual perguntaram se ela recebia muitas cantadas na água. "Respondi: 'que isso rapaz, sou casada!', e saiu isso na televisão", diz ela enquanto gargalhava.

No entanto, apesar da brincadeira, Fernanda conta que na Olimpíada passada conseguiu patrocínio de uma marca de produtos de beleza. "Mas é difícil. Esse negócio de dinheiro não pinga porque somos mulheres... pelo contrário, se quiséssemos ser mais vaidosas não teríamos como, pelo que a gente faz... tem que ser vaidosa do jeito que dá", diz.

Perguntadas sobre a possibilidade de conquistar uma medalha em Londres, as duas dizem que tratam a caminhada por etapas. "Em 2008 (na China), era um local com vento mais fracos, onde eu naturalmente tinha uma facilidade maior de velejar. Na Inglaterra são ventos médios, então temos que melhorar bastante em termos de material... isso vai vir ao natural, vai ser algo para pensar no ano que vem... estamos brigando com os outros países para conseguir sempre a melhor colocação, só que precisamos das condições para competir contra eles porque hoje estamos abaixo das condições técnicas, de material mesmo", afirma.

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