Judocas se afastam nos treinos para lidar com pressão por vaga

Hugo Pessanha (esq.) e Tiago Camilo disputam entre si uma vaga olímpica. Foto: Wagner Meier/Photocamera.com/Luiz Pires/Vipcomm/Divulgação

Hugo Pessanha (esq.) e Tiago Camilo disputam entre si uma vaga olímpica

A cerca de seis meses da Olimpíada de Londres, Tiago Camilo e Hugo Pessanha protagonizam a briga mais acirrada por vaga no judô. A diferença entre os dois no ranking mundial que define os 22 melhores para disputar a medalha olímpica é de meros 80 pontos. Como apenas um judoca por país se classifica, eles adotam estratégias diferentes para lidar com a pressão e a responsabilidade de pontuar nas próximas competições.

Por conta dessa situação, o contato entre os dois é mais limitado. "Hoje em dia a gente até evita treinar um com o outro, porque a gente pode acabar se encontrando em uma competição lá fora", explicou Pessanha. Foi assim na manhã de quarta-feira, durante treinamento em São Paulo: Camilo praticou com Breno Alves (-60 kg), enquanto que Pessanha trabalhou com Marcelo Contini (-73 kg).

Os dois só viraram adversários a partir deste ciclo olímpico, quando Camilo decidiu subir de categoria para o peso médio (-90 kg). Quinto colocado, com 1000 pontos, ele assume toda a responsabilidade de chegar à sua terceira olimpíada - foi prata em Atenas 2004 e bronze em Pequim 2008. "O atleta de alto rendimento está sobre pressão o tempo todo. A pressão sempre vai existir", disse, com propriedade: "você aceita isso ou você desiste. Então, não tem meio termo na minha vida".

Hugo Pessanha, por sua vez, faz o contrário: "apesar de estar muito em cima e de todo mundo falar disso, tenho que esquecer um pouco de pontos, de ranking e de Olimpíada. Se você ficar com muita coisa na cabeça não faz o principal, que é lutar bem. E se não luta bem, não pontua. E se não pontua..." Sexto colocado com 920 pontos, o judoca nunca disputou uma olimpíada. "É uma superação diária", disse, sobre ter que bater Tiago Camilo.

Rivalidade saudável

Tiago Camilo foi extremamente sucinto ao comentar a relação dos dois diante do fato de que um deles não vai poder disputar a Olimpíada. "Acredito que somos companheiros de competição. Quando você está lá dentro, dois lutam e um ganha. Isso é normal e natural para mim", explicou. Hugo Pessanha, que fez muitos elogios ao adversário, tem pensamento bem parecido.

"A gente tem que saber separar as coisas. Ele é meu adversário, mas não é meu inimigo", disse. "Quando a gente compete, nos falamos pouco porque ele está na concentração dele e eu não quero atrapalhar, ou eu estou na minha e ele também não atrapalha. Mas, acabou o campeonato, a gente conversa, come na mesma mesa, se ajuda", complementou.

O próximo compromisso de Hugo Pessanha e Tiago Camilo é o Grand Slam de Paris, de 4 a 5 de fevereiro. Depois, encaram o Grand Prix de Dusseldorf, de 18 a 19 de fevereiro. Ainda terão pela frente o Pan-Americano de Montreal, de 26 a 29 de abril. Mas como só um atleta por categoria pode ser indicado, a Confederação Brasileira de Judô não enviará nenhum dos dois caso a indefinição permaneça. A competição alemã, portanto, definirá quem se classificará.

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