Lendas, Zico, Dinamite e Romário discordam sobre novo Maracanã

Maracanã será sede das finais da Copa das Confederações e da Copa do Mundo Foto: Divulgação

Maracanã será sede das finais da Copa das Confederações e da Copa do Mundo

A geral do Maracanã – espaço próximo ao campo onde os torcedores assistiam às partidas em pé – foi extinta em abril de 2005. Em fevereiro, quando o governo estadual promete entregar a obra, estará finalmente terminado o processo de modernização do estádio mais tradicional do País e local da final da Copa do Mundo de 2014. As lembranças do palco antigo virão à memória de figuras históricas do futebol carioca. Mas eles terão de olhar para frente.

Verão um estádio novo, restando do antigo praticamente apenas a fachada externa. E terão de se acostumar. “Do que sinto saudade já estava acontecendo antes da reforma, foi o término da geral. Comemorei muitos gols juntos com os ‘geraldinos’ e podia ver de perto o quanto dava felicidade para aquela gente, a maioria humilde e que deixava às vezes de comer para comprar um ingresso”, diz Zico, autor de 333 gols no estádio – é o seu maior artilheiro – com as camisas de Flamengo e Brasil.

“Mas gostei bastante da repaginação do Maracanã. Acho que ele não perde a aura do que representa. A modernização era necessária pela forma como o futebol é visto hoje”, completa Zico, que deixou recentemente a seleção do Iraque.

Romário discorda. Para ele, o novo estádio vai ficar belíssimo. Mas nem devia ser chamado mais de Maracanã. “O estádio vai ficar lindo, talvez se torne até o mais bonito do mundo. Só que infelizmente hoje o Maracanã está totalmente desfigurado. A verdade é que bonito ele vai ficar. Só não vai ser mais o Maracanã”, explica o ex-camisa 11 do Brasil, que se lembra com carinho dos gols marcados na vitória sobre o Uruguai, nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994 – o Brasil corria risco de não se classificar.

“Foi gasto muito dinheiro em vão. O anel superior do Maracanã não precisaria ter sido tirado para a colocação de um novo. Poderia ter sido usado o mesmo material que foi usado no Beira-Rio, mas, enfim, cada engenheiro e cada arquiteto com a sua cabeça”, completa Romário, que agora briga na Câmara dos Deputados pelo futebol.

Diferente da época em que Zico era tachado como “jogador de Maracanã”, hoje o futebol é encarado basicamente como um grande negócio. No ramo do entretenimento, um dos mais rentáveis. E a um estádio daquele tamanho não é permitido dar prejuízo. Por isso que, no projeto de sua reestruturação, está previsto que haverá lojas e bares dentro do complexo e uma empresa privada assumirá a tarefa de administrá-lo.

Roberto Dinamite, que foi criado naquelas arquibancadas e encantou dentro daquele campo, aprecia a chegada da modernidade. Hoje ele é o presidente escalado para tirar o Vasco do abismo financeiro. Analisa o Maracanã com olhos de administrador.

“Se você vai a uma Copa do Mundo, todos os estádios já têm essas coisas (bares, lojas etc). Outros estádios vão estar acompanhando isso. Para um empreendedor é bom porque são outras formas de receita. Acho importante os estádios terem vida própria”, afirma o ídolo vascaíno, que marcou um dos gols mais bonitos do Maracanã em 1976, contra o Botafogo, quando aplicou lençol no zagueiro e fuzilou o goleiro.

“Vai ficar na memória o Maracanã antigo, mas acho que vou gostar muito mais do estádio novo porque, pelo que pude ver, o público vai ficar bem mais perto do campo e vai haver um eco muito maior do torcedor, o que no Maracanã antigo só acontecia com mais de 100 mil pessoas no estádio. Vai ter uma capacidade menor, mas vai atingir plenamente essa coisa do Maracanã de ter o torcedor ali perto vibrando e criando uma atmosfera boa”, espera o dirigente vascaíno. “Acho que a gente tem que acompanhar a evolução. Na geral, a gente ficava lá em pé o tempo todo. Agora todo mundo vai ficar mais próximo ainda do campo do que numa geral e tendo conforto. É algo bastante positivo.”

A maior preocupação dos clubes do Rio é com a concessão do Maracanã. Os times cariocas estão proibidos de participar da licitação que vai deixar o palco na mão de uma empresa provada pelos próximos 35 anos. Há receio de que os preços cobrados pela concessionária sejam muito "salgados".

“É um direito do estado privatizar o Maracanã, mas tem de ser uma coisa bem profissional, e a empresa que for responsável tem que entender que o estádio é um patrimônio mundial, histórico. Se a empresa ganhadora da licitação tiver isso em mente, eu sou a favor”, avalia Romário, que já pensa até no conforto de poder prolongar a partida para os bares do complexo. Mas nada de cerveja. “O máximo que eu poderia beber é um espumante, porque não gosto de cerveja.”

Terra

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