"Regra do vôlei" divide tenistas e promete confusão em 2013

Brasileiro Thomaz Bellucci é favorável à não repetição do saque quando há o toque na fita da rede Foto: Bruno Santos / Terra

Brasileiro Thomaz Bellucci é favorável à não repetição do saque quando há o toque na fita da rede

Implementada no vôlei em 2000, a regra do "no let" promete confundir o início da temporada 2013 do tênis. Os três primeiros meses serão utilizados como teste do novo regulamento em torneios challenger, que compõem o segundo escalão do circuito. Jogadores ouvidos pelo Terra não chegaram a um consenso sobre a novidade, segundo a qual o saque não precisará mais ser repetido caso toque a fita e caia dentro da linha do T correspondente, na quadra do adversário.

Embora a Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) tenha anunciado a novidade em 12 de setembro, alguns tenistas desconhecem o teste, conforme ressalta Carlos Bernardes. Árbitro de cadeira integrante do gold badge, grupo de elite da ATP, o brasileiro afirma que a ideia é levar a novidade, desde que aprovada, às competições de primeiro nível organizadas pela entidade, os ATPs e os Masters 1000. Os Grand Slams, a Copa Davis e os futures (torneios de terceiro escalão) são regidos pela Federação Internacional de Tênis (ITF), que não adotará o experimento. Esse caminho também será seguido pela Associação de Tênis Feminino (WTA), que coordena a modalidade entre as mulheres.

Contatado pelo Terra, Bernardes se mostra favorável à alteração, a qual ele acredita que não alterará significantemente o jogo. "Não há dez lets em uma partida", diz. Um dos benefícios, segundo ele, é que os eventos poderiam abrir mão do "caro" equipamento eletrônico que atualmente emite um som para acusar quando a bola toca a rede após um serviço.

O juiz analisa que o "let" muitas vezes não altera a direção da bola, pelo toque ser muito sutil. Ele projeta que o teste beneficiará na maioria das vezes o devolvedor, indicando que as redes no circuito internacional são "muito esticadas". Assim, muitas bolas devem tocar a fita e subir, facilitando o trabalho do devolvedor, em vez de cair e morrer próxima à rede, o que ajudaria o sacador.

Presidente da ATP, o australiano Brad Drewett disse em setembro que o experimento deve ter "um impacto positivo na fluidez da partida", embora tenha admitido que a alteração "não reduzirá materialmente a duração do jogo". Desde 1999, o "no let" já é aplicado na primeira divisão do tênis da NCAA (liga universitária dos Estados Unidos).

Um dos primeiros challengers a testar a regra é o Aberto de São Paulo, que será disputado a partir de 29 de dezembro no Parque Villa Lobos. Treinado por João Zwetsch, capitão do Brasil na Copa Davis, o gaúcho Guilherme Clezar participará desse torneio e precisará se adaptar à nova regra, mas diz que não está treinando a partir dela. O motivo é que logo depois, em janeiro, ele disputará o qualificatório para o Aberto da Austrália e a gira sul-americana de saibro, com início no ATP 250 de Santiago, em fevereiro; nesses eventos, o "let" seguirá ativo.

Diminuir o tempo dos duelos é um objetivo da ATP, que para 2013 também implementará a recomendação para os árbitros serem mais rígidos, conforme afirma Bernardes, quanto à regra dos 25 s que os sacadores têm para colocar a bola em jogo entre um ponto e o outro.

Veja a opinião de tenistas e técnicos sobre o teste da regra do "no let":

Thomaz Bellucci (número 33 do mundo em simples)
A gente tem discutido essas mudanças nas reuniões dos jogadores. Vários estão de acordo de não ter mais "net" ("rede" em inglês) no tênis, no vôlei já não tem. Muitas vezes ficamos discutindo se foi ou não "net". Fizeram uma pesquisa, acho que a média é de dois ou três "nets" por set, então é muito pouco. E muitos deles não mudam a trajetória da bola.

Bruno Soares (número 19 do mundo em duplas)
Sou extremamente a favor do "no let". A ITF e a ATP já têm um estudo sobre a média de "let" por set, cerca de 2,5. É uma coisa que não afeta. Hoje com a velocidade do saque fica muito difícil para as máquinas ou o olho do árbitro medirem alguns dos "nets", o que acaba dando uma confusão desnecessária. Não acredito que vá beneficiar ninguém - nem devolvedor, nem sacador. Acho que vai ser uma coisa neutra; em alguns casos um vai ter sorte, em outros casos o outro. Isso faz parte do jogo de tênis, assim como uma bola na fita qualquer.

Tommy Robredo (número 114 do mundo em simples)
Challengers ou futures? (O espanhol não tinha certeza sobre onde ocorreria o teste da nova regra). Qualquer jogador, sempre que há uma mudança, diz que não, estamos acostumados e dissemos que não. Depende se for fazer mudança para o espetáculo melhorar. Creio que entra um pouquinho de sorte com essa mudança, e isso não é o ideal.

Jaime Oncins (ex-tenista, técnico de Gastão Elias, número 139 do mundo em simples)
Vamos ter que treinar (a nova regra). Não tenho ideia se sou a favor ou contra: vai ter que experimentar para ver como funciona. O que acho é que eles (ATP) poderiam especificar a tensão da rede e ter um padrão, porque cada uma tem uma tensão diferente, o que determina se a bola vai subir, vai cair. Acho que com certeza vai ter (confusão no Aberto de São Paulo). Estou até curioso para ver como vai rolar. Alguns jogadores vão esquecer, talvez até os árbitros vão cantar "let". Acho que algumas mancadas devem acontecer.

Guilherme Clezar (número 235 do mundo em simples)
Acho um pouco estranho. Não estamos treinando com essa nova regra, porque vai ser só o primeiro torneio (Aberto de São Paulo), então não vale a pena. Com certeza (haverá confusão nesse torneio), vai demorar até pegar o ritmo, porque estamos acostumados. Acho que não faz muita diferença, acontece em poucas bolas, mas sou contra.

Christian Lindell (número 530 do mundo em simples)
Vou jogar futures na Europa até abril, então não vou ter essa regra, mas acho ruim, não vejo muito sentido. O "net", se bater na fita e deixar como vai ser, aposto que vai ter um monte de gente no Aberto de São Paulo esquecendo, parando o ponto (risos). Depois se acostuma.

Rodrigo Grilli (número 410 do mundo em duplas, defendeu a Universidade da Califórnia no NCAA)
Não sabia (a nova regra), vou procurar me informar para o Aberto de São Paulo. Na universidade lembro que nosso técnico nos falava sobre a rede de cada universidade adversária, porque cada uma tinha a rede mais mole ou mais esticada, e isso interferia se a bola ia descer ou cair no "no let".

Terra

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