“Confiança muito acima” que nos tempos de Ferrari faz Massa ver Williams como virada na carreira


















Confiança renovada. Talvez seja este o principal ponto positivo da mudança de Felipe Massa para a Williams. A troca de equipe no início de 2014, nas palavras do próprio piloto, foi uma virada na carreira.

Desde o acidente no GP da Hungria de 2009, Massa não convencia. Ele sempre garantiu que o acidente não mudou sua forma de guiar, que fez todos os exames que podia para se certificar disso — e sua versão é crível. Mesmo assim, para muitos fãs, aquilo foi um marco. “Depois do acidente, ele não foi mais o mesmo”, é comum se ouvir por aí.

Ceder a vitória a Fernando Alonso no GP da Alemanha de 2010 foi outro duro golpe. Uma vitória — por coincidência, exatamente um ano após o acidente — mostraria que o piloto que ficara seis meses afastado dos carros de F1 realmente podia se destacar. Após aquele episódio, entretanto, Massa raramente foi capaz de bater de frente com Alonso na Ferrari. Em todas as quatro temporadas que passaram juntos, o espanhol teve pelo menos 100 pontos de vantagem.

E, sem dúvida, o ponto mais baixo de todo este período foi o primeiro semestre de 2012. O carro não era bom, mas Massa estava completamente perdido. Não conseguia encontrar um bom ritmo — até em demissão se falou. Foi somente no GP da Inglaterra, nona corrida do campeonato, que ele deu sinais de reação — e, então, embalou uma sequência de dez provas nos pontos entre a Hungria e o Brasil e subiu ao pódio duas vezes. Em Interlagos, desabou em lágrimas — algo que não costuma fazer.

Há um ano na Williams, é Felipe Massa quem faz a avaliação de que sua confiança está “muito acima” do que nos tempos de Ferrari. O que aconteceu entre 2010 e 2013 foi deixado no passado.

“Estou muito bem. Consegui dar uma virada naquilo que estava acontecendo e que eu estava passando na Ferrari. Estou muito bem, feliz, 100% motivado e com uma confiança muito acima do que eu estava quando saí da Ferrari”, diz o piloto de 33 anos em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO no motorhome da Williams em Jerez de la Frontera, durante o primeiro teste da pré-temporada.

Por exemplo: uma coisa que Massa não conseguiu nos últimos anos foi fazer todo um campeonato obtendo grandes resultados. Em 2010, até conquistou cinco pódios ao longo da temporada, mas oscilou bastante desde então. E isso valeu também para 2014, quando foi novamente na segunda metade do campeonato que ele se destacou e alcançou pódios — três.

Mas a confiança na própria performance e também no trabalho que vem sendo executado pela Williams visando a temporada 2015 fazem Massa acreditar que, desta vez, vai ser diferente.



















“Eu estou tranquilo, até porque faltar ponto na primeira metade do ano porque está faltando ritmo é uma coisa. Faltar ponto, mas estar no ritmo, largando na frente, é diferente. Como eu vim falando: as corridas em que perdi pontos em 2014 foram onde aconteceu alguma que não foi culpa minha. Diferente de alguns anos na Ferrari, em que eu perdi ponto porque não estava na frente”, reconhece.

O momento foi aproveitado para se refletir a respeito do último campeonato e de alguns momentos dele em particular.

“A segunda parte do ano foi muito mais fácil do que a primeira”, avalia. “Se você olhar o dia que cheguei aqui, que comecei a trabalhar, o trabalho era muito longo pela frente. Lógico que a gente já conseguiu ter um carro competitivo, isso ajudou muito. Mas era óbvio o que tinha de fazer. Se a gente olhar para onde está neste momento e onde estava no ano passado, é uma equipe completamente diferente. Isso mostra que o trabalho é muito, muito forte, mas mostra uma evolução também.”


 Na primeira metade do campeonato passado, Massa se envolveu em uma série de acidentes: na Austrália, foi tirado da prova na largada por um Kamui Kobayashi sem freios; em Mônaco, a Caterham de Marcus Ericsson o acertou em pleno treino classificatório durante o Q1, acabando com sua sessão; no Canadá, foi acertado por Sergio Pérez na última volta em uma briga pela quarta posição; na Inglaterra, Kimi Räikkönen surgiu em sua frente no meio de uma reta após acertar o guard-rail; na Alemanha, chocou-se contra a McLaren de Kevin Magnussen na primeira curva e capotou. Ainda teve o pit-stop de um minuto na China e o pedaço de pneu que ficou preso no assoalho do carro por dois stints no GP da Bélgica.

“Aconteceram muitas coisas que me deixaram chateado, muitos pontos perdidos. Falta de sorte que não foi culpa minha. Alguns, talvez até teria feito de maneira diferente, para não entrar neste problema”, admite. Levando em conta essas adversidades, certamente o resultado do Mundial de Pilotos seria melhor do que o sétimo lugar.

Quais? “O Magnussen, eu não vi que ele estava lá. Tem uma diferença onde, tipo, ele estava atrás, eu não via ele. Nesse caso, é o piloto que está atrás que tem que tomar uma decisão. A gente tem que enxergar também que era um piloto no primeiro ano e que causou muitos problemas na primeira volta. Então eu acabei entrando em um problema. Não acredito que tenha sido culpa minha. Mas talvez, pensando nisso, que era um cara maluco de primeira volta, poderia ter feito de maneira diferente. Acabei entrando em um problema.”

Massa não está errado ao considerar que “tinha a chance de ter pódio em quase todas essas corridas, que fosse um quarto lugar, na pior das condições”. De fato, nestes quatro GPs, o carro da Williams era bom, e Valtteri Bottas foi segundo em dois deles.

Por outro lado, um aspecto positivo que Massa destacou a respeito de sua temporada 2014 foi o trato com os pneus. “Em várias corridas, talvez eu tenha sido o piloto que melhor conseguiu usar o pneu”, comenta. Este não era seu ponto forte nos tempos de Ferrari, e mesmo na Williams ele acabou sofrendo no GP da Espanha com esta dificuldade. Mas foi só lá. Em Cingapura, guiou "feito uma vovó" para garantir o quinto lugar. Em Abu Dhabi, foi excelente ao cuidar de um jogo de pneus médios no trecho intermediário da prova sendo mais rápido que Lewis Hamilton com a Mercedes para fazer um stint curto com supermacios no final e cruzar a linha de chegada apenas 2s5 atrás do campeão mundial.

“Aprender a usar o pneu não é só acertar o carro, é o jeito de guiar. A gente tem um motor, especialmente esses motores turbo, que o torque vem muito antes. E se você não entender que tem que usar o carro da maneira correta, em três voltas acaba o pneu. Você tem que preparar para o final. Esse foi um jeito onde eu consegui melhorar muito mais, tentando levar o pneu lá pra frente, ou com o carro pesado em geral. Antigamente, isso não existia, era sprint. Hoje em dia, é muito mais técnica”, explica.


 “Superconfortável” dentro da Williams, Massa segue se preparando para o campeonato seguinte para cumprir o objetivo que deixou claro na primeira parte desta entrevista exclusiva ao GP: voltar a vencer. Para isso, o trabalho dele e da equipe precisará ser perfeito, o que envolve “cobrar na hora certa e até ver se algo não está acontecendo da maneira certa do seu lado”.

O próximo teste de pré-temporada terá início em 19 de fevereiro, em Barcelona. A primeira corrida do ano está marcada para 15 de março, na Austrália.

UOL Esporte

Comentários