Fifa constrói "herói" e tenta melhorar imagem contra jogos manipulados

Simone Farina (à esq.) recebeu homenagem na festa da Fifa por denunciar esquema de corrupção na Itália. Foto: AP

Simone Farina (à esq.) recebeu homenagem na festa da Fifa por denunciar esquema de corrupção na Itália

Depois de um ano marcado por uma grave crise institucional, a Fifa deixou a defensiva para tentar melhorar a imagem da entidade. Aproveitando a presença da mídia internacional em Zurique para a cobertura do prêmio "Bola de Ouro", a federação realizou uma apresentação para detalhar um plano contra esquemas de manipulação de resultados.

Para promover o programa, nada melhor que um herói. O italiano Simone Farina recebeu homenagem especial na festa de segunda-feira por ter denunciado um esquema de corrupção na segunda divisão de seu país. Foi chamado ao palco principal para receber um prêmio fair play após um discurso inflamado no qual disse que a Fifa vai combater os "demônios" que assombram o futebol.

Nesta terça, durante a sua apresentação, o chefe do departamento de segurança, Chris Eaton, voltou a mencionar Farina como exemplo a ser seguido. "Ele resistiu e denunciou. Não é fácil fazer o que ele fez. Acredito que existam outros que resistiram, mas muitos não tiveram como dizer o que estava acontecendo", afirmou.

O exemplo serve como uma das bases do programa, que prevê a criação de canais para novas denúncias, a regionalização do combate e um aperfeiçoamento das leis nacionais para evitar a impunidade. O maior desafio é conseguir delimitar a prática de apostas ilegais, que forma a base do sistema de manipulação de resultaos. "Não existem fronteiras no sistema de apostas com a internet".

Chris Eaton disse que a estimativa é que as apostas movimentem no mundo um valor superior a U$ 500 bilhões (cerca de R$ 917,5 bilhões). "E é um número baixo", alerta. Só na Itália, as apostas legais, estimadas em 30%, é de U$ 4 bilhões (R$ 7,34 bilhões). "Quando falamos de apostas, não estamos falando só de futebol. É uma questão muito complexa".

Recentemente, jogadores italianos, entre eles Cristiano Doni, admitiram participação e um esquema de manipulação de resultados após investigação da justiça do país. "Isso é resultado de um trabalho bem feito para combater as apostas", afirmou.

A apresentação de um plano de combate a uma prática que extrapola o futebol evidencia o esforço da Fifa em criar uma agenda positiva. Em outra frente, Blatter anunciou em outubro a criação de forças de tarefa para combater a corrupção depois de um ano marcado por denúncias de suborno, suspensões de membros de seu comitê executivo e brigas internas.

Dentro deste cenário, Blatter promete divulgar um dossiê do caso ISL, que, segundo a rede britânica BBC, incriminaria o seu principal adversário político: Ricardo Teixeira. A liberação estava marcada para dezembro, mas o presidente alegou entraves judiciais para o adiamento. É esperada a divulgação nos próximos meses.

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