Palmeiras pós-Marcos vive clima de velório em 2º dia sem ídolo

Silêncio dos jogadores marcou treino do clube no segundo dia sem o ídolo palmeirense. Foto: Mauro Horita/Terra

Silêncio dos jogadores marcou treino do clube no segundo dia sem o ídolo palmeirense

Apenas no segundo dia sem seu principal ídolo das últimas duas décadas - o agora ex-goleiro Marcos, que anunciou aposentadoria na última quarta-feira -, o clima no Palmeiras era de velório nesta sexta, na Academia de Futebol. O silêncio tomava conta dos gramados, onde os atletas realizavam treino físico passado por Luiz Felipe Scolari. No campo ao lado, os goleiros que restaram faziam atividade com os preparadores, também sem maior alarde. No rosto de cada um, a expressão era só uma: de tristeza.

"Já faz muita falta aqui, dá aquela sensação de que falta alguma coisa, até porque ele era querido por todo o grupo. Mas sei que logo logo ele está aí de volta, como dirigente ou qualquer coisa, porque a vida dele é no Palmeiras. Não vejo ele em outro lugar que não aqui", afirmou o preparador de goleiros do clube Carlos Pracidelli, em contato com o Terra. Ele trabalhou com o atleta desde seu primeiro ano no clube, em 1992.

De fato, a ausência do ídolo ainda atinge o elenco palmeirense. Querido pelos funcionários do clube em que passou 20 anos de sua vida, Marcos deixou para trás duas décadas de amizades e histórias vividas na agremiação alviverde. Entre os jogadores, o abatimento ainda era visível.

O goleiro Deola, amigo pessoal de Marcos que conviveu com ele por 12 anos no clube, foi um dos mais tristes pelo adeus do craque. "Lembro de quando cheguei aqui, com 17 anos, e vi o Marcos, já um ídolo. Ele veio, me cumprimentou, conversou comigo. O ano começa meio triste. Vai fazer falta não estar mais ali ao nosso lado", definiu o camisa 1.

"É até difícil falar, vai acabar a coletiva e vou falar muitas coisas que ele representa. Para resumir, ele é um ícone. Falei dos que vi jogar e não foi só no Palmeiras. Ele é o ídolo maior no Brasil, espelho da criançada, o número de goleiros aumentou muito por causa dele, do Rogério e do Dida. Ele acrescentou muito ao futebol do Brasil", continuou, sem poupar elogios ao "Marcão", como é carinhosamente conhecido no clube.

E não é apenas entre os mais antigos que a angústia aparece. Os mais novos, como o lateral Juninho, recém-contratado junto ao Figueirense, também destacaram o sentimento negativo por não poder conviver ao lado do astro. "Cheguei agora e ele já está encerrando, não tive muito contato infelizmente, mas sei a grande pessoa que ele é, o que ele representou aqui", declarou o atleta.

Entre os torcedores, o ambiente também é de melancolia. Os adeptos do time alviverde até esqueceram a raiva pelos resultados ruins e não repetiram as manifestações efetuadas na última quarta-feira, quando cerca de 500 torcedores compareceram ao CT para protestar contra o time, justamente no dia do adeus do "São Marcos", apelido conquistado pelos "milagres" realizados pelo clube na Libertadores de 1999.

Sem Marcos, a equipe agora entra em uma temporada turbulenta justamente sem a presença de seu jogador mais querido, mas deve tê-lo de volta em breve para algum cargo administrativo. "Em uns dois meses ele está aí de volta", exaltou Deola, lembrando da paixão do ex-goleiro pelo time alviverde. E o torcedor, por sua vez, torcerá como nunca para que os "milagres" do ídolo pelo Palmeiras continuem fora dos gramados.

Exemplo de amor à camisa no futebol moderno

A carreira de Marcos pode ser classificada como uma das mais bonitas dos últimos anos. Mesmo consagrado e objeto de desejo de grandes clubes europeus durante a trajetória dentro dos gramados, o goleiro deu um raro exemplo de "amor à camisa" no futebol moderno. O camisa 12 permaneceu os quase 20 anos de vida futebolística na mesma instituição: a Sociedade Esportiva Palmeiras.

Com a camisa alviverde, Marcos conquistou os maiores títulos da organização paulista. Campeão brasileiro nos anos de 1993 e 1994, o goleiro alcançou o auge da carreira. Em um espaço de apenas três meses, deixou o banco de reservas para se tornar um dos principais responsáveis pelo título inédito da Copa Libertadores da América de 1999, a maior glória obtida pelo Palmeiras até hoje.

Já tratado como ídolo, Marcos conquistou ainda mais a torcida na edição seguinte da competição sul-americana. Embora tenha passado por um péssimo momento de pressão, após falhar na decisão do Mundial de 1999 (não conseguiu interceptar um cruzamento de Ryan Giggs, que resultou no gol do título do Manchester United, marcado por Roy Keane), o goleiro se tornou símbolo da vitoriosa geração alviverde ao novamente impedir o arquirrival Corinthians de seguir no torneio.

Na semifinal, Marcos defendeu o pênalti cobrado por Marcelinho Carioca, principal ídolo corintiano na época, e classificou o Palmeiras à decisão da Libertadores de 2000 - competição na qual o time acabou como vice-campeão.

Ídolo consolidado dentro do clube, Marcos atingiu o Brasil inteiro em 2002. Goleiro de confiança do técnico Luiz Felipe Scolari, o representante palmeirense vestiu a camisa 1 da Seleção Brasileira e teve participação fundamental na conquista do pentacampeonato, especialmente na decisão contra a Alemanha.

As grandes atuações despertaram o interesse europeu. O Arsenal, depois de conhecer o goleiro palmeirense na Copa do Mundo do Japão e da Coreia do Sul, buscou a contratação de Marcos. Entretanto, na contramão do futebol moderno de negócios, o jogador rejeitou a proposta e seguiu na instituição alviverde, apesar do rebaixamento à Série B do Brasileiro em 2003.

Marcos passou pela pior crise da história palmeirense sem ter o respeito adquirido durante o fim da década de 90. O jogador seguiu convivendo com lesões, alguns vexames (como a goleada de 7 a 2 para o Vitória, pela Copa do Brasil de 2003, no Palestra Itália) e grandes atuações. O último título conquistado pelo camisa 12 no único clube da carreira foi o Campeonato Paulista de 2008.

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