Eurocopa do politicamente correto tem lutas internas contra polêmicas

Após gol, Bonucci calou Balotelli para evitar mais polêmicas na seleção italiana. Foto: Getty Images

Após gol, Bonucci calou Balotelli para evitar mais polêmicas na seleção italiana

Não poderia haver gesto mais perfeito para definir a Eurocopa do politicamente correto do que o de Leonardo Bonucci. Mario Balotelli, exceção e bad boy, se voltou com palavrões às câmeras e às arquibancadas depois de marcar contra a Irlanda, na segunda-feira. Bonucci se antecipou e cobriu a boca do centroavante, verdadeira metralhadora giratória. Assim tem sido desde o fim de maio em quase todas as 16 seleções do torneio.

Nos momentos mais extremos, em que a polêmica se aproxima, os esforços são grandes para neutralizá-la. Em meio a um tenso duelo entre russos e poloneses, na primeira fase, que acabou com confrontos pelas ruas de Varsóvia, praticamente nenhum jogador da equipe da casa se pronunciou de forma direta. "Desista de perguntar sobre isso. Eles não vão falar", disse ao Terra um jornalista da Polônia, após Lewandowski, Blaszczykowski e Tyton saírem pela tangente e negarem a motivação que havia sido vista em campo.

De fato, como já era de se esperar antes de a competição se iniciar, os assuntos extracampo, sobretudo políticos e econômicos, têm dividido o noticiário esportivo europeu. Assim foi com espanhóis, gregos e portugueses, principalmente, todos em crise e ameaçados de deixar a zona do euro. Ou na Ucrânia, com as manifestações do Femen, grupo feminista que luta contra a prostituição, e a prisão da ex-primeira ministra Timochenko por motivações políticas. Ou com os italianos envoltos a novo escândalo no futebol local.

Em nenhum desses episódios, salvo exceções bastante pontuais, um jogador de uma das seleções envolvidas se posicionou. "Chega a ser irritante o quanto eles são treinados. Os treinos são dentro e fora do campo", resmungou um jornalista alemão a um colega, quarta-feira, em Gdansk. Ele se referia ao zagueiro Badstuber, que assim como todos os membros de sua equipe se recusou a falar sobre a crise na Grécia, próximo adversário dos germânicos. "Farão conotações políticas", advertiu o defensor.

Italianos e portugueses, por sinal, também já realizaram greve de entrevistas durante a Eurocopa. Nas vésperas do início da competição, em Cracóvia, apenas o treinador Cesare Prandelli atendeu a imprensa em razão dos escândalos de manipulação de apostas que correm à Itália e provocaram o corte do lateral Criscito. "Não podemos falar por causa dessa situação", disse aos jornalistas brasileiros o também brasileiro Thiago Motta. Em Portugal, as críticas da mídia restringiram as palavras do elenco que só tem falado quando obrigado pela Uefa.

O ponto alto para os jornalistas que sempre estão em busca de declarações espontâneas e longe do politicamente correto, certamente, se deu quando Antonio Cassano apareceu para uma entrevista coletiva. Versão madura de Balotelli, o também bad boy que já declarou ter dormido com mais de 700 mulheres brincou com repórteres, tradutor, palpitou e até derrapou com um comentário homofóbico ao usar o termo "frocio", pejorativo para os gays no idioma italiano.

A Federação Italiana, após horas de silêncio, disparou um comunicado com um pedido de desculpas que continha a assinatura de Cassano, mas que em nada soou espontâneo como a reação do jogador à questão sobre possíveis dois jogadores gays no elenco dirigido por Cesare Prandelli. E que possivelmente só ocorreu por que Bonucci não estava por perto para também tapar a boca do bad boy mais velho de sua seleção.

Terra

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