Brunoro admite temor por discussão com torcida na rua e quer 3 meses para arrumar o Palmeiras

Brunoro tem a missão de reerguer o Palmeiras financeiramente

Brunoro tem a missão de reerguer o Palmeiras financeiramente

A torcida do Palmeiras tem um histórico negativo de violência, com agressões a torcedores e dirigentes. O diretor-executivo do clube, José Carlos Brunoro, admite que tem receio de uma discussão mais ríspida com torcedores em locais públicos. “Eu nunca temi pela segurança física. Mas eu temi por discussões em público, a pessoa vir tomar satisfações”, contou. O dirigente recebeu o UOL Esporte em seu escritório no CT do clube para uma entrevista exclusiva e falou também sobre os desafios de sua nova etapa no Palestra Itália. 

Brunoro vestia traje social e disse que poderia falar por 20 minutos, porque precisava viajar. Não perdeu o avião, mas respondeu às perguntas durante 45 minutos.

Brunoro falou sobre as dificuldades com a resistência interna no Palmeiras, especialmente após a venda de Barcos, o que gerou insatisfação de muitos conselheiros. Ele adiantou que pediu a uma empresa um estudo completo para ver em que pé estão todos os departamentos e que pretende estruturar melhor o clube, inclusive os projetos para o centenário, em um prazo de três meses.

O dirigente também comparou a situação atual do clube com sua primeira passagem, na década de 1990, quando teve uma vitoriosa parceria com a Parmalat. Brunoro revelou que o orçamento de 2013 está todo comprometido e que a prioridade no momento é remontar um elenco forte e barato. Leia abaixo a entrevista com Brunoro.

UOL Esporte - Após a negociação com o Barcos, alguns conselheiros ligaram ao presidente Paulo Nobre para pedir a sua cabeça. Como lidar com isso?
José Carlos Brunoro - Para mim é normal. Em todo meu trabalho eu quebrei paradigmas. E quando isso ocorre, acontece uma rejeição. Já estou acostumado. 90% dos meus trabalhos deram certo e estou muito consciente do que fiz, do que estamos fazendo e do que faremos. Agora, profissionalmente você pode ser contestado. Podem querer que eu saia. Mas quem tem interesse que eu saia tão rapidamente é porque tem interesse que o clube continue com problemas. Como querem dispensar alguém em 20 dias? Querem que continue como está, mas é minoria. O trabalho vai mostrar que o Palmeiras está em um caminho moderno, respeito opiniões, dou explicações e as pessoas podem gostar ou não. Não posso querer que todos aceitem meu trabalho. O presidente pode me tirar quando quiser, mas acho que seria ruim o Palmeiras perder esse processo de profissionalização que estamos implantando.

UOL Esporte - A torcida do Palmeiras tem um histórico de violência. Você já temeu pela sua segurança?
Brunoro - Eu sou um cara que,mesmo quando fui muito famoso, nunca deixei de frequentar nenhum lugar em função de atitude de torcedores. O caso do Barcos magoou todo mundo, até nós. Quem não gostaria de ficar com o Barcos? O Paulo sofreu muito, eu sofri, mas não teve jeito. Eu nunca temi pela segurança física, inclusive continuo saindo. Mas eu temi por discussões em público, a pessoa vir tomar satisfações.

UOL Esporte - Em 92, entrou mais dinheiro do que é possível entrar hoje. Quanto tempo vai levar para organizar a casa hoje?
Brunoro - Não é bem assim. Se você se lembrar bem, quando assumimos em 92 o time estava em 13º ou 14º no Paulista. Chegamos em março de 92, pedi dois meses para tomar ciência do clube e montar um projeto, que é  que estou fazendo hoje também. Escreviam nos muros ‘Parmalat é ilusão’, então temos de ter um tempo para tomar pé das coisas. Contratamos o Mazinho e o Zinho e trouxemos o Evair, que estava afastado e remontamos o time em quatro meses. Chegamos em segundo. Hoje, vamos ter uma condição um pouco melhor de estruturar a partir de junho ou julho, já teremos tomado pé do marketing para ver o que fazer. Preciso de três meses, por aí.

UOL Esporte - Qual foi o maior problema que você encontrou?
Brunoro - Foi pegar o carro andando, sem saber da situação financeira, com os campeonatos em andamento e com janelas fechadas.

UOL Esporte - Com a arena e o centenário do clube pode ser um ano profícuo para o clube, mas não se ouve falar nada ainda.
Brunoro - Quando assumi o cargo, pedi um grande diagnóstico do clube. Ainda não está pronto. Quando tiver essas informações, tomarei decisões e tocarei projetos. Dentro do projeto de marketing, os ganchos serão o centenário, a Arena e revisão do sócio torcedor.

UOL Esporte - Houve ingerência no Palmeiras nos últimos anos?
Brunoro - Olha, o Palmeiras ficou à deriva. E quando não se tem um comando forte, muita gente se aproveita. Para ter influência. Gente do bem e quem não é do bem. Houve muita ingerência e esperamos que isso termine. Vamos ter diretores estatutários com prestação de contas ao COF. Na parte política, o Paulo Nobre tem falado com muita gente, mas ingerência não haverá mais.

UOL Esporte - O Palmeiras, mesmo na Série B, tem a mesma cota de dinheiro da Séria A, porque é o primeiro ano e tem o acordo com o clube dos 13. É time grande, tem dinheiro e torcida. Tem obrigação de ser campeão da Série B?
Brunoro - Acontece o seguinte. Obrigação é muito difícil. Eu posso ter dinheiro todo da série A, mas e se já foi utilizado? É o caso. É complicado. A gente acha que vai resolver as situações, vamos realinhar o marketing. Palmeiras vai ser o clube de maior visibilidade da TV aberta. Quando jogar de sábado de tarde, todos vão transmitir o jogo do Palmeiras. Mas a vida não está mole não.

UOL Esporte - Você quer ser presidente do Palmeiras?

Brunoro - Eu sonhei com isso. Há muito tempo, hoje já não dá mais tempo. Já estou com 62 anos, acho que o Palmeiras tem que arejar. Já voltei, está tudo bem.

UOL Esporte

Comentários