Tentando o bi, São Paulo vive relação de amor e ódio com a Sul-Americana














Ao ser questionado sobre o tamanho da vontade dos jogadores do São Paulo em ganhar a Copa Sul-Americana, o volante Souza não hesitou em usar a palavra "obsessão" para mensurá-la.

Seria um título internacional, ele argumentou, e como a torcida do São Paulo gosta de títulos internacionais! É também possibilidade mais factível de ser campeão neste ano, o ano da despedida de ídolos como Rogério Ceni e Kaká.

O São Paulo não se poupa para jogar a Sul-Americana, um torneio considerado menos importante por muita gente. Foi antes de um jogo da Sul-Americana que Rogério Ceni fez um discurso exortando com voz de choro seus companheiros a dar a vida para superar um modesto Huachipato no Morumbi.

E foi depois de uma final da Sul-Americana, em 2012, que o antigo camisa 7 Lucas chorou ao se despedir do Morumbi com o único título que o São Paulo ganharia naquele ano.

Desde então, o time se tornou o brasileiro mais bem sucedido no torneio, que tem tudo para oferecer finais de alto nível em 2014, já que permanecem vivos clubes tradicionais como Boca Juniors, River Plate e Cerro Porteño

Mas existe o outro lado.

Há muito tempo a Sul-Americana tem sido alvo de críticas de diretores do São Paulo. O torneio é considerado um estorvo financeiro porque remuneraria mal seus participantes e os obrigaria a fazer viagens desgastantes ao interior dos mais variados países sul-americanos.

"As receitas são muito baixas e as despesas, muito altas", pondera João Paulo de Jesus Lopes, vice-presidente de finanças do clube. "Se o São Paulo não tivesse uma comunidade que valoriza muito competições internacionais e dá um bom retorno de bilheteria em casa, teríamos prejuízo."

Para Lopes, o São Paulo só não paga para participar do torneio por causa do dinheiro que vem da torcida nos jogos em casa.

Perdas e ganhos

A Conmebol, órgão que regula o futebol na América do Sul, paga cerca de R$ 2,7 milhões ao campeão da competição, mais uma premiação para cada avanço de fase – o total de repasses é de cerca de R$ 5 milhões para o time que levanta o troféu.

O valor seria insuficiente para repor os gastos com deslocamento e hospedagem. "Os voos são complexos e muitas vezes você tem que fretar aviões para chegar a alguns lugares, o que fica bastante oneroso", afirma Lopes.

Existe ainda um agravante. Como o formato do torneio é o de mata-mata, um clube nunca sabe com muita antecedência aonde terá que viajar na próxima fase. E como sabe todo mundo que já comprou uma passagem de avião ou fez uma reserva de hotel, quanto mais perto da viagem, mais caro você vai pagar.

"Você tem boas arrecadações como mandante, mas esse dinheiro acaba sendo consumido por uma logística complicada", diz Lopes.

E tem, claro, a Copa Suruga.

A Copa Suruga é uma partida patrocinada pelo Banco Suruga, disputada no Japão desde 2008 entre o campeão da Sul-Americana e o campeão japonês do ano anterior. O jogo é no meio da temporada, e a Conmebol paga cerca de R$ 600 mil para seu representante cruzar o globo e jogar por 90 minutos.

Para o São Paulo, que jogou a edição do ano passado, a Copa Suruga não é um direito, mas um dever. Campeão da Sul-Americana em 2012, o time teria que interromper sua participação no Campeonato Brasileiro para disputar um amistoso pouquíssimo importante na Ásia. O clube tentou evitar o jogo, e a Conmebol ameaçou exclui-lo de outros torneios sob sua organização.

A direção então precisou improvisar uma turnê pela Europa para aproveitar a viagem e não ter prejuízo financeiro. No Japão, o time perdeu para o Kashima Reysol em um jogo lembrado apenas pelos são-paulinos mais fanáticos.

(Detalhe que talvez explique o desprezo dos sul-americanos pelo torneio é que desde 2009 nenhum deles venceu o campeão japonês do ano anterior.)

Mesmo insatisfeita com a atual estado das coisas, a direção do São Paulo não vê o que pode fazer para mudar a realidade a sua volta. "O São Paulo isoladamente tem muito pouca força pra mexer com isso", diz o vice financeiro. "Na nossa visão há uma corresponsabilidade muito grande da CBF, que deveria se posicionar com mais firmeza na defesa dos clubes brasileiros."

O presidente são-paulino Carlos Miguel Aidar sorriu na última sexta-feira ao ser questionado durante um evento no Morumbi sobre suas críticas à Sul-Americana. "É ruim, mas quem não gosta de ganhar?", perguntou ele. "Os jogadores querem, a torcida quer, nós vamos aumentar a premiação pelo título [aos atletas] e você pode anotar aí: no dia 10 de dezembro estaremos aqui no Morumbi levantando essa taça."

Pode ser. Mas antes é preciso passar pelo Emelec nesta quarta-feira e encarar a longa viagem de volta desde Guaiaquil até São Paulo. O jogo está marcado para as 22h (de Brasília).

UOL Esporte

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