Brasil é campeão do Mundial de piscina curta. Mas o que isso significa?
















Nunca, em um campeonato mundial de natação, o Brasil subiu tanto no pódio quanto nos últimos dias. Em uma semana, foram sete medalhas de ouro, uma de prata e duas de bronze, dez no total, no Mundial de Piscina Curta de Doha, no Qatar. Não foi só a melhor participação da história do país em um torneio desse porte: foi a primeira vez que o Brasil liderou o quatro de medalhas de um mundial.

É um feito importante para a natação do Brasil. Uma indicação de que os atletas brasileiros têm um potencial enorme para chegar ao sucesso. Mas é preciso colocar um pouco de perspectiva nessa conquista. Imagine a Copa das Confederações: Luiz Felipe Scolari usou o torneio formar o seu grupo para a Copa do Mundo no ano seguinte e fortalecer psicologicamente seu elenco. A geração mostrou muita força em 2013, se transformou em uma das melhores do mundo, mas no ano seguinte, mostrou, também, que ainda não estava pronta para chegar ao topo.

O Mundial de piscina curta deve ser olhado da mesma maneira: é um caminho de sucesso, mas não a certeza de uma chuva de medalhas de ouro. A história da competição, o momento em que ele é realizado na temporada, a importância dada pelas potências do esporte no planeta e as provas em que os brasileiros foram vitoriosos mostram isso.

Brasil foi melhor em provas que não estão no programa olímpico

Esqueça as diferenças entre piscinas curtas, de 25m, e olímpicas, de 50m. Considere apenas as distâncias: mesmo se fosse um Mundial de piscina longa, seria necessário fazer uma ressalva. Dos dez pódios brasileiros, seis foram conquistados em provas que não estão no programa olímpico (4x50 medley masculino, 50m costas feminino, 4x50 medley misto, 50m peito, 50m borboleta, 4x50 livre misto).

Vejo a estrutura da natação brasileira para o feminino completamente diferente e muito boa. Mudanças não se fazem em um ou dois anos. Isso é fruto de um processo do qual um monte de gente fez parte
Etiene Medeiros

Os dois recordes mundiais foram em provas assim: nos 4x50 medley masculino, uma prova nova em Mundiais, e nos 50m costas feminino. É bom ressaltar, porém, que o resultado de Etiene Medeiros é muito, mas muito importante para a natação feminina brasileira. Nunca uma atleta do país tinha subido ao pódio em Mundiais. De curta ou longa. Etiene, aliás, não fez só isso: foi ouro e ainda quebrou o recorde mundial.

História diz que campeões de curta não repetem título na piscina longa

Na natação, ano de Mundial de piscina curta (25m) não tem Mundial de piscina longa (50m). No último ciclo curta-longa, quem ganhou o ouro no primeiro, não ganhou no segundo. Os medalhistas também não costumam se repetir. Do Mundial de 2012, na China, para o de 2013, na Espanha, nenhum dos campeões se repetiu nas provas de 50, 100 e 200 metros de nado livre, para homens ou mulheres.

Nas mesmas seis provas, apenas três nadadores subiram ao pódio na mesma prova no Mundial seguinte. O russo Vladimir Morozov foi ouro em 2012 e prata em 2013 nos 50m livre, a britânica Francesca Halsall foi da prata ao bronze nos 50m livre feminino e o norte-americano Conor Dwyer subiu do bronze para a prata nos 200m.

Pela primeira vez vi a equipe com desejo real de vencer, com a atitude de campeã. Eu sei que as competições têm pesos e "glamour" diferentes, mas essa aqui foi sim muito importante porque estávamos em pé de igualdade com todas as principais equipes
Cesar Cielo

Para os brasileiros, porém, existe um motivo para sonhar. No ciclo anterior, levando em conta os Mundiais de 2010 e 2011, dois nadadores desafiaram essa história e repetiram suas medalhas de ouro. E um deles defendia o Brasil. Cesar Cielo foi ouro nos 50m livre nos dois mundiais, assim como Ryan Lochte, nos 200m. Nas demais provas de nado livre (50m, 100m e 200m), nenhuma outra medalha se repetiu.

O desempenho do Brasil como um todo também mostra isso: em 2010, o Brasil levou oito medalhas no Mundial de Dubai. No ano seguinte, foram apenas três pódios em Xangai – o país, porém, conseguiu três medalhas de ouros em ambos os eventos.

Torneio em fim de temporada não é prioridade de nadadores

Para terminar, o Mundial de curta é disputado em dezembro, no final da temporada. E não é a prioridade dos nadadores. A USA Swimming, a federação de natação dos EUA, define o torneio como "um pouco estranho": é no meio dos ciclos de treinamentos dos norte-americanos e nem todos decidem competir. Quem vai, normalmente está em busca de vitórias para ganhar confiança. Foi o caso de Ryan Lochte, por exemplo, que está em recuperação de uma operação no joelho.

Para as equipes de Estados Unidos, Austrália e Japão, a prioridade nesta temporada foi o Pan-Pacifico, disputado em Gold Coast, na Austrália, em agosto. O mesmo aconteceu no Brasil: Thiago Pereira, Léo de Deus, Matheus Santana, Marcelo Chierighini e Bruno Fratus, por exemplo, que teriam chances de medalha no Mundial, decidiram não competir no Qatar.

O próprio quadro de medalhas mostra que a elite da natação da piscina longa, seja em Mundiais ou Olimpíadas, não é o mesmo na piscina curta: o Brasil foi o primeiro colocado com sete ouros. Em segundo lugar ficou a Hungria, com seis. Em terceiro, a Holanda, com cinco. Os EUA? Apenas em nono lugar, com dois ouros.

UOL Esporte

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