Supercampeã de motos brilha entre homens no Dakar e busca feito inédito

O Rally Dakar teve nesta segunda-feira (12) uma de suas etapas mais difíceis neste ano para as motos. A instabilidade no clima do Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo, na Bolívia, fez a organização adiar a largada e quase alterar o percurso do dia. Diversos pilotos tiveram problemas, e outros foram obrigados a abandonar a competição – um deles, inclusive, com hipotermia.

O cenário caótico pode ter intimidado alguns pilotos, mas para uma em especial, acabou sendo uma motivação. A espanhola Laia Sanz, que compete entre os homens, fez história: conquistou o melhor resultado de sua carreira, ao terminar a especial na quinta posição, apenas 2min36s atrás do vencedor da etapa, e a frente, por exemplo, do atual líder da categoria, Marc Coma.

"Foi um dia extremo. Foi muito difícil no Salar de Uyuni, havia a altitude, o frio, tudo misturado. O importante é que foi o nosso último dia aqui", desabafou Coma, após terminar a etapa em nono lugar. A declaração dimensiona a dificuldade não só do dia, mas da competição: o Rally Dakar é considerado uma das provas mais perigosas do esporte a motor.

A competição é um desafio à altura da carreira de Laia Sanz, que venceu tudo o que já disputou – exceto o Dakar, ao menos por enquanto. A espanhola, que começou a pilotar motos com apenas 4 anos de idade, se tornou uma referência na modalidade Trial, com 13 títulos mundiais, além de diversos outros europeus e espanhóis, que lhe deram a imagem de "supercampeã".

Em 2010, Laia decidiu expandir ainda mais sua carreira. Começou a competir no Mundial de Enduro e a treinar para o Rally Dakar, seu sonho de infância. No ano seguinte, já foi vice-campeã mundial de Enduro e terminou o Dakar como a melhor mulher na competição, com um 39º lugar entre as motos. Desde então, foi tricampeã mundial de Enduro, ouro nos X-Games e sempre terminou como a melhor piloto do Dakar – repetiu o 39º lugar em 2012, foi a 93ª em 2013 e a 16ª em 2014.

Pés no chão

Para o Rally Dakar de 2015, Laia preferiu manter os pés no chão. Como havia sofrido uma lesão no cotovelo no ano passado, declarou antes da largada que esperava apenas repetir o bom desempenho da edição passada. E mesmo assim, foi realista: "Vai ser muito difícil repetir. As pessoas esperam muito de mim, mas não quero colocar pressão porque repetir o ano passado seria muito difícil", reconheceu ao UOL Esporte.

Mesmo que tente não se pressionar, Laia reconhece que sente mais responsabilidade por ser uma mulher em um esporte com tantos homens – havia apenas 11 mulheres na largada do Dakar, 3% do total de 665 competidores. "No fim, você sempre se sente mais observada que o resto. No fim, todo mundo olha o que você faz. Se você faz bem, sempre há quem diga que é a moto, que você teve sorte. E, se você faz mal, é porque você é mulher. Estou acostumada que aconteça isso, mas o que faço é mostrar o contrário", garante.

Focada em seu desempenho, Laia diz que nem tem contato com as outras competidoras, e não enxerga diferenças entre homens e mulheres na hora da corrida. "Não, para mim é o mesmo, somos todos participantes no Dakar", explica. "No final de uma corrida complicada assim, cada um é rival de si mesmo porque se trata de não fazer erros. Se você não fizer erros, estará na frente e seguro".

Seguindo essa receita, Laia tem conquistado excelentes resultados no Dakar em 2015. Logo no primeiro dia de competição das 164 motos, terminou como 16ª colocada; no quarto dia, já repetiu aquele que era seu melhor resultado em uma etapa, um oitavo lugar; e, com a quinta posição desta segunda-feira e a melhor de sua carreira, Laia está agora em nono na classificação geral, e próxima de fazer o melhor Dakar de sua carreira. É só manter os pés no chão e não cometer erros, como ela mesma diria.

UOL Esporte

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