Novato em Libertadores, Emerson assume direção por sonho corintiano

Emerson sorri no comando de carro corintiano: expedição por Libertadores começa na Venezuela. Foto: Edson Lopes Jr/Terra

Emerson sorri no comando de carro corintiano: expedição por Libertadores começa na Venezuela

Emerson tem 33 anos, três títulos brasileiros consecutivos e experiência em jogos internacionais. Mas, a exemplo do Corinthians, a Copa Libertadores da América é algo novo, desafiador e de algumas memórias ruins para ele, dispensado do Fluminense horas antes de partida decisiva pelo torneio. Em casa no Parque São Jorge, o Sheik, como é conhecido, vê o grupo pronto para buscar a conquista inédita. Libertadores é o tema desta entrevista exclusiva ao Terra.

Confirmado para a equipe titular do Corinthians que encara o Deportivo Táchira às 21h50 (de Brasília) da próxima quarta-feira, na Venezuela, Emerson tem também a chance de buscar as primeiras alegrias quando o assunto é Libertadores. No Flu-2011, perdeu as três primeiras partidas por lesão, jogou as duas seguintes e foi dispensado por indisciplina horas antes de enfrentar o Argentino Juniors, em Buenos Aires.

O polêmico e franco Emerson fala sem filtros sobre a dispensa do Fluminense e volta a criticar os dirigentes. Se emociona ao comentar a relação com Tite, admite grandes dificuldades na chegada ao Corinthians e detalha a emoção por mais um título brasileiro. "O que aconteceu (em 2011) serve de lição. A gente aprende e o grupo está mais maduro".

Confira a entrevista exclusiva de Emerson na íntegra:
Terra - O que você já sentiu do que é a Libertadores para o Corinthians, desse ambiente, da expectativa de jogar e ganhar a competição?
Emerson - Tem a parte que é nossa, de dentro do clube, da diretoria, da comissão e dos atletas. É de tranquilidade e de saber das dificuldades da Libertadores e do sonho em conquistá-la. O lado de fora do torcedor é de cobrança e é natural porque não tem esse título e o Corinthians tem uma história bonita. É normal que cobrem, mas aqui estamos tranquilos, concentrados, focados e treinados para jogar bem e vencer os jogos.

Terra - O que houve de evolução no elenco desse ano com a chegada de reforços?
Emerson - A diretoria manteve praticamente todo o grupo e saíram só três jogadores. Isso demonstra a ânsia deles. É o início de trabalho. É ter calma, estamos treinando há um mês. Você é campeão, tem férias e volta para o Estadual, que é diferente de um Brasileiro, que exige mais, em que a competitividade é maior. Mas sempre focado, buscando alcançar e em voltar a jogar bem como é o Corinthians.

Terra - Você só jogou a edição 2011, e rapidamente, na Libertadores. A competição também é diferente para você?
Emerson - Pelo Fluminense foi curto mesmo, não foi legal e não tenho boas lembranças (risos). É uma competição diferente, mas joguei 12 anos fora do Brasil e estou acostumado a jogos internacionais, difíceis e acredito que eu não possa ter grandes dificuldades. O Corinthians sim, porque vamos enfrentar grandes clubes. Coletivamente podemos (ter dificuldades), mas eu em particular não acredito.

Emerson foi dispensado pelo Fluminense no dia da última partida da fase de grupos, contra o Argentinos Juniors, por desavenças com o presidente Peter Siemsen. A gota d'água para o fim do relacionamento, que não era bom, teria se dado quando o jogador cantou música do rival Flamengo no ônibus do Flu

Terra - O Corinthians de 2011 teve alguns vacilos e, para muitos, poderia ter vencido o Brasileiro com menos dificuldades. O Tite costumava citar esses momentos como importantes na formação da equipe. Na sua opinião, a Libertadores tolera menos erros?
Emerson - Sobre perder pontos que pareciam fáceis, o Corinthians perdeu, o Vasco, São Paulo, Flamengo, Fluminense, todos perderam. Isso mostra a dificuldade do Brasileiro. Mas na Libertadores é difícil sair atrás no placar, reverter e fazer dois gols de diferença. Serve de lição, a gente aprende, o grupo hoje está mais maduro e na Libertadores isso será bom.

Terra - Você é o jogador aparentemente mais amigo do Adriano. Como tem sentido ele nesses dias que antecedem a Libertadores?
Emerson - Tem a parte que cabe ao preparador físico, ao treinador e não cabe ao atleta e amigo. Nessa área é difícil de falar. Como amigo aqui no clube, ele está super tranquilo, disposto a poder atender o que a comissão técnica vem pedindo a ele. Está aí concentradinho para perder esses quilinhos a mais e a gente como amigo dá a maior força possível.

Terra - Muito se falou no fim de 2011 sobre o Tite ter o grupo de jogadores na mão. Por que ele tem esse respaldo?
Emerson - Falar do Tite (Emerson respira fundo)... você não escolheu a pessoa certa, não. É difícil falar dele. É um cara muito correto, polido, honesto, e para falar dessas pessoas é complicado. Acho que é exatamente por isso, por ser correto, honesto, justo, trata todos com igualdade. Sei lá, são tantas qualidades que talvez eu me esqueça de um monte (o jogador parece se emocionar). Ele é uma pessoa muito querida e temos um carinho e respeito com ele por tudo isso, pelo dia a dia, pelos ensinamentos. Ser honesto e justo faz você ter admiração.

Terra - Motivação é algo natural, ninguém se motiva mais ou menos só porque quer. Foi um assunto discutido depois do seu gol contra o Linense e houve a crítica do Tite. Mas você acha que a Libertadores vai trazer outra motivação em relação ao Paulista, fazer a equipe jogar de outra forma, com mais intensidade?
Emerson - Não teve nada a ver com o gol o que o Tite falou na coletiva. Ele falou em um contexto geral e falaram só do gol porque agradeci a Deus, enfim... os jogos da Libertadores são difíceis e no Paulista tem que vibrar mais. Não só eu como os outros estamos de acordo com o Tite porque a motivação maior é vestir a camisa do Corinthians, representar 30 milhões de torcedores. Que motivação mais a gente precisa para correr, jogar bem, se dedicar? Não vejo mais motivação do que vestir a camisa do Corinthians.

Terra - Como você tem visto os problemas de atraso de salário do Flamengo?
Emerson - Tive passagens pelo Flamengo e pelo Fluminense antes do Corinthians. No Flamengo fiz muitos amigos, até hoje falo com um monte deles e o clube tem dificuldade em honrar isso. Hoje é complicado falar, já faz parte do passado, mas para não criar polêmica, dizerem que o Emerson falou... é complicado falar, mas o clube mostra dificuldade em honrar a folha salarial dos atletas, mas não tenho a ver com isso. Sou grato ao Flamengo porque me abriu as portas para poder jogar, fui campeão carioca, brasileiro e devo muito. Deixei muitos amigos.

Terra - Você teve salários atrasados no Fluminense?
Emerson - Não tenho queixa do Fluminense sobre atraso de salário. Nunca atrasou e já recebi até antes do dia marcado. A patrocinadora do clube (Unimed) é responsável por 90% da folha e sempre honrou e honra há mais de 13 anos. Nada para falar. É um clube que deixei amigos. Cada um com seus problemas, mas são dois clubes que tenho boas lembranças.

Terra - Se passou quase um ano desde a sua saída do Fluminense, que foi conturbada. Como vê isso que aconteceu tempos depois?
Emerson - A minha opinião não vai mudar depois de um ano ou 10 ou 20. Só falei a verdade e a verdade não muda nunca. Hoje, daqui a 20, 30 ou 100 anos será a mesma. Não fiz nada para ser mandado embora. Tinha acabado de fazer um gol importante (do título brasileiro), tinha respeito de todos e a torcida gostava. O presidente (Peter Siemsen) foi muito infeliz com a atitude que teve comigo. O vice (Mário Bittencourt) foi infeliz com a reunião na Argentina.

O ex-vice de futebol Mário Bittencourt foi o responsável, junto a Peter, por dispensar Emerson do Fluminense na Argentina

Terra - Como foi a transição do Alcides Antunes para o Mário?
Emerson - O Alcides foi um vice queridíssimo e a bagunça toda aconteceu por causa do Mário Bittencourt. O Alcides levou o Fluminense muito tempo, com uma gestão maravilhosa e até hoje falo desse exemplo. O presidente (Peter Siemsen) foi muito infeliz, talvez por não ter experiência no futebol, que não é a área dele.

Terra - Isso prejudicou sua história no clube?
Emerson - O Fluminense já passou na minha vida e não vou passar nunca na do Fluminense. Mesmo ele (presidente) ou alguém querendo. Tem coisas que não se apagam. A minha passagem pelo Fluminense ninguém apaga.

Terra - Você teve outras ofertas, inclusive do Vasco. Por que optou pelo Corinthians e por sair do Rio de Janeiro?
Emerson - Quando saí do Fluminense, meu empresário e eu estudamos as propostas sobre qual seria o melhor clube. Tinha alguns interessados e não queríamos errar. Não olhamos a parte financeira. Nós queríamos um clube que tivesse o projeto de ser campeão brasileiro, de jogar a Libertadores e o sonho de chegar ao Mundial. Por isso o Corinthians.

Terra - Qual o momento mais difícil ou triste desde a chegada ao Corinthians?
Emerson - Quando cheguei aqui, não tive tempo de treinar, fiquei parado 35 dias. E o Tite precisou de um atacante para o banco e já fui para o Rio jogar contra o Flamengo. Tive que participar dos jogos seguintes porque faltava atacante, entrei e não fui tão bem. Teve a cobrança e fiquei triste, porque no Flamengo e no Fluminense não tive desconfiança do torcedor. Não sei se diretoria ou comissão também. Foi um mês complicado, eu não tinha casa, morava em hotel. Saí do confronto do Rio de Janeiro, dos meus filhos e meus amigos. Mas no outro mês já aconteceu de maneira bacana.

Terra - E qual o momento mais feliz, que te marcou, pelo Corinthians?
Emerson - O momento bacana foi contra o Palmeiras (última rodada do Brasileiro). Eu estava lá em cima na arquibancada assistindo com o Ralf (ambos estavam suspensos). Vimos com o presidente (Andrés Sanchez) e em um momento sentimos que o título era nosso. Lembro da gente se olhando, se abraçando. Mesmo fora de campo, foi o momento mais marcante. Foi o resultado de um trabalho, algo como: "nossa, conseguimos".

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