Economista português vê salvação do futebol com teto salarial

Na Europa ou no Brasil, a preocupação por altos salários no futebol é unânime. O medo do fracasso e das derrotas para os principais rivais fazem clubes pagar salários astronômicos às principais estrelas. O resultado aparece no balanço financeiro de grande parte das instituições: dívidas cada vez maiores em uma fase de crise global.

Por isso, o economista português Paulo Mourão, da Universidade do Minho (em Braga), apresentou ideias através de um artigo no Journal of Sports Sciences, entidade responsável por pesquisas esportivas na Europa, sobre a causa dos endividamentos no Velho Continente. Em entrevista, ele colocou que o ponto de partida para combater os desmandos no esporte seria a regulamentação através do tabelamento universal dos salários.

"Jogadores como Cristiano Ronaldo e Messi não vão migrar para o basquete se ganharem 1 ou 2 milhões a menos. Mesmo com o tabelamento, esses atletas continuariam sendo bem pagos", avisa Mourão, que analisou uma inflação excessiva do futebol nas últimas duas décadas, superior do que a maioria das profissões e comparável somente ao ramo da tecnologia, em constante expansão.

O endividamento europeu vem sendo constatado pela própria Uefa. Em janeiro, a entidade controladora do futebol europeu divulgou um balanço das finanças e constatou que o prejuízo das agremiações do Velho Continente aumentou em 36% (cerca de R$ 1 bilhão) em relação ao levantamento do ano anterior.

Os gastos seguem exagerados mesmo com a elevação das receitas em 6,6%. As dívidas totais das equipes alcançaram o patamar de R$ 21,1 bilhões. "Quanto mais os principais jogares ganham, mais o mercado é inflacionado", completa Paulo Mourão.

As regras salariais são registradas no basquete, na competitiva NBA, a liga americana. Os times devem ficar dentro de patamares mínimos e máximos do teto estabelecidos pelos dirigentes. Aqueles que superam o valor definido são obrigados a pagar uma multa por cada dólar excedente.

No futebol brasileiro, a discussão é antiga sobre a diferença salarial. Diversos levantamentos mostram que a esmagadora maioria dos jogadores recebe apenas entre um e dois salários mínimos, ou seja, a riqueza está concentrada na mão de poucos. As regras salarias de Paulo Mourão também incluiriam os menos favorecidos.

Entretanto, a ideia de tabelamento só poderia vingar se todos os campeonatos europeus - e até mundiais - seguissem à risca. "Se somente alguns implantarem, aquele país que fizer o tabelamento sairá prejudicado na concorrência. A regra teria de ser controlada pela Uefa ou até pela Fifa", diz Paulo Mourão.

Mesmo com a regulamentação, o economista reconhece que as diferenças vão continuar. Portanto, Paulo Mourão crê que os clubes mais fortes deveriam disputar somente ligas intercontinentais, situação que acabaria com disputas previsíveis, registradas, por exemplo, no Campeonato Espanhol em que Barcelona e Real Madrid normalmente disparam na classificação sem dificuldades. Enquanto isso, as agremiações de regiões menos favorecidas teriam espaço para disputar competições maiores.

No Brasil, há uma discussão semelhante em relação à falta de empolgação dos torcedores com competições regionais. Nas últimas edições, o Campeonato Paulista apresentou uma longa fase de classificação - com 19 rodadas - até alcançar a etapa decisiva. O resultado: os times como Corinthians e Santos pouparam seus principais atletas para a Libertadores da América e, ainda assim, estiveram na semifinal do Estadual.

"As equipes poderiam atuar em conferências. Uma delas poderia ser a Conferência Ibérica, com os melhores times da Espanha e Portugal. Os jogos seriam mais atrativos e chamariam uma quantidade maior de público, que querem ver partidas competitivas", pondera Paulo Mourão.

Outra preocupação do português estaria na regulamentação da formação dos atletas, com regras para evitar que os melhores jogadores das categorias de bases fiquem apenas nos clubes grandes. No Brasil, a lei permite a assinatura de contrato a partir dos 16 anos, portanto alguns adolescentes já ganham respeitáveis salários para ficarem presos às equipes tradicionais.

Terra

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