Brasil lidera venda de jogadores ao exterior em 2010

Hernanes participa da vitória da Lazio sobre o Cesena. Foto: AP

Hernanes trocou São Paulo pela Lazio e foi um dos atletas "exportados" em 2010

Apesar da carência de grandes craques e dos fracassos nas últimas Copas do Mundo, o Brasil ainda se mantém como o maior exportador de jogadores de futebol do mundo. E com larga vantagem. Só no ano passado, o País vendeu 283 atletas para 58 ligas ao redor do planeta.

Os dados constam no Relatório Global sobre Migração de Jogadores, realizado pelo Centro Internacional de Estudos do Esporte (CIES), entidade suíça criada em parceria pela Fifa e a Universidade de Nêuchatel.

O estudo, que será divulgado oficialmente na semana que vem e foi antecipado com exclusividade ao Terra, reuniu dados de todas as transações realizadas em 101 ligas de primeira e segunda divisões em 69 países durante o ano de 2010.

De acordo com o relatório, o Brasil continua sendo o celeiro do futebol, à frente da Argentina, com 215 exportações, e Sérvia, com 150.

O clube brasileiro que mais vendou atletas para o mercado estrangeiro no período foi o Atlético-MG, com dez transações, seguido por Atlético-PR e Botafogo, com oito cada. Considerando apenas os clubes de primeira divisão, a idade média dos brasileiros que vão tentar a sorte no exterior é de 24,5 anos.

Segundo o estudo do CIES, a rota de comércio mais movimentada no mundo do futebol está entre Brasil e Portugal. Só no ano passado, foram 95 transações entre os dois países. O que pode explicar, em parte, o número reduzido de grandes estrelas brasileiras nas principais ligas europeias no momento, em comparação com a década de 1990 e início dos anos 2000.

O Brasil trata os jogadores como verdadeiras mercadorias. Os atletas têm boa imagem, elevado valor de mercado e grande formação. No entanto, muitos estão sendo transferidos precocemente para Portugal, Coreia, Japão, Romênia e Ucrânia, demonstrando preocupação maior em exportar mão de obra em quantidade e não em qualidade.

"Isso provavelmente acontece devido a grande especulação em cima dos jovens talentos. Especialmente pelos investidores, pelos empresários que estão pensando mais em uma perspectiva de ganho a curto-prazo, o que não é o melhor para os jogadores", relata Raffaele Poli, pesquisador associado do CIES e responsável pelo estudo.

Segundo o professor da Universidade de Lausanne, as transferências para centros futebolísticos menos desenvolvidos, como Portugal, atrapalham a formação do atleta e, raramente, resultam em um upgrade na carreira.

"Isso pode acontecer, como nos casos do Ramires ou do David Luiz, que entraram no mercado europeu por Portugal e hoje estão na Premier League inglesa. Mas não se esqueça que esses são dois casos entre 95 jogadores que foram vendidos para Portugal. Para a imensa maioria, poderia ter sido melhor ficar um pouco mais no Brasil, ou em outros mercados onde a especulação sobre o futebol é menor", diz.

O pesquisador ainda ressalta que "talento não se desenvolve sozinho. Ele depende do contexto em que está inserido. E não se pode negar que alguns clubes portugueses são bastante especuladores e isso atrapalha o desenvolvimento de uma carreira. Às vezes, o jogador simplesmente não é bom o bastante, mas em muitos casos ele não recebe as condições necessárias para poder crescer profissionalmente e aprimorar sua performance".

Poli cita ainda o crescente número de brasileiros nas ligas europeias como exemplo da venda indiscriminada de jogadores. Em 2009, eram 493 atletas formados nos campos do País atuando no Velho Continente. No ano seguinte, esse total saltou para 577, crescimento de 17%.

"É bom lembrar que a tendência também acontece em outros países, como na Argentina. E isso, é claro, não quer dizer que grandes estrelas brasileiras venham a surgir no futuro, como Neymar ou Ganso. Mas, se eles tivessem sido transferidos imediatamente para um time qualquer na Europa ou na Ásia, em que o talento deles não pudesse ser aprimorado, isso seria um problema", finaliza.

Por outro lado, o levantamento do CIES mostra também que o Brasil foi o país líder em repatriações no ano passado. No geral, 135 jogadores fizeram o caminho de volta para atuar em equipes de primeira ou segunda divisão. O Flamengo foi o líder do movimento, com dez atletas repatriados, seguido por Internacional, com oito, e Vasco e Guarani, com sete cada.

A tendência pode ser explicada por vários fatores. Entre eles, a vontade dos atletas de encerrar a carreira no país de origem e o bom momento da economia local, que permite aos clubes oferecerem salários próximos e, em casos extremos, até mais vantajosos do que os disponíveis em clubes do exterior. Além do desejo de ser convocado para a Seleção Brasileira de Mano Menezes e atuar na Copa do Mundo de 2014.

Entretanto, é fato que a primeira divisão brasileira continua sendo refugo de grandes estrelas. Enquanto na Itália a idade média dos jogadores importados é de 22,8 anos, no Brasil essa média sobe para 29 anos, a mais elevada entre todos os países pesquisados.

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