Brasileiros tentarão ir de carro de Pequim a Londres para os Jogos

Brasileiros passarão por 25 países em 57 dias de viagem. Foto: Fernanda Morena/BBC Brasil

Brasileiros passarão por 25 países em 57 dias de viagem

Um grupo de amigos brasileiros que vivem na China põe o pé na estrada nesta semana para uma aventura de quase dois meses cruzando mais de 20 mil quilômetros entre Pequim e Londres. Tudo em nome do espírito olímpico.

Após acompanharem com entusiasmo os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, eles decidiram repetir a dose neste ano, em Londres. Mas em lugar de viajar à capital britânica de avião, eles estarão a bordo de um Santana 2005 em uma viagem que deverá passar por 25 países em 57 dias.

A saída dos três amigos está prevista para o sábado, dia 2 de junho, de Pequim. "Nosso objetivo é ver a abertura dos Jogos em Londres, pois nós três estávamos em Pequim em 2008 e a experiência foi muito interessante", conta Richard Amante, escritor de 34 anos.

A ideia da Expedição Olímpica partiu de Edgar Scherer, um engenheiro de 30 anos que chegou até mesmo a participar de um programa de namoro na televisão chinesa.

Em 2010, quando surgiu a ideia da viagem, Scherer contava com o interesse de mais cinco amigos. Avaliados os custos da viagem (que giram em torno de US$ 40 diários por pessoa), restaram apenas Amante, Scherer e seu irmão, Paulo Scherer, de 28 anos. "Queremos ver a abertura; mas chegar até o final da viagem já vai ser considerado uma vitória", diz Paulo.

A rota

Saindo de Pequim, os três brasileiros cruzarão a China em direção a Xinjiang, no oeste do país, por onde sairão. "Não quisemos fazer a rota mais curta, pela Rússia, porque é um país grande, mas que não nos permite ver tantas culturas diferentes", comenta Amante.

A solução foi encarar os consulados para conseguir vistos para cruzar Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão, Tadjiquistão, Turcomenistão, Irã e Armênia, seguindo depois pela Geórgia até chegar à Turquia. A Sérvia caiu do roteiro em função da dificuldade de conseguir o visto para o país.

Os viajantes dizem que a quantidade de países é um dos fatores que mais os empolga. Eles acreditam que toda a parte entre China e Turquia será a mais difícil.

"As estradas estão muito ruins, e já nos disseram que poderemos encontrar problemas ao cruzar as fronteiras - teremos de ter sempre um dinheirinho guardado", diz Amante.

Da Turquia, a expedição segue para Grécia, Albânia, Macedônia, Bulgária, Romênia, Hungria, Eslováquia, Áustria, República Tcheca, Polônia, Alemanha, Holanda, Bélgica, França, até chegar ao Reino Unido. Tudo isso dirigindo entre seis e oito horas por dia, numa média de 700 quilômetros diários.

O maior medo é o carro. Adquirido por Edgar em 2010 de um funcionário do governo de Suzhou, o Santana branco da Volkswagen - que tem air bag e "banco de couro mastigado", como diz Edgar - não é a caminhonete 4x4 que eles planejavam ter no começo. O carro se tornou o calcanhar de Aquiles da expedição.

A Embaixada do Cazaquistão também duvidou. "Eles perguntaram quantos dias precisaríamos, pois dariam o visto de acordo. Falamos três, ainda que o nosso plano seja cruzar o país em dois dias, e que iríamos de Santana. Eles deram uma risada e nos deram o visto de uma semana, para garantir", conta Edgar.

A mala

Para cruzar todos esses países, os três viajantes fizeram um acordo: há um máximo de bagagem pessoal que cada um pode levar, além dos equipamentos que serão divididos entre o grupo. "Temos uma caixa de isopor para comida e galões de água, e precisamos levar equipamentos para o carro, como corda e pneus extras", explica Richard.

De roupas, o volume pequeno será compensado pelo uniforme oficial da expedição. O uniforme é constituído de roupas confortáveis e personalizadas com o nome de cada um dos viajantes, além de informações sobre o projeto - mapa, brasão e website (www.pequim-londres.com.br).

Há ainda os equipamentos necessários para encarar a vida a três durante oito horas diárias dentro de um carro. Música, equipamento fotográfico e de vídeo fazem parte da cota universal do veículo. A convivência vai depender, diz Paulo, "de muita piada, parada para descanso e foto, jogatina nos tablets, filmagem e música alta".

Conhecimento também é fundamental. A preparação incluiu até mesmo cursos expressos de mecânica para lidar com possíveis panes motoras.

Expectativas

Ao desenvolver um projeto como esse, a meta é a busca pela diversidade cultural. "Passar por mais de 20 países, conhecer e interagir com diferentes culturas, espalhando um pouco a cultura brasileira e o espírito olímpico é o que mais empolga", diz Paulo. A troca cultural também será feita à mesa. Vivendo na China há mais de quatro anos, os rapazes sabem que nem todo dia se vive de arroz e feijão.

"Não vai ser fácil ter que tomar leite de égua e comer estômago de iaque (espécie de bovino encontrado no Himalaia) ou tomar vinho de arroz, mas será uma experiência única", avalia Edgar. Richard trabalhou como produtor de televisão em Pequim durante os Jogos. Para ele, a Olimpíada foi uma das maiores lembranças profissionais e pessoais de sua vida. "Valeu muito a pena - e isso foi também o que me motivou mais ainda a ir para Londres, porque sei que tudo que gira em torno de uma Olimpíada é algo realmente incrível."

Ainda não está definido o destino do Santana depois de chegar a Londres. A ideia inicial é mandar o carro de volta para Pequim por contêiner. Edgar voltará ao Brasil; Paulo tem retorno marcado para Pequim; e Richard pensa na possibilidade de voltar, com o carro, cruzando desta vez a Rússia. "Se eu encontrar companhia e tiver tempo e dinheiro, por que não?", reflete.

BBC Brasil

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