Há 19 anos, Emerson rompia tradição nas 500 Milhas; relembre

Em segunda vitória em Indianápolis, brasileiro promoveu suco de laranja e irritou torcedores americanos; tradição havia sido iniciada em 1936. Foto: AFP

Em segunda vitória em Indianápolis, brasileiro promoveu suco de laranja e irritou torcedores americanos; tradição havia sido iniciada em 1936

A 77ª edição das 500 Milhas de Indianápolis, disputada em 1993, foi especial para o automobilismo brasileiro, graças à vitória de Emerson Fittipaldi a bordo da Penske. Na comemoração, Emerson inovou e comemorou com uma garrafa de suco de laranja, quebrando o protocolo - que fazia com que os vencedores da prova festejem com uma garrafa de leite - e chocando os fãs da Fórmula Indy.

A novidade não pegou bem entre os americanos, uma vez que a tradição de beber leite na vitória das 500 Milhas de Indianápolis datava de 1936. A justificativa do brasileiro para a troca foi a iniciativa de promover a produção de laranjas do Brasil. Para isso, providenciou ele mesmo uma garrafa de suco, que foi mais tarde trocada pela de leite para que os ânimos se apaziguassem.

Mas a garrafa de suco, por incrível que pareça, ainda existe. Até hoje, ela está guardada nos Estados Unidos, na casa de Rick Rinaman, então chefe dos mecânicos de Emerson Fittipaldi e atualmente encabeçando o departamento na própria equipe Penske. Na ocasião, ele era um dos integrantes que vestiam macacão vermelho e que se abraçavam no pitlane após a vitória do brasileiro.

"Até hoje tenho a garrafa guardada em casa. Minha mulher tentou jogar fora, mas não deixei", contou Rinaman à reportagem do Terra. "Aquilo faz parte do automobilismo mundial. Afinal, no ano que vem, fará 20 anos daquela vitória", relembra o funcionário da Penske.

Na prova do dia 30 de maio de 1993, Emerson largou apenas da nona posição. O holandês Arie Luyendyk fez a pole position, seguido de Mario Andretti e Raul Boesel. O grid de largada daquele ano ainda contava com nomes como Al Unser Jr (quinto), Stefan Johansson (sexto), Paul Tracy (sétimo), Nigel Mansell (oitavo), Scott Brayton (11º), Nelson Piquet (rookie, 13º), Teo Fabi (17º), Jimmy Vasser (19º) e Willy T. Ribbs (30º), dentre outros nomes de destaque no automobilismo mundial.

A lista, porém, ficou sem grandes pilotos que não conseguiram vaga no grid: Bobby Rahal, Scott Pruett, Buddy Lazier e A. J. Foyt, por exemplo, não largaram. Destaque, Emerson só foi ter mesmo a partir da volta 36, quando apareceu em terceiro lugar. No entanto, o principal nome a ser batido na prova chegou à liderança nas voltas finais: Nigel Mansell, então campeão da Fórmula 1, parecia confirmar seu favoritismo.

Na volta 182, Mansell - que estreava em ovais - liderava à frente de Emerson e Luyendyk. O inglês, porém fez uma relargada ruim na volta 184 após o acidente da americana Lyn St. James, e permitiu a aproximação dos rivais. O inglês até tentou uma manobra defensiva por dentro, mas o brasileiro se valeu de sua experiência, achou espaço por fora e passou o ex-piloto da Williams. No embalo, Luyendyk pulou para segundo.

Nas voltas finais, Nigel Mansell tocou o muro e danificou sua suspensão, mas seguiu na prova. Assim, terminou a prova em terceiro lugar, atrás de Fittipaldi e Luyendyk, e se tornou o primeiro novato a terminar as 500 Milhas de Indianápolis desde 1970. Mesmo assim, após a corrida, criticou os dois primeiros colocados, dizendo que ambos não esperaram a bandeira verde do acidente de Lyn St. James para acelerarem.

Depois da corrida, em entrevista concedida ainda na pista, Emerson disse que não tomaria leite para comemorar, conforme tradição iniciada pelo americano Louis Meyer 57 anos antes. Jack Arute, repórter da redeABC na transmissão, pediu para o brasileiro confirmar a informação, e ele confirmou: beberia suco de laranja daquela vez, porque era um produto seu. Na mão esquerde, recebeu a garrafa de suco.

Diante das câmeras, o vencedor da Penske se recusou até mesmo a segurar a garrafa de leite, oferecida a ele repetidas vezes e afastada com a mão direita. Desligadas as câmeras, porém, pegou a garrafa de leite após ser coroado e tomou um gole - mesmo assim, não deixou de ser vaiado pelos torcedores na prova seguinte da Fórmula Indy, no oval de Milwaukee. Posteriormente, pediu desculpas aos torcedores pelo gesto.

A histórica vitória de Emerson Fittipaldi foi apenas a segunda do Brasil nas 500 Milhas de Indianápolis. Ao todo, o País registra outros cinco primeiros lugares, todos com a Penske: Emerson Fittipaldi (1988), Hélio Castroneves (2001, 2002 e 2009) e Gil de Ferran (2003).

Confira o resultado final das 500 Milhas de Indianápolis de 1993:

1. Emerson Fittipaldi (BRA/Penske)
2. Arie Luyendyk (HOL/Chip Ganassi)
3. Nigel Mansell (GBR/Newman-Haas)
4. Raul Boesel (BRA/Dick Simon Racing)
5. Mario Andretti (EUA/Newman-Haas)
6. Scott Brayton (EUA/Dick Simon Racing)
7. Scott Goodyear (CAN/Walker)
8. Al Unser Jr (EUA/Galles)
9. Teo Fabi (ITA/Jim Hall Racing)
10. John Andretti (EUA/AJ Foyt)
11. Stefan Johansson (SUE/Bettenhausen)
12. Al Unser (EUA/King Racing)
13. Jimmy Vasser (EUA/Hayhoe Racing)
14. Kevin Cogan (EUA/Galles)
15. Davy Jones (EUA/Euromotorsport)
16. Eddie Cheever (EUA/Menard)
17. Gary Bettenhausen (EUA/Menard)
18. Hiro Matsushita (JAP/Walker)
19. Stéphan Grégoire (FRA/Formula Project Engineering)
20. Tony Bettenhausen Jr (EUA/Bettenhausen)
21. Willy T. Ribbs (EUA/Walker)
22. Didier Theys (BEL/Hemelgarn)
23. Dominic Dobson (EUA/Burns Racing)
24. Jim Crawford (GBR/King Racing)
25. Lyn St. James (EUA/ Dick Simon Racing)
26. Geoff Brabham (AUS/Menard)

Não completaram:
Robby Gordon (EUA/AJ Foyt)
Roberto Guerrero (COL/King Racing)
Jeff Andretti (EUA/Pagan Racing)
Paul Tracy (CAN/Penske)
Stan Fox (EUA/Hemelgarn)
Nelson Piquet (BRA/Menard)
Danny Sullivan (EUA/Galles)

Terra

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